quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Seu Geraldo


Seu Geraldo

O Ayrton Lanfredi nasceu em Monte Alto, uma biboca de 40.000 habitantes a cerca de 350 km de São Paulo, na região de Ribeirão Preto. Ela adora aquela cidade. Metade das ruas se chama Lanfredi; a outra metade repousa no cemitério.

O Ayrton tem alguns imóveis na cidade, entre os quais uma chácara na chamada Zona Industrial. Durante vários anos, ele me levava lá para passar alguns dias.

A chácara compreende uma casa, um monte de bananeiras, limões, laranjas, carambolas, mangas, milho, mandioca e hortaliças de várias espécies.

Em frente à casa, ele mandou construir uma capelinha.

Seu Geraldo é uma espécie de caseiro. Homem alto, magro, um pouco doentio – me parecia – e analfabeto de carteirinha. Não sabe sequer o que está escrito na bandeira.

O Ayrton me chama de Jelin e o Seu Geraldo de Seu Angelim.

É um homem calmo, pacato e silencioso. Homem de poucas palavras. Em toda a sua vida no campo, não aprendeu a fazer nada, senão a roçar a capim.  

Mora numa casinha na periferia de Monte Alto, junto com a filha, o genro, duas netas e um cachorro. Todo mês, eu ia com o Ayrton levar uma cesta básica para a família.

Seu Geraldo andava meio aperreado. É que em frente à sua casa instalaram uma igreja evangélica e o pessoal vivia insistindo para que ele se juntasse à congregação.

- Não vou, não, respondeu ele várias vezes. Cês grita muito. Pra falar com Deus não precisa gritar.

Sábio, esse Seu Geraldo.

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