Colégio Estadual Presidente Roosevelt (do meu tempo) |
Eu
sempre achei que faltava uma matéria na grade curricular do ensino secundário.
Vejam vocês: o sinal bate e entra na sala o professor de matemática e dá-lhe de
trigonometria, geometria, estatística, sistema cartesiano e sei lá mais o quê.
Acabada a aula, a classe mal tem tempo de respirar e vem o professor de
biologia com suas células, suas briófitas e quejandos. Aí entra em campo o
professor de inglês, atormentando os pobres alunos com a diferença entre who e whom, entre lie e lay, entre although e despite.
Na
minha opinião, deveria haver um professor de – não riam – vida, alguém com
cultura suficiente para falar ora de história, ora de literatura; às vezes
sobre Sartre, às vezes sobre Platão; de repente o assunto seria o conflito no
Oriente Médio, que poderia descambar para um debate sobre política nacional.
Eu
tive um mestre assim. Pinheiro, professor de filosofia do Roosevelt. Raramente
ele conseguia dar a aula que havia planejado para nossa classe. Lembro-me particularmente
de uma noite (o curso era noturno) em que a fichinha em que ele trazia suas
anotações sobre Schopenhauer, filósofo amargo e pessimista, foi logo abandonada
e o resto da aula foi sobre o suicídio. Eram aulas perturbadoras, que mexiam
com a cabeça da gente. Era comum, believe
it or not, que eu e um amigo, o Urias, que eu não vejo há décadas e de quem
ainda sinto saudade, saíamos do Colégio, na rua São Joaquim, e caminhávamos
(!) até Pinheiros, onde eu morava. Íamos conversando ao longo da Av. Liberdade, entrávamos no centro da cidade, descíamos as escadas do Viaduto do Chá, atravessávamos o túnel 9 de Julho, seguíamos até av. Brasil. De lá, tocávamos pela Rua Pinheiros e, finalmente, exaustos, chegávamos na minha casa, de madrugada. Minha mãe
nos dava uma sonora bronca, mas valia a pena.
Schopenhauer |
O
Porto Seguro quase teve um professor assim. A União Cultural Brasil-Estados
Unidos, tradicional escola de inglês fundada em São Paulo há mais de 70 anos, proporcionava
todo ano uma série de palestras para professores de inglês durante as férias de
janeiro ou fevereiro. Num desses seminários, conheci um americano (esqueci seu
nome), que deu um curso sobre cultura e história dos Estados Unidos. Foram
aulas fascinantes.
Por
coincidência, o Porto naquela época estava exatamente precisando de um
professor de inglês. O americano me contou que estava pensando em morar por
alguns anos no Brasil, trabalhando como professor. Na mesma hora fui à
Secretaria da Escola telefonar para o Colégio (não havia celular naquela
época).
Primeiro prédio do Porto Seguro (ainda no séc. XIX |
Primeiro
prédio do Colégio Visconde de Porto seguro
- Ele tem registro de
professor? - perguntou a vetusta
Secretária, guardiã da burocracia escolar, tão velhinha que talvez tenha sido
contemporânea de D. Pedro II, que visitou o Colégio em 1886.
- Não, não tem, - respondi.
Aliás, nem professor ele é. Ele, na verdade, é sociólogo.
- Então não pode. Para dar
aula aqui, só com registro de professor. Clic. Delicadamente, mas com firmeza,
desligou o telefone na minha cara.
E com isso, a Escola perdeu
uma oportunidade de ouro de ter em seus quadros alguém que sabia mais inglês,
mais história e mais ciências sociais do que todos nós no Departamento de
Inglês. Certamente, os professores brasileiros, devidamente registrados, com
Carteira Profissional em dia etc. etc. teríamos muito a aprender com o rapaz.
Ele teria sido, tenho certeza, nosso mentor. Sem falar de quanto os alunos
iriam aprender com suas aulas.
Pois é, eu nunca tive um professor desses. Pena!!!
ResponderExcluirGostei... tive um professor parecido com esse que você descreveu o nome dele era Sr. Wilson - nós o chamávamos de "mestre" näo só
ResponderExcluirde Português....