quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Macbeth em SP: quebra a perna!
Todas as tragédias terminam em morte,
Todas as comédias, em casamento. [Lord Byron, poeta inglês (1788-1824)]
Tomando como base este aforismo de Lord Byron, é possível elaborar um silogismo:
Todas as tragédias terminam em morte.
Macbeth é uma tragédia.
Logo, Macbeth termina em morte.
E isto não é um spoiler, uma vez que o enredo da peça é mais do que conhecido: Macbeth, voltando de uma batalha em que se saiu vencedor, encontra, juntamente com seu amigo Banquo, três seres estranhos, três bruxas, que, com dúbias profecias, lhe despertam sinistras ideias. Ao tomar conhecimento do fato, sua esposa, Lady Macbeth, convence-o a assassinar o rei Duncan e tomar-lhe a coroa. O resto vocês conhecem.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/50/MacbethAndBanquo-Witches.jpgMacbeth e Banquo encontram as bruxas pela primeira vez  [Ato I, cena 3] (https://en.wikipedia.org/wiki/Macbeth)

Mas não é da peça em si que eu quero falar. É que uma nova versão de Macbeth está em cartaz no Sesc Vila Mariana, com Thiago Lacerda, Giulia Gam, Marco Antônio Pâmio, Luísa Thiré e outros. E ao elenco todo eu digo: ‘Break a leg!’, ou, na tradução brasileira, ‘Merda!’. Não digo boa sorte, porque no teatro inglês, desejar boa sorte dá azar. E se há uma peça azarada é essa. De todas as 37 que Shakespeare escreveu, nenhuma carrega tanta carga negativa quanto essa. Há mesmo quem diga que a peça é amaldiçoada. Os atores chegam até a evitar pronunciar o nome Macbeth antes do início da apresentação, preferindo referir-se à obra como ‘a peça escocesa’.
Mas de onde vem essa má fama? Reza a lenda (sem que haja nenhum registro histórico que a comprove) que na primeira vez que a peça foi levada à cena o ator que interpretava Macbeth morreu em cena.
A coisa começou aí e, ao longo dos séculos – a peça foi escrita por volta de 1600 – tem havido uma série de acidentes e desgraças que acompanham as diferentes montagens da peça escocesa – toc toc toc, mangalô três vezes. Eis alguns exemplos:
-      o mais remoto: em 1672, na cidade de Amsterdam, na Holanda, o ator que fazia Macbeth trocou um punhal falso por um de verdade e matou o rei Duncan diante de toda a plateia. Realismo maior é impossível... 
-      em 1942, com John Gielgud no papel de Macbeth, três atores (duas bruxas e o rei Duncan) morreram, além do cenógrafo, que se suicidou. Desgraça pouca é bobagem.
-      em 1948, a atriz Diana Wynward resolveu fazer, de olhos fechados, a cena em que Lady Macbeth entra em cena como sonâmbula. Resultado: ela caiu do palco de uma altura de quase cinco metros, mas conseguiu, toda arrebentada, concluir a cena. Afinal, the show must go on.
-       em 1971, com David Leary no papel principal, o palco pegou fogo duas vezes e a bilheteria do teatro sofreu sete assaltos. Prejuízo grande.
-       o mais recente: em 2001, numa produção da Cambridge Shakespeare Company, Lady Macbeth bateu a cabeça numa porta, Macduff machucou as costas e duas árvores que compunham a cena em que a floresta de Birnam parece mover-se tombaram no palco e destruíram todo o cenário.
Last but not least,  durante os meus anos de Porto Seguro, encenei umas 17 ou 18 peças em inglês com alunos do 2º e 3º anos do que era então chamado de segundo grau, entre as quais Our Town, Inherit the Wind, The Long Christmas Dinner, The Monkey’s Paw, Medea, Liberty, Liberty e várias outras. A única que eu comecei e não consegui montar foi Macbeth.


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