O professor neutro
Quando ainda professor, sempre
senti falta de uma matéria na grade curricular. Uma matéria que poderia
chamar-se Vida. Parecia utópico e irreal, - e talvez seja mesmo. Mas esse
negócio de “bate o sinal, entra o professor de matemática; bate o sinal, sai o
de matemática, entre o de história; bate o sinal, sai o de história, entre o de
português” até o fim das aulas, nunca me cheirou bem.
Tinha que haver alguém que
levantasse dúvidas no espírito dos alunos, que propusesse temas para debates,
assuntos que ultrapassariam os pobres limites das briófitas, dos relative
pronouns ou da tabela periódica.
Mas quem seria esse professor?
Para começar, essa pessoa nem seria um professor. Afinal, não há como ensinar vida
numa sala de aula. Seria talvez mais apropriado chamá-lo de mediador. Ele
entraria na sala e, da maneira mais informal, sem fazer a chamada, sem pedir
silêncio, sem esperar coisa alguma, começaria a falar sobre, por exemplo, a
existência (ou inexistência) de Deus. Ou sobre as vantagens (ou desvantagens)
do uso da maconha.
Assunto não faltaria.
Seria necessário que o tal mediador
não se envolvesse pessoalmente nos debates. Ele, na qualidade de pessoa mais
velha e, portanto, mais experiente do grupo, não poderia tomar partido.
Seria difícil, se não
impossível. Não existe essa coisa da neutralidade na sala de aula. A menos que
o professor fosse um robô.
Mas haveria uma saída:
- Professor, o certo é
acrobata ou acróbata?
- Uns dizem acrobata, outros,
acróbata.
- Mas o senhor, como o senhor
diz?
- Eu às vezes digo acróbata,
às vezes digo acrobata.
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