RUAS
Christovam Gonçalves, Bartolomeu Zunega, Belchior Coqueiro,
Martim Carrasco e Miguel Isasa. Foi dentro desses limites que passei minha
infância, jogando bola, empinando quadrado, jogando pião, bolinha de gude e
taco. Devo confessar que eu era péssimo em todas essas modalidades. Mas havia
uma em que modestamente me sobressaía: polícia e ladrão. Adorava ser escolhido
para ladrão. Conseguia me enfiar por entre as plantas de algum jardim,
principalmente o jardim de um predinho de três andares na Bartolomeu Zunega,
onde se não me falha a memória, morava o Hércules, menino mimado, dono de uma
bola de capotão, que raramente emprestava para a gente.
O Grupo Escolar Alfredo Bresser ficava na esquina da
Sumidouro com a Fernão Dias, mas lá já era o início do território proibido,
onde morava uma turma enfezada que não estava disposta a dividir o terreno com
ninguém. O líder desse pessoal era o Caveira. Dá pra sentir a barra? Caveira.
Isso incluía pegar balão, desde os mais simples, tipo
chinesinho, até os grandes, coloridos, confeccionados com esmero e capricho. Em 58,
quando o Brasil ganhou a Copa, o balão que soltaram ocupou todo o Largo da
Batata, que não era, é claro, tão grande como é hoje.
E havia a Teodoro Sampaio, a principal rua do bairro, com
casas comerciais em ambos os lados. Não tenho certeza, mas parece que meu pai chegou
a ter uma loja na Teodoro. A pastelaria
na esquina da Cunha Gago, os Correios, na própria Cunha Gago – essas coisas tornavam
Pinheiros uma comunidade um tantinho mais humano.
Na Cardeal funcionou durante anos uma sinagoga e na frente do sobrado uma escolinha. Acho que tudo isso desapareceu, e Dona Phella e Dona Sada se
encarregaram de incutir o pavor medonho que cercava o jardim de infância
daqueles tempos.
Ficaram as ruas e ficou a saudade.
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