Martha
Uma
curtinha. Em seu romance The Sound and
the Fury. William Falkner introduz um personagem de uns trinta anos de idade,
mas retardado. Seu cérebro não tem mais que sete.
Toda
manhã, um empregado da fazenda onde mora a família o coloca numa carroça para
dar uma volta pela cidade. O percurso é sempre o mesmo: eles entram pelo fim da
Main Street e saem pelo começo.
Só
que um dia eles inverteram o caminho, e Ben começou a chorar, porque não
conseguia identificar a rua.
Eu
sou assim. Não tenho o menor senso de direção. Posso andar na mesma rua
centenas de vezes, mas, invertendo a mão, sou capaz de jurar que nunca vi
aquela rua.
A
Martha devia jogar no meu time. Eu, com sete ou oito anos de idade, vinha
voltando da escola. Calças curtas, pulovinho xadrez sem manga e uma horrorosa
mala de couro que me enchia de vergonha.
Eis
que avisto, parada na esquina da Baltazar Carrasco com Christovam Gonçalves (a
rua onde eu morava), uma japonesinha da mesma idade que eu. E mais: ela era
irmã do meu amigo Sotchan, em cuja casa passei alguns dos melhores momentos da
minha infância.
Aproximei-me
dela e vi que ela estava chorando.
-
Que foi, Martha? Você está perdida?
Ela
não respondeu, mas aumentou o choro.
-
Vem comigo. Eu te levo até sua casa. Nós estamos bem, pertinho.
Peguei
sua mão, bem de leve, e acompanhei-a até o portão, onde Duque, um dinamarquês
enorme, veio dar-lhe as boas vindas.
Pronto.
A Martha estava salva.
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