Seu Geraldo
O Ayrton Lanfredi nasceu em Monte Alto, uma biboca de 40.000
habitantes a cerca de 350 km de São Paulo, na região de Ribeirão Preto. Ela
adora aquela cidade. Metade das ruas se chama Lanfredi; a outra metade repousa
no cemitério.
O Ayrton tem alguns imóveis na cidade, entre os quais uma
chácara na chamada Zona Industrial. Durante vários anos, ele me levava lá para
passar alguns dias.
A chácara compreende uma casa, um monte de bananeiras,
limões, laranjas, carambolas, mangas, milho, mandioca e hortaliças de várias
espécies.
Em frente à casa, ele mandou construir uma capelinha.
Seu Geraldo é uma espécie de caseiro. Homem alto, magro, um
pouco doentio – me parecia – e analfabeto de carteirinha. Não sabe sequer o que
está escrito na bandeira.
O Ayrton me chama de Jelin e o Seu Geraldo de Seu Angelim.
É um homem calmo, pacato e silencioso. Homem de poucas
palavras. Em toda a sua vida no campo, não aprendeu a fazer nada, senão a roçar
a capim.
Mora numa casinha na periferia de Monte Alto, junto com a
filha, o genro, duas netas e um cachorro. Todo mês, eu ia com o Ayrton levar uma
cesta básica para a família.
Seu Geraldo andava meio aperreado. É que em frente à sua
casa instalaram uma igreja evangélica e o pessoal vivia insistindo para que ele
se juntasse à congregação.
- Não vou, não, respondeu ele várias vezes. Cês grita muito.
Pra falar com Deus não precisa gritar.
Sábio, esse Seu Geraldo.
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