sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Diálogos Históricos Improváveis

1
No meio do oceano, Nicolau Coelho, capitão que já havia viajado com Vasco da Gama à Índia, se volta para Cabral:
- Alguma coisa me diz que a gente devia dobrar à direita para chegar às Índias, Comandante.

- Que nada, Nicolau. Vai por mim. Indo sempre reto dentro em breve estaremos em Calcutá.

2
Uma vez em solo que mais tarde viria a ser a Bahia, Cabral anunciou à tripulação que iria dar o nome de Ilha de Vera Cruz àquele local.
- Comandante, - disse Américo Vespúcio, o famoso piloto italiano que por duas vezes já estivera em solo americano, - o senhor tem certeza de que isto aqui é uma ilha?
- Certeza, certeza, eu não tenho. Mas, que diabo, se não for uma ilha, o que será?
- Acho mais prudente, Comandante, chamar isso de Terra. Terra de Vera Cruz. Que lhe parece?
Cabral, para não dar totalmente o braço a torcer, concorda, mas só em parte:
- Está bem. Vamos chamar isto de Terra. Mas Terra de Santa Cruz, não Vera Cruz!
3
No dia 26 de abril, domingo de Páscoa, Cabral mandou chamar frei Henrique de Coimbra, o capelão da frota.
- Frei Henrique, o senhor não acha uma boa ideia rezar uma missa hoje para a toda a marujada e também para os índios?
- Deus me livre e guarde!
- Por quê, homem de Deus?
- Mas será o Benedito que o senhor não reparou que esses índios, e principalmente essas índias, andam com as vergonhas de fora?
- E daí?
- Mas como é que eu posso me concentrar na Eucaristia com aquelas índias olhando para mim com um sorrisinho maroto?
- Já sei: o senhor celebra a missa de costas, olhando só para a cruz. As hóstias pode deixar que eu mesmo dou.

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