sábado, 20 de dezembro de 2014

TEMPOS DE ESCOLA

21. DE COMO, JÁ PROFESSOR, APRENDI MAIS UMA LIÇÃO

Era uma quarta-feira de cinzas. Bateu o sinal e eu fui dar aula no 3º TA, uma turma pequena do 3º colegial da tarde no Porto Seguro. Ao entrar na sala, constatei, um tanto surpreso, que havia só uma aluna na classe. Oba, pensei. não vou dar essa aula. Vim a saber, depois, o que havia acontecido. Naquele tempo, na quarta-feira de cinzas não havia aula de manhã, mas à tarde, sim. O pessoal dessa classe, achando-se ‘injustiçado”, combinou de faltar naquele dia. Só que uma aluna, cujo nome me foge à memória (na verdade, é a memória que foge de mim), esteve viajando e, por isso, não foi avisada que a turma toda ia enforcar a quarta-feira.
Eu nem introduzi o meu tradicional ‘Open your books at page...’. Deixei a garota sozinha na sala e desci para falar com o diretor, o Ayrton. Este diretor tinha sido meu professor de inglês no Roosevet. e ele...bem, isso é uma outra história. O fato é que, com a amizade que havia (e há) entre nós até hoje, eu muito à vontade lhe disse:
- Ayrton, só há uma aluna no 3º TA. O que é que eu faço?
Ele estava escrevendo algo. Ao ouvir minha pergunta, ele parou, ergueu a cabeça e disse:
- O que você faz? Você volte lá e dê a aula. Em outras escolas você não daria essa aula. No Colégio Paes Leme, por exemplo, você não daria essa aula. Mas aqui você vai dar aula. Por isso que o Porto tem cem anos e o Paes Leme já fechou.
Enfiei o rabo entre as pernas e voltei para a sala. A menina era ótima aluna e, ainda por cima, tinha passado as férias nos Estados Unidos. A aula fluiu como uma beleza. Era um livro difícil – What’s in the news – mas eu dei a lição 2 quase inteirinha.
Na aula seguinte, já com a classe cheia, eu terminei a lição, sob protestos da turma, que tinha perdido um monte de exercícios.

- Paciência, disse eu. E, por pura sacanagem, até o fim do ano eu sempre incluía nas provas questões baseadas na lição 2. Desculpe, pessoal, eu só fazia isso porque sabia que vocês eram bons. 

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