sábado, 28 de fevereiro de 2015

PENSAMENTOS

1. Interferência: Sou totalmente contra a participação da polícia para dispersar membros de torcidas rivais que promovem verdadeiras guerras campais em dias de jogos. Acho melhor deixá-los livres para que se matem uns aos outros. Dentro de certos limites, é claro. Por outro lado, a força policial poderia ser melhor empregada se fosse enviada para certas faculdades para descer o cacete nos veteranos imbecis que aplicam trotes indecentes nos calouros.

2.   Fé: Todo político é um homem de fé. Em geral, eles agem de má fé.

3.    Bichos: A principal diferença entre o homem e o animal é que bicho não erra. Segue o seu instinto, faz o que a natureza lhe ensinou e fim de papo. Já o homem...pelamor de Deus!

4.   Rir: Ri melhor quem ri com gosto, seja ele o primeiro ou o último a rir
.
5.   Lei: A única lei perfeita e eterna é a lei do mais forte.

6.   Ditadura: Regime em que as pessoas têm a mais irrestrita liberdade de concordar com o ditador.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

FUTEBOL NA ALEMANHA

Fomos – eu, meu genro Oliver e o pai dele, Udo - assistir a um jogo de futebol no estádio. 63 euros cada ingresso. Quem pagou foi o Udo.
Para chegar lá, é pegar uma reta só e parar em qualquer lugar onde haja uma vaga. O Oliver ligou para um amigo que mora perto da arena e pediu para estacionar em frente à casa dele. Aí descemos do carro e caminhamos certa de 400 metros até chegar lá. Há uma praça em frente ao estádio, com um monte de barracas que vendem cerveja e sanduíche de linguiça. Entramos.
Assentos numerados, claro. Há tanta coisa a observar num jogo de futebol que a partida mesmo fica em segundo plano. Para começar, as torcidas. Atrás de um gol, uma torcida barulhenta, que canta sem parar, agitando suas bandeiras. Atrás do outro gol, a torcida adversária, fazendo a mesma coisa. No meio, em ambos os lados do campo, torcedores dos dois times, todos misturados, com gorros e cachecóis de cores diferentes.
Aí entram mocinhas marchando pelo túnel que dá acesso ao vestiário, formando um corredor por onde passarão os jogadores ao ‘adentrar o terreno’. Antes, porém, uma banda de meninos, saindo de uma lateral, entra em campo tocando seus instrumentos e agitando bandeiras.
Depois, um bode marombado - bode alemão, lógico – que é o símbolo do time, é trazido para a beira do campo e várias autoridades tiram selfies com o bicho. Só faltou eles entrevistarem o bode.
Sãos anunciadas as escalações dos dois times. No time da casa, o Köln FC, o narrador dá o primeiro nome do jogador e o estádio todo – ou quase todo – completa com o sobrenome do jogador. É claro que eles não fazem isso com o time visitante, o Sttutgart.
Depois disso, o narrador anuncia que um antigo jogador do time faleceu. Todos, sem exceção, se levantam e, em vez de fazer um minuto de silêncio, batem palmas para o falecido durante um minuto, sem um segundo a mais ou a menos. Aí toca o hino do time, que toda a torcida sabe de cor.
Pronto. Vai começar a partida. A temperatura lá podia ser definida tecnicamente como puta frio. Zero grau de temperatura. Mesmo assim, os caras não param de tomar cerveja, - nem nós - em copázios (!) de plástico, pois é proibido entrar no estádio com latas ou garrafas. A cerveja é servida por um funcionário que carrega uma espécie de barril nas costas e uma mangueira na mão (no bom sentido). Um sujeito, sentado à minha frente, comprou um copo, deu uma bicada, levantou-se e deixou o copo sobre o assento. Voltou cinco ou seis minutos depois, e copo permanecia ali, intocável.
Quanto ao jogo, foi uma merda: 0 a 0.


