3. O boi e o bicho-preguiça
O
boi andava agitado, irritadiço, mugindo por dá cá uma palha. Aliás, ele
detestava palha, alimentando-se principalmente de feno. Não me peçam para
explicar a diferença entre os dois. É um assunto chato.
Uma manhã, o bicho-preguiça, lá do alto
de uma embaúba em que passava a maior parte do tempo, percebeu a inquietação do
boi e resolveu ajudá-lo, se fