Hoje,
29/11, começa o vestibular da Fuvest. Mais de 140 mil candidatos disputando
menos de 10 mil vagas na USP, além de 120 na medicina da Santa Casa. A julgar pelo
nervosismo, ansiedade e medo estampados
no rosto de cada um dos candidatos, dir-se-ia (eta língua portuguesa!) que eles
estão diante de um tribunal da Santa Inquisição: Se não forem aprovados, vão
direto para a fogueira, fazer companhia a Joana D’Arc, Giordano Bruno e tantos
outros cujos nomes não encontrei na internet. Galilei Galileu não vale, porque
ele afinou e não se atreveu a bater de frente contra o Tribunal do Santo
Ofício. No que fez muito bem. Mais vale uma mentira na mão do que duas verdades queimadas em praça pública.
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Pois
eu lhes digo, meus queridos jovens, do alto das minhas quase sete décadas de
vida, que vós estais enganados. O vestibular não é a coisa mais importante de
vossas vidas. Sois inexperientes e não vivestes mais do que um quarto dos anos
que vos restam. Posso vos afiançar que a faculdade de vossos sonhos
decepcionar-vos-á, pois que em geral são fracas, deficientes e estão defasadas
em relação aos avanços tecnológicos
dos novos tempos. Olhai à vossa volta. Praticamente nenhum técnico, nenhum
engenheiro, nenhum especialista em medicina, direito ou em qualquer outro ramo
do conhecimento humano, sabe do que está falando em suas entrevistas,
depoimentos e mesas redondas. São, não obstante os muitos diplomas que ostentam
orgulhosos nas paredes de seus escritórios e consultórios, uns néscios. Não
fosse assim, as barragens não se romperiam, as epidemias não se alastrariam, os
terroristas não atacariam, o crime não compensaria, a pobreza extrema não
existiria e o papel higiênico seria picotado no lugar certo.
Portanto,
dai à Fuvest o valor que ela merece. É um exame, não é um divisor de águas.
Quando eu fiz vestibular, lembro-me de dizer ao amigo de infância, infelizmente
já falecido: ‘No ano que vem, se eu passar, minha vida vai mudar. Novos amigos,
novas “minas”, novos engajamentos políticos, novo tudo!’ E foi verdade por um
tempo. Depois, o novo envelhece. É o destino inescapável das novidades.
Assim
sendo, crianças, se perguntardes, como fez Hemingway, tomando emprestado um
trecho de John Donne, por quem dobram os sinos, eu vos respondo: não dobram por
vós, dobram à toa, pois os sinos só existem para dobrar.
Sois
vós yourselves que tendes de dobrar os sinos, pois os sinos são vossos. Ninguém
os dobrará por vós.
Se fordes
honestos convosco mesmos, se amardes nossa pobre e estupidamente feliz nação,
alcançareis o êxito que tão aterrorizadamente
procurais no exame de hoje.
Desejo-vos
boa sorte.
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