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

ALEMANHA (MAIS UM POUCO)


Hoje vou falar do Bubsko. Tem três anos, usa fralda e é bilíngue. Tudo bem. Mas mente com o maior descaramento:
- Bubsko, você fez cocô?
- Não.
- Fez, sim. Estou sentindo um cheirão.
- Não, não fez.
- Então, quem fez?
- Você.
- Vovô fez cocô?!
- Fez.
O nome verdadeiro dele é Frederick, mas nunca ouvi ninguém chamá-lo assim. E por que não? Basta olhar para o garoto para constatar que ninguém tem mais cara de Bubsko do que ele.
Um dia achei, entre seus brinquedos, um saco plástico cheio de letras coloridas feitas de feltro.
Eu espalhei umas dez ou doze letras sobre o sofá e entreguei a ele uma letra qualquer, pedindo para ele colocar em cima de uma letra igual. Cada vez que ele acertava eu levantava os braços espalhafatosamente, gritava êêêê e passava a mão em seu rosto. Isso, caso meus parcos leitores não saibam, chama-se teoria do reforço.)
(Note-se que eu não gritava uau, porque uau não é uma interjeição brasileira. Note-se também que as letras tinham cores diferentes, ou seja, havia As vermelhos, amarelos, azuis etc. Digo isso só para mostrar que gênio meu neto é, modéstia à parte.)
But I digress, como diria qualquer inglês enrolador.
Depois de lhe entregar umas vinte letras e ele acertar quase todas, a brincadeira começou a encher e aí ele não pegava mais as letras. Simplesmente apontava onde eu deveria colocá-las. Aí então ele gritava êêêê, levantava os bracinhos e passava a mão no meu rosto.

Perdão, amigos, as lágrimas me impedem de continuar.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

ALEMANHA (AINDA)

Esta me foi contada por Frau Herder*.
Frau Müller* é uma simpática velhinha que, viúva, mora sozinha num apartamento em Marienburg. Seus dois filhos há muito se mudaram da cidade.
Toda sexta-feira, Herr Straube*, o padeiro, leva dez pãezinhos especiais de que Frau Müller tanto gosta.
Numa certa sexta-feira, por volta das cinco da tarde, Herr Straube, como sempre, estacionou sua van na porta do prédio e tocou o interfone para avisar que tinha chegado. Depois de vários minutos a velhinha, que mora no segundo andar, desceu até a calçada com uma nota de cem euros.
“A senhora não tem mais trocado? ele disse. “Eu não tenho...”
“Um momento, eu vou ver.” E lá se foi Frau Müller de volta para o prédio, que não tem elevador.
O padeiro, sabendo que Frau Müller iria demorar um século para voltar, entrou na van e avançou alguns metros para entregar o pão para a próxima freguesa.
Nisso apareceu a velhinha com uma bolsinha de moedas na mão. Vendo que a van não estava mais estacionada na frente do prédio, achou que o padeiro tinha ido embora. E resolveu ela própria ir até o supermercado, que fica a algumas quadras dali, para comprar alguns Brötchen comuns.
Aí o padeiro deu ré e voltou ao prédio e espera, que espera, e nada da Frau Müller voltar. Preocupado, ele interfonou para uma vizinha.
“Eu estou esperando Frau Müller há 22 minutos. Ela está demorando muito. A senhora pode ver se está tudo bem com ela?”
“Vou ver. Péra aí.”
Dali a instantes ela liga o interfone de novo.
“Estou tocando a campainha, mas ninguém atende. O apartamento está em completo silêncio.”
“E agora? A senhora não tem a chave da porta dela?”
“Não. Será que aconteceu alguma coisa?”
“Eu acho melhor chamar a polícia.”
“Espere. Eu vou telefonar para Frau Herder*. Ela morou aqui durante vários anos e era muito amiga da Frau Müller. Talvez ela ainda tenha uma chave extra.”
Frau Herder não tinha uma chave extra, e achou melhor ir até lá para ver se podia, de alguma forma, ajudar. Já que não podia, não houve outro jeito senão chamar a polícia.
Em minutos apareceram três carros de polícia e o corpo de bombeiros, fechando totalmente o trânsito na rua.
Dois bombeiros resolveram subir até o segundo andar e entrar no apartamento pela janela. Impossível. Conhece janela alemã? Vidro duplo, esquadrias de aço temperado, do tipo usado em tanques de guerra – mais difícil de abrir que saquinho de nachos.
Os bombeiros decidiram então arrebentar o vidro. Se a velha estivesse desfalecida perto da janela, ela certamente iria se ferir com os estilhaços. Paciência.
Mas felizmente ela não estava lá.
“Ué, que negócio é esse?” 
Nisso dobra a esquina a velhinha carregando um saco de pãezinhos. Ao dar de cara com aquele movimento todo, assustou-se.
Mein Gott!” ela exclamou. “O que será que aconteceu?”
Quando o padeiro viu a velhinha ficou furioso.
“Onde diabo a senhora se meteu, Frau Müller?”
“Eu fui comprar pão!”
“Mas como, se sou eu que forneço pão para a senhora há anos?”
“Mas eu não vi sua van aqui e pensei que o senhor tinha ido embora.”
“Eu só adiantei a van até a vizinha do 31 enquanto esperava a senhora! Ach! E agora, o que eu faço com os pães?”
“Mas eu já comprei!”
“Pode deixar,” disse Frau Herder. “Eu compro os pães.” Doze euros.
Aí um bombeiro se aproximou para dar a má notícia.
Frau Herder não desgrudava da velhinha, caso ela desmaiasse.
“Fique calma, Frau Müller, os bombeiros precisaram entrar pela janela e danificaram um pouco os vidros...”
A velha tremeu e disse, resoluta:
“Quero ver.”
Subiram Frau Herder, dois bombeiros e um policial. Ao ver o estrago, Frau Müller quase teve um treco. Apoiou-se na cristaleira e começou a suar.
“A senhora está bem, Frau Müller?” perguntou Frau Herder. “Se precisar, a gente leva a senhora para um hospital.”
“Estou bem, danke. Como eu vou dormir sem janela, nesse frio?” ela perguntou, num fio de voz.
“Não se preocupe, minha senhora.” disse um dos bombeiros. “Nós vamos providenciar uns tapumes até amanhã, e aí a senhora providencia o conserto.”
“E quem vai pagar o concerto?” o tom de voz subiu um pouco.
“Bem, nós é que não vamos pagar, minha senhora. Afinal, a gente foi chamado aqui e só entramos para salvar a senhora.”
“Mas eu só fui ao mercado!”
“Pois é, mas...”
“Agora eu acho que preciso ir para o hospital.”
Em tempo, Frau Herder é minha filha e mora na Alemanha há uns quinze anos.
*Nomes fictícios.




terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

ALEMANHA (CONT.)

 Em cada ponto de ônibus, há uma placa (estranhamente, nunca pichada) com os horários. Assim, por exemplo:
- de segunda a sexta: 7h – 7,13; 7,19; 7,45; 7,58
                                    8h – 8.2; 8,13; 8,44; 8,56
Aí o ônibus chega. Rigorosamente dentro do horário. Como é possível? Com trânsito ou sem trânsito, o motorista segue, impávido colosso. Ainda que não haja ninguém no ponto, ou que nenhum passageiro aperte o botão para descer, ele assim mesmo para no ponto e espera alguns segundos. 
Cada veículo tem uma plataforma móvel, que se abaixa se o passageiro é idoso ou uma mãe com o carrinho de bebê.
Você entra e se dirige a uma máquina escrita em quatro línguas (alemão, inglês, turco e francês) com vários botões: viagens curtas, longas, dia inteiro etc.). Você escolhe quanto quer pagar ou então, decide arriscar e não comprar o bilhete. O motorista não dá a menor bola. Para ele, tanto faz como tanto fez. Agora, se entrar um fiscal e você não apresentar o bilhete, vai pagar uma multa gigante no ato, e vai ter de descer do ônibus sob os olhares reprovadores dos demais passageiros, que são os que efetivamente sustentam o sistema de transporte.  “Ach,” eles exclamarão baixinho. Um vexame inesquecível, dizem.
Último detalhe: uma vez que passa praticamente um ônibus atrás do outro, eles estão sempre vazios, de modo que ninguém viaja em pé.
Mais uma coisinha: no inverno, o motorista aciona o aquecedor. Lá dentro é sempre quentinho.

Em resumo: inteligente, pontual e confortável. Só não é barato: uma viagem ‘longa’ - de ponto inicial a ponto final, coisa de 10, 15 minutos - custa 2,80 euros. Façam as contas.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

ALEMANHA (cont.)

