Prof. Karolinsky
O Prof
Karolinsky foi meu professor de yiddish na Escola Chaim Nachman Bialik, que
ficava num sobradão na rua Fradique Coutinho. Foi-me dito que meu pai foi um
dos fundadores da escola, mas, quando fui checar essa informação, descobri que
o nome dele não consta da ata da fundação da escola. Uma evidente falha da ata,
sem dúvida.
Ele e meu
pai eram amigos, isso é certo. Tenho comigo algumas fotos antigas, já
esmaecidas pelo tempo, com os dois de calção de banho, em Águas de São Pedro.
O Prof
Karolinsky era um homem baixo, gordinho e tinha uma peculiaridade: believe it
or not, o homem tinha seis dedos numa mão e sete na outra! Não eram
propriamente dedos. Diria que eram restos de dedo, tocos de dedo. E com aquelas
mãos, ele, de vez em quando, dava uns petelecos na minha cabeça com um livro de
capa dura. Não doía.
Foi ele que
me preparou para o meu bar mitzva, a cerimônia que insere o jovem judeu como
um membro maduro na comunidade judaica. Meu pai morreu quando eu tinha
11 anos e, de acordo com a tradição, eu deveria esperar até os 13 para realizar
a cerimônia, mas minha mãe conseguiu antecipar em um ano e aos doze eu me tornei
um jovem membro da comunidade judaica.
Nessa ocasião solene, o Professor me
ensinou a usar o tefilin –caixinhas pretas com faixas de couro que são
colocadas no braço, na altura do coração e também na cabeça. Usei isso uma vez
na vida e depois guardei as caixinhas, num caixote e lá ficaram durante
décadas, até que as descobri, cheias de poeira. Limpei-as com cuidado e dei-as
de presente para um rabino que mora no prédio, para grande espanto da cunhada.
Já adulto, resolvi me casar. Com uma colega da São
Francisco. Embora minha mãe adorasse a Rose, ela era contra o casamento, porque
era goy, isto é, não judia. E, se não bastasse isso, eu ainda estava disposto a
me casar na igreja, o que de fato aconteceu. Igreja Nossa Senhora do Brasil.
Minha mãe não foi ao casamento, mas depois eu soube que ela foi. Ficou
escondidinha perto da porta de entrada e assistiu a toda a cerimônia, sem se
deixar fotografar.
Eu estava
num impasse. Não queria aborrecer minha mãe, mas tampouco queria abrir mão dos
meus sonhos. Fui procurar o Prof Karolinsky em sua casa, na rua Cunha Gago.
- Você gosta
dela?
- Muito.
- Ela gosta
de você?
- Acho que
sim.
- Então
casa.
Casei. Tivemos
um casal de filhos. O Daniel me deu dois gêmeos, hoje com 12 anos, e a Tatiana me
brindou com três alemães, hoje com 17, 15 e 6 anos.
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