sábado, 18 de agosto de 2018

Seu Bigode


Seu Bigode
Se há uma coisa que minha mulher não sabe fazer é dar nome aos bois. Ela troca o nome de tudo e de todos. Anos atrás, telefonaram lá pra casa para falar com o Prof. Isaac.
- O Prof. Isaac está no Porto Seguro, respondeu ela. Só volta à noite.
Os profissionais com quem ela trabalha (A Rose é decoradora) já sabem desse probleminha e quando ela pede, por exemplo, uma tesoura, os marceneiros, pedreiros, eletricistas etc. não hesitam em dar-lhe uma trena, uma régua ou uma chave de fenda. Estão acostumados. Eles têm certeza de que ela não quer uma tesoura.
Um dia ela precisou de um serralheiro.
- Eu tenho um excelente, disse-lhe a Eunice, um colega da São Francisco. – O endereço é este aqui. O homem é um artista.
- E como ele se chama?
- Bigode. Seu Bigode.
- Não, mas qual é o nome verdadeiro dele? Eu não posso chegar lá e dizer que eu quero falar com o Seu Bigode.
- Pode, sim. Acho que ele mesmo se esqueceu como ele se chama. Vai de Seu Bigode.
- Ele tem esse apelido por causa do bigode?
- Que você acha?
E a Rose foi. Chegando lá, pediu para falar com o Seu Bigode. Em instantes, apareceu um homem grande, forte, sanguíneo, com um vasta cabeleira branca e um bigode idem.
- Boa tarde, Seu Careca. Meu nome é Rose e quem me indicou o senhor foi a Eunice. Lembra dela?
- Lembro, respondeu ele, de cenho já carregado.
- Então, Seu Careca, ...
- Bigode.
- Bigode, desculpe. Eu queria que o senhor me fizesse o orçamento para um portão de jardim. Eu trouxe as medidas, Seu Careca.
- Bigode, minha senhora, Bigode. A senhora tá de gozação comigo?
- De maneira nenhuma, Seu Ca...Seu Bigode.
Não sei se ele fez o serviço.

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