Permitam-me
reproduzir um parágrafo que escrevei dias atrás:
“Agora, babaquice de verdade não é dizer Francis Ford Coppola, pronunciando Coppola como uma
proparoxítona, com acento no “có”. A grande babaquice é não saber nada (ou
muito pouco) de inglês e sair por aí dizendo que teve um “insaite” e resolveu
ir a um “outiléti” e comprar tudo com 20% “óffi”.”
Tomo esta liberdade para convidá-los a ler o excelente artigo
de Pasquale Cipro Neto (‘Nudes’ e nudez), publicado na Folha de São Paulo de
hoje, 26 de novembro de 2015. Deste brilhante texto, destaco alguns parágrafos,
que, como se pode ver, constituem um ‘plus a mais’ em termos de estrangeirismos
ridículos:
“Pois bem. Com um certo atraso (creio),
dei-me conta da circulação do termo "nudes", que vi em sites em
títulos como "Veja nudes de fulano/a". Ingenuozinho, imaginei que se
tratasse de erro de grafia, ou seja, da troca de um "z" (de
"nudez") por um "s". Nada disso. Trata-se mesmo do plural
do termo inglês "nude", que corresponde aos termos portugueses
"nu" (quando substantivo, caso em que funciona como redução de
"nu artístico", como em "O nu de fulano/a") ou
"nudez" ("A nudez de fulano/a").
Alguém perguntará se então não seria o
caso de usar logo um dos termos portugueses. Será? Essa é uma questão
delicadíssima do emprego de estrangeirismos. Pelo que apurei, o tal do
"nude" nada tem que ver com o nu artístico. Trata-se apenas de mais
uma faceta de uma das mais graves doenças modernas, a da autoexibição, da busca
incessante pelos 15 segundos de fama.
O que quero dizer é que
"nude" ganhou um sentido específico, particular, preso ao fato que
originou a sua circulação nacional e internacional. Nesses casos, remar contra
a maré é inútil. Corre-se o risco de promover a ressurreição de Policarpo
Quaresma, impagável personagem do genial Lima Barreto.
Uma coisa é o estrangeirismo bocó,
boboca, representado, por exemplo, pelo emprego diante de público não
específico de tolices como "share", "delay",
"target" etc. Outra coisa é o emprego de estrangeirismos mais do que
consagrados, conhecidos por boa parcela do público a que se destina a mensagem.
Que publicitários usem em suas reuniões
fechadas termos como "share" ("participação no mercado") ou
"target" ("alvo") é problema deles, não tenho nada com
isso, mas numa mensagem dirigida a público não específico esses termos são absolutamente
inadequados.
Dia desses, alguém me disse que
participou de uma reunião de negócios em que se usou à exaustão a expressão
"to do", com o sentido de coisa que se deve fazer, tarefa da qual se
deve dar cabo. A cereja do bolo veio quando alguém disse que tinha "muito
'to do' pra fazer"... Elaiá! E viva o frango chicken!”
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