Seu Bigode
Se há uma coisa que minha mulher não sabe fazer é dar nome
aos bois. Ela troca o nome de tudo e de todos. Anos atrás, telefonaram lá pra
casa para falar com o Prof. Isaac.
- O Prof. Isaac está no Porto Seguro, respondeu ela. Só
volta à noite.
Os profissionais com quem ela trabalha (A Rose é decoradora)
já sabem desse probleminha e quando ela pede, por exemplo, uma tesoura, os
marceneiros, pedreiros, eletricistas etc. não hesitam em dar-lhe uma trena, uma
régua ou uma chave de fenda. Estão acostumados. Eles têm certeza de que ela não
quer uma tesoura.
Um dia ela precisou de um serralheiro.
- Eu tenho um excelente, disse-lhe a Eunice, um colega da
São Francisco. – O endereço é este aqui. O homem é um artista.
- E como ele se chama?
- Bigode. Seu Bigode.
- Não, mas qual é o nome verdadeiro dele? Eu não posso
chegar lá e dizer que eu quero falar com o Seu Bigode.
- Pode, sim. Acho que ele mesmo se esqueceu como ele se
chama. Vai de Seu Bigode.
- Ele tem esse apelido por causa do bigode?
- Que você acha?
E a Rose foi. Chegando lá, pediu para falar com o Seu Bigode.
Em instantes, apareceu um homem grande, forte, sanguíneo, com um vasta
cabeleira branca e um bigode idem.
- Boa tarde, Seu Careca. Meu nome é Rose e quem me indicou o
senhor foi a Eunice. Lembra dela?
- Lembro, respondeu ele, de cenho já carregado.
- Então, Seu Careca, ...
- Bigode.
- Bigode, desculpe. Eu queria que o senhor me fizesse o
orçamento para um portão de jardim. Eu trouxe as medidas, Seu Careca.
- Bigode, minha senhora, Bigode. A senhora tá de gozação
comigo?
- De maneira nenhuma, Seu Ca...Seu Bigode.
Não sei se ele fez o serviço.
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