Macbeth
em SP: quebra a perna!
Todas as tragédias terminam em
morte,
Todas as comédias, em casamento. [Lord
Byron, poeta inglês (1788-1824)]
Tomando como base este
aforismo de Lord Byron, é possível elaborar um silogismo:
Todas
as tragédias terminam em morte.
Macbeth
é uma tragédia.
Logo,
Macbeth termina em morte.
E isto não é um spoiler, uma
vez que o enredo da peça é mais do que conhecido: Macbeth, voltando de uma
batalha em que se saiu vencedor, encontra, juntamente com seu amigo Banquo,
três seres estranhos, três bruxas, que, com dúbias profecias, lhe despertam
sinistras ideias. Ao tomar conhecimento do fato, sua esposa, Lady Macbeth,
convence-o a assassinar o rei Duncan e tomar-lhe a coroa. O resto vocês
conhecem.
Macbeth e Banquo encontram as bruxas pela
primeira vez [Ato I, cena 3]
(https://en.wikipedia.org/wiki/Macbeth)
Mas não é da peça em si que eu
quero falar. É que uma nova versão de Macbeth está em cartaz no Sesc Vila Mariana, com Thiago Lacerda, Giulia Gam, Marco Antônio Pâmio, Luísa
Thiré e outros. E ao elenco todo eu digo: ‘Break a leg!’, ou, na tradução
brasileira, ‘Merda!’. Não digo boa sorte, porque no teatro inglês, desejar boa
sorte dá azar. E se há uma peça azarada é essa. De todas as 37 que Shakespeare
escreveu, nenhuma carrega tanta carga negativa quanto essa. Há mesmo quem diga
que a peça é amaldiçoada. Os atores chegam até a evitar pronunciar o nome
Macbeth antes do início da apresentação, preferindo referir-se à obra como ‘a
peça escocesa’.
Mas
de onde vem essa má fama? Reza a lenda (sem que haja nenhum registro histórico
que a comprove) que na primeira vez que a peça foi levada à cena o ator que
interpretava Macbeth morreu em cena.
A
coisa começou aí e, ao longo dos séculos – a peça foi escrita por volta de 1600
– tem havido uma série de acidentes e desgraças que acompanham as diferentes
montagens da peça escocesa – toc toc toc, mangalô três vezes. Eis alguns
exemplos:
-
o mais
remoto: em 1672, na cidade de Amsterdam, na Holanda, o ator que fazia Macbeth
trocou um punhal falso por um de verdade e matou o rei Duncan diante de toda a
plateia. Realismo maior é impossível...
-
em
1942, com John Gielgud no papel de Macbeth, três atores (duas bruxas e o rei
Duncan) morreram, além do cenógrafo, que se suicidou. Desgraça pouca é bobagem.
-
em
1948, a atriz Diana Wynward resolveu fazer, de olhos fechados, a cena em que
Lady Macbeth entra em cena como sonâmbula. Resultado: ela caiu do palco de uma
altura de quase cinco metros, mas conseguiu, toda arrebentada, concluir a cena.
Afinal, the show must go on.
-
em
1971, com David Leary no papel principal, o palco pegou fogo duas vezes e a
bilheteria do teatro sofreu sete assaltos. Prejuízo grande.
-
o mais
recente: em 2001, numa produção da Cambridge Shakespeare Company, Lady Macbeth
bateu a cabeça numa porta, Macduff machucou as costas e duas árvores que
compunham a cena em que a floresta de Birnam parece mover-se tombaram no palco
e destruíram todo o cenário.
Last but not least,
durante os meus anos de Porto Seguro, encenei umas 17 ou 18 peças em inglês
com alunos do 2º e 3º anos do que era então chamado de segundo grau, entre as
quais Our Town, Inherit the Wind, The
Long Christmas Dinner, The Monkey’s Paw, Medea, Liberty, Liberty e várias
outras. A única que eu comecei e não consegui montar foi Macbeth.
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