Brasília
Em 1988, fui
convidado pela SellBooks, através de sua CEO Selda Berger, a dar uma palestra
na Casa Thomas Jefferson, em Brasília. Para quem não sabe do que se trata,
posso dizer que a Casa é um Centro Binacional, sem fins lucrativos, ligado de
alguma forma ao governo americano. Seu objetivo é promover o intercâmbio
cultural entre brasileiros e americanos através de eventos, cursos, workshops e
palestras.
O congresso, se é que se pode chamá-lo assim, duraria
uma semana, era destinado não a simples professores de inglês, mas a
proprietários, diretores e supervisores de escolas bilíngues de português e
inglês. Ou seja, uma plateia altamente qualificada, e dos cinco palestrantes,
eu era o único brasileiro.
Quando soube disso fiquei petrificado. E mais
petrificado ainda fiquei quando a organizadora do evento pediu-me para trocar
de dia com um americano que estava escalado para falar na terça, mas que tinha
tido um problema com o voo e só estaria available na quinta.
- O senhor poderia trocar com ele?
- No problem, respondi, apavorado.
Não assisti à palestra da segunda-feira. Alegando uma
desculpa qualquer, voltei para o meu quarto de hotel e passei a revisar tudo
que havia escrito. Era um texto longo – a palestra tinha que durar entre duas e
três horas - em inglês, of course,
O tema, até onde me lembro, era a insistência em falar
inglês em sala de aula, desde o very beginning. Com paciência, com estímulos
corretos e com entusiasmo para ensinar, é perfeitamente possível falar inglês
com um brasileirinho de dez ou onze anos, que nunca ouviu a língua antes.
Aliás, eu continuo acreditando nisso.
No quarto, fiz algo que nunca me ocorreria antes: pedi
ajuda à minha mãe, que falecera um mês antes, em setembro. Eu nunca importuno
meus mortos, mas dessa vez o caso era sério.
- Me ajuda, mãe, estou com medo.
Não sei se ela ajudou. O fato é que eu dei a palestra,
houve os aplausos protocolares de sempre, recebi vários elogios e no coquetel
que se seguiu à cerimônia tomei um pilequinho.
Dever cumprido.
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