quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ignorância nua e crua

Permitam-me reproduzir um parágrafo que escrevei dias atrás:
Agora, babaquice de verdade não é dizer Francis Ford Coppola, pronunciando Coppola como uma proparoxítona, com acento no “có”. A grande babaquice é não saber nada (ou muito pouco) de inglês e sair por aí dizendo que teve um “insaite” e resolveu ir a um “outiléti” e comprar tudo com 20% “óffi”.”
Tomo esta liberdade para convidá-los a ler o excelente artigo de Pasquale Cipro Neto (‘Nudes’ e nudez), publicado na Folha de São Paulo de hoje, 26 de novembro de 2015. Deste brilhante texto, destaco alguns parágrafos, que, como se pode ver, constituem um ‘plus a mais’ em termos de estrangeirismos ridículos:

“Pois bem. Com um certo atraso (creio), dei-me conta da circulação do termo "nudes", que vi em sites em títulos como "Veja nudes de fulano/a". Ingenuozinho, imaginei que se tratasse de erro de grafia, ou seja, da troca de um "z" (de "nudez") por um "s". Nada disso. Trata-se mesmo do plural do termo inglês "nude", que corresponde aos termos portugueses "nu" (quando substantivo, caso em que funciona como redução de "nu artístico", como em "O nu de fulano/a") ou "nudez" ("A nudez de fulano/a").
Alguém perguntará se então não seria o caso de usar logo um dos termos portugueses. Será? Essa é uma questão delicadíssima do emprego de estrangeirismos. Pelo que apurei, o tal do "nude" nada tem que ver com o nu artístico. Trata-se apenas de mais uma faceta de uma das mais graves doenças modernas, a da autoexibição, da busca incessante pelos 15 segundos de fama.
O que quero dizer é que "nude" ganhou um sentido específico, particular, preso ao fato que originou a sua circulação nacional e internacional. Nesses casos, remar contra a maré é inútil. Corre-se o risco de promover a ressurreição de Policarpo Quaresma, impagável personagem do genial Lima Barreto.
Uma coisa é o estrangeirismo bocó, boboca, representado, por exemplo, pelo emprego diante de público não específico de tolices como "share", "delay", "target" etc. Outra coisa é o emprego de estrangeirismos mais do que consagrados, conhecidos por boa parcela do público a que se destina a mensagem.
Que publicitários usem em suas reuniões fechadas termos como "share" ("participação no mercado") ou "target" ("alvo") é problema deles, não tenho nada com isso, mas numa mensagem dirigida a público não específico esses termos são absolutamente inadequados.

Dia desses, alguém me disse que participou de uma reunião de negócios em que se usou à exaustão a expressão "to do", com o sentido de coisa que se deve fazer, tarefa da qual se deve dar cabo. A cereja do bolo veio quando alguém disse que tinha "muito 'to do' pra fazer"... Elaiá! E viva o frango chicken!”

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