Mário Boia
Quando eu tinha
uns sete ou oito anos, levei um tombo no meio da rua Christóvam Gonçalves, onde
morava. Eu devo ter tropeçado numa pedra, e bati com o antebraço na pedra.
Três consequências
imediatas:
- um dor
fortíssima, uma vez que os ossos se encavalaram, quer dizer, um osso pulou em
cima do outro;
- por pura
vergonha ou medo do meu pai, não falei nada em casa;
- passei a usar
uma camisa de manga comprida.
Mas tava difícil
disfarçar. O braço quebrado era o esquerdo, eu sou canhoto e já no dia seguinte
eu mal conseguia segurar a colher para tomar a horripilante sopa verde da minha
mãe: um caldo de ervilha meio pegajoso com uma gema de ovo no meio. Todo dia no
almoço. É mole?
Em frente à
minha casa, existiu durante anos a venda do Seu César. Só vendia porcaria:
pirulito da Kibon, maria mole, doce de leite, de abóbora, bala etc. Um dia eu
cheguei a pedir uma ‘groselha de limão’. Mais tarde, a venda virou uma
marcenaria.
Havia um
degrauzinho, onde a molecada, todos mais velhos do que eu, se juntava para
falar besteira e fumar, o grande barato dos anos 50.
Pois não é que o
Mário Boia, que morava perto da casa da Dona Ana, começou, como quem não quer
nada, a dizer que quem quebrava o braço antes dos dez anos morria com vinte!
Os outros
meninos embarcaram nessa lorota e eu fiquei apavorado. Meu irmão me tirou do
sufoco.
- O Boia é uma
besta. Não liga pra ele.
Nada como ter um
irmão sábio, oito anos mais velho.
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