segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O Brasil está virando Brazil





Já nos batizaram de Ilha de Vera Cruz. Terra de Santa Cruz, Império do Brasil, Estados Unidos do Brazil, Estados Unidos do Brasil e ultimamente, se é que não estou enganado, República Federativa do Brasil. Em resumo, já fomos Brazil e viramos Brasil. Porém, a julgar pelo número de palavras inglesas que vêm entrando sem cerimônia em nosso léxico, em pouco tempo voltaremos a ser de novo Brazil, que é como somos conhecidos lá fora.
Interessante: no tempo em que D. Pedro II cofiava suas alvas barbas, enquanto inspecionava escolas (o Caraça e o Porto Seguro, entre outros), éramos Brasil. Depois, quando o respeitável imperador levou um chute no traseiro, como diria Jérôme Valcke, aí nosso atrapalhado país passou a ser escrito ora com ‘s’, ora com ‘z’. Foi só em 1945 que finalmente bateram o martelo em cima do Brasil, com ‘s’.

BrazilvBrasil.2
                               nota de 1917                                                                                                     nota de 1921



Mas voltando à ‘última flor do Lácio, inculta e bela’, cada vez menos bela e cada vez mais inculta...Ah, se Olavo Bilac visse o que fizeram com o nosso lindo idioma!

Os estrangeirismos! Já não falo das palavras importadas que há muito habitam nossos dicionários. Essas, é forçoso reconhecer, já se abrasileiraram. Termos como futebol, sanduíche, abajur etc. já são nossos velhos conhecidos e nos damos muito bem com eles.

Falo das palavras inglesas que ouço de pessoas que, more often than not, sabem pouco ou nada de inglês, e que usam tais palavras para fingir uma intimidade com a língua que elas não têm.

Dizem que compraram algo numa sale e não numa liquidação, que tiveram um insight e perceberam o que estava acontecendo, que foram a uma festa black tie, que odeiam fast food, que só tomam refrigerantes diet, que adoram tirar uma selfie e por aí afora.




Aqui vai uma listinha, certamente incompleta, de palavras inglesas que já fazem parte do nosso dia a dia:
best seller
bike
black tie
blazer
camping
cash
CD player
checkup
commodities
database
delivery
design
diet
doping
drive-in
drive-thru
duty-free
e-mail
fashion
fast food
feedback
fitness
flashback
flat
freezer

full-time
funk
game
gay
gospel
happy hour
hardware
hashtag
heavy metal
holding
home banking
jeans
king-size
kit
light
lobby
lycra
manager
marketing
MBA
megastore
meme
merchandising
mix
modem
mountain-bike
mouse
multimedia
offshore
office-boy
on-line
outdoor
part-time
relax
rush
sale
scanner
self-service
serial killer
sexy
slide
slogan
software
spray
star
stretch
ticket
topless
top model
trainee
upgrade
van
video-game

Mas a avacalhação com a nossa língua não é fenômeno novo. Monteiro Lobato, em ‘Ideias de Jeca Tatu’, publicado em 1919, tem um delicioso conto chamado ‘Curioso caso de materialização’, em que ele cai de pau nos francesismos da época. Vale a pena (re)ler:




2 comentários:

  1. A história da humanidade sempre foi escrita assim. Estamos numa sociedade global escrita majoritariamente em inglês, é natural que isso ocorra.

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