A língua alemã é repleta de palavras dotadas de ímãs. Elas se grudam uma nas outras, formando vocábulos longuíssimos, que Mark Twain certa vez chamou de trenzinhos de letras. Como o acento tônico recai normalmente na terceira sílaba (da esquerda para a direita), o resultado é que muitas dessas palavras são proproproproparoxítonas. Quando estou na estrada, de carona no carro do meu genro, a 130, 140 quilómetros por hora, muitas vezes não consigo ler as placas, o que não faz a menor diferença, reconheço.

E, não obstante tudo isso, o Bubsko brinca comigo em português e com o outro avô em alemão! Três anos! Ainda usa fralda, caramba! Aposto que se a faxineira turca que dá um trato na casa duas vezes por semana começasse a falar com o garoto em turco, logo se entenderia com ele. É humilhante. 

sábado, 21 de fevereiro de 2015

PENSAMENTOS

1.   Apelidos: O que melhor a define e retrata é Pinóquia.
2.   Confusão: Pode-se chamar um cara de atrapalhado quando ele tem que explicar suas próprias explicações.
3.   Manchete: “Brasileiro descobre ancestral do tiranossauro rex”. Eu sempre desconfiei que a gente era descendente do dinossauro.
4.   Estilo trator: Perdão, Ministro, eu não pedi a sua opinião. Quando eu quiser a sua opinião, pode deixar que eu vou dá-la ao senhor.
5.   Diálogo no altar:       
- Pode beijar a noiva.
- Posso? Eu não sou casado com ela.
6.   Experiência: Oscar Wilde disse que experiência é o nome que damos aos nossos erros. E é verdade. Eu, por exemplo, sou muito experiente.
7.   Sucesso: Se um cara não tem nem o primeiro grau completo, ele precisa ser bem esperto para vencer na vida.
8.   Patriotismo: É de Samuel Jonhson a afirmação de que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas. Realmente, Stalin, Hitler, Medici, Papa Doc, Idi Amin, Fidel Castro, Pinochet, Videla, Mao Tse Tung, Pol Pot etc. etc. etc. etc. foram todos patriotas de carteirinha.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

1.   O grande problema da Alemanha é que eles falam uma língua que eu não entendo. Tirando isso, que país magnifico! Eu não me canso de me espantar com as coisas de lá. Por exemplo, a Secretaria de Limpeza Pública tem um serviço secreto, que, por ser secreto, obviamente ninguém vê. Mas, de alguma misteriosa forma, as ruas e calçadas estão sempre impecavelmente limpas. Nenhum papel de bala, nenhuma embalagem de plástico, nada. Um dia, eu vi uma garrafa de cerveja sobre o muro de uma casa. Mas era carnaval.

2.   E os parques, então? O Südpark, que fica perto da escolinha do Bubsko, é frequentado por uma porção de gente, muitas das quais com seus cachorros. Esses cães são um capítulo à parte. Primeiro, se você quer ter um desses animais, ele precisa ser treinado e receber uma espécie de ‘certificado de conclusão de curso de treinamento’. Esses bichos andam no parque sem estar presos à correia e passam por você sem sequer olhar. Passam direto. Não latem, não avançam, não balançam o rabo, não fazem cocô. Nada. Curiosamente, vi toda espécie de cachorro, de tudo quanto é raça, menos, believe it or not, pastor alemão – aliás, meu preferido. Por hoje é só.
IMPRESSÕES IMPRESSIONANTES DA ALEMANHA

1.   Tempo (time) e tempo (weather): Fiquei na casa de minha filha, seu marido e meus três netos por três semanas. Nos primeiros dias nevou – uma neve fininha mas insistente. Numa dessas manhãs, levei meu caçula de três anos para o kindergarten, pisando num tapete finamente branco. Temperatura: 3 ou 4 graus. Ele, no carrinho, agarrado ao seu Fuffi, um travesseirinho que ele batizou com esse nome. Eu, estourando de orgulho. Explico: ter netos já é um privilégio. Cinco, então, nem se fala. Levar um deles à escola é maravilhoso. Debaixo de neve e atravessando um parque – não há dinheiro que compre essa experiência. Para o resto, como vocês sabem, há cartões de crédito e débito. Chega por hoje.