domingo, 29 de novembro de 2015

Fuvest

Hoje, 29/11, começa o vestibular da Fuvest. Mais de 140 mil candidatos disputando menos de 10 mil vagas na USP, além de 120 na medicina da Santa Casa. A julgar pelo nervosismo,  ansiedade e medo estampados no rosto de cada um dos candidatos, dir-se-ia (eta língua portuguesa!) que eles estão diante de um tribunal da Santa Inquisição: Se não forem aprovados, vão direto para a fogueira, fazer companhia a Joana D’Arc, Giordano Bruno e tantos outros cujos nomes não encontrei na internet. Galilei Galileu não vale, porque ele afinou e não se atreveu a bater de frente contra o Tribunal do Santo Ofício. No que fez muito bem. Mais vale uma mentira na mão do que duas verdades queimadas em praça pública.
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Pois eu lhes digo, meus queridos jovens, do alto das minhas quase sete décadas de vida, que vós estais enganados. O vestibular não é a coisa mais importante de vossas vidas. Sois inexperientes e não vivestes mais do que um quarto dos anos que vos restam. Posso vos afiançar que a faculdade de vossos sonhos decepcionar-vos-á, pois que em geral são fracas, deficientes e estão defasadas em relação aos     avanços tecnológicos dos novos tempos. Olhai à vossa volta. Praticamente nenhum técnico, nenhum engenheiro, nenhum especialista em medicina, direito ou em qualquer outro ramo do conhecimento humano, sabe do que está falando em suas entrevistas, depoimentos e mesas redondas. São, não obstante os muitos diplomas que ostentam orgulhosos nas paredes de seus escritórios e consultórios, uns néscios. Não fosse assim, as barragens não se romperiam, as epidemias não se alastrariam, os terroristas não atacariam, o crime não compensaria, a pobreza extrema não existiria e o papel higiênico seria picotado no lugar certo.
Portanto, dai à Fuvest o valor que ela merece. É um exame, não é um divisor de águas. Quando eu fiz vestibular, lembro-me de dizer ao amigo de infância, infelizmente já falecido: ‘No ano que vem, se eu passar, minha vida vai mudar. Novos amigos, novas “minas”, novos engajamentos políticos, novo tudo!’ E foi verdade por um tempo. Depois, o novo envelhece. É o destino inescapável das novidades.
Assim sendo, crianças, se perguntardes, como fez Hemingway, tomando emprestado um trecho de John Donne, por quem dobram os sinos, eu vos respondo: não dobram por vós, dobram à toa, pois os sinos só existem para dobrar.
Sois vós yourselves que tendes de dobrar os sinos, pois os sinos são vossos. Ninguém os dobrará por vós.
Se fordes honestos convosco mesmos, se amardes nossa pobre e estupidamente feliz nação, alcançareis o êxito que tão  aterrorizadamente procurais no exame de hoje.
Desejo-vos boa sorte.
Fuvest

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