Imagine que alguém filme uma mesa preparada
para a ceia de Natal: pratos, talheres, copos, taças, jarras, garrafas, guardanapos
e o indefectível peru. A família se reúne, come, bebe, festeja, ri, conversa e
a ceia chega ao fim.
No ano seguinte, a mesma cena. Um ano
depois, idem. E assim por diante, ao longo de 90 anos.
Agora imagine esse filme passado em fast motion. Os noventa anos seriam
reduzidos a mais ou menos trinta e cinco minutos. Esta é a ideia – brilhante –
que teve Thornton Wilder ao escrever em 1931 The Long Christmas Dinner, uma peça de um ato que mostra desde o
primeiro Natal dos Bayards em sua nova casa até o nonagésimo, quando a família,
antes poderosa e influente, já está em seu declínio.
Numa carta escrita em 1960, Thornton
Wilder comenta: “De todas as minhas peças, esta é a que despertou a maior variedade
de reações. Em algumas apresentações, a plateia morreu de rir; em outras, as
pessoas pareceram muito emocionadas; e houve até quem considerasse o texto
cínico e cruel (‘O quê!? Os mortos são esquecidos assim tão rapidamente?’)”
Como os atores nascem, crescem,
envelhecem e morrem no palco, diante da plateia, sem os efeitos especiais, que
naquela época nem existiam? Para assistir à peça na íntegra, acessem o site http://www.britannica.com/biography/Thornton-Wilder/images-videos/This-1976-dramatization-of-Thornton-Wilders-one-act-play-The/128658
The Long Christmas Dinner é uma das favoritas de grupos
amadores por vários motivos: o cenário é de uma pobreza franciscana: uma
simples mesa longa coberta com uma toalha branca. Sete ou oito cadeiras. Pratos,
talheres, copos, taças, jarras, garrafas, guardanapos, peru? Nada disso. Todos
os gestos típicos de uma refeição são realizados por meio de mímica. Num canto
do palco, um portal decorado com flores. No canto oposto, um outro portal,
coberto por um pano preto. Vocês imaginam o que isso significa.
Eu mesmo montei esta peça no Porto
Seguro décadas atrás. Para que a mesa não ficasse tão vazia, combinamos de
fazer uma vaquinha para comprar um peru enorme que, depois da peça, foi doado
aos funcionários da Portaria. O espírito de Natal, jingle bells, essas coisas.
Para terminar, um detalhe curioso: um
aluno, torcedor do Santos, foi no domingo assistir a um Palmeiras e Santos no
Pacaembu. Houve uma briga perto de onde ele estava e sobrou para ele: o rapaz
acabou levando um soco no nariz. Na segunda feira, o menino (perdão, esqueci
seu nome, garoto) apareceu com a cara amassada, um curativo no nariz e a voz
fanhosa. A peça estrearia na quarta-feira, não havia tempo suficiente para
treinar um understudy, um substituto.
Aí eu mesmo entrei em cena. Saiu uma droga, mas eu achei legal.
Em tempo: o Palmeiras ganhou de 4 a
1.
Thornton Wilder
(1897-1975)
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