21. DE COMO, JÁ
PROFESSOR, APRENDI MAIS UMA LIÇÃO
Era uma quarta-feira
de cinzas. Bateu o sinal e eu fui dar aula no 3º TA, uma turma pequena do 3º
colegial da tarde no Porto Seguro. Ao entrar na sala, constatei, um tanto
surpreso, que havia só uma aluna na classe. Oba, pensei. não vou dar essa aula.
Vim a saber, depois, o que havia acontecido. Naquele tempo, na quarta-feira de
cinzas não havia aula de manhã, mas à tarde, sim. O pessoal dessa classe,
achando-se ‘injustiçado”, combinou de faltar naquele dia. Só que uma aluna,
cujo nome me foge à memória (na verdade, é a memória que foge de mim), esteve
viajando e, por isso, não foi avisada que a turma toda ia enforcar a
quarta-feira.
Eu nem introduzi o
meu tradicional ‘Open your books at page...’. Deixei a garota sozinha na sala e
desci para falar com o diretor, o Ayrton. Este diretor tinha sido meu professor
de inglês no Roosevet. e ele...bem, isso é uma outra história. O fato é que,
com a amizade que havia (e há) entre nós até hoje, eu muito à vontade lhe
disse:
- Ayrton, só há uma
aluna no 3º TA. O que é que eu faço?
Ele estava
escrevendo algo. Ao ouvir minha pergunta, ele parou, ergueu a cabeça e disse:
- O que você faz?
Você volte lá e dê a aula. Em outras escolas você não daria essa aula. No
Colégio Paes Leme, por exemplo, você não daria essa aula. Mas aqui você vai dar
aula. Por isso que o Porto tem cem anos e o Paes Leme já fechou.
Enfiei o rabo entre
as pernas e voltei para a sala. A menina era ótima aluna e, ainda por cima,
tinha passado as férias nos Estados Unidos. A aula fluiu como uma beleza. Era
um livro difícil – What’s in the news – mas eu dei a lição 2 quase inteirinha.
Na aula seguinte, já
com a classe cheia, eu terminei a lição, sob protestos da turma, que tinha
perdido um monte de exercícios.
- Paciência, disse
eu. E, por pura sacanagem, até o fim do ano eu sempre incluía nas provas
questões baseadas na lição 2. Desculpe, pessoal, eu só fazia isso porque sabia
que vocês eram bons.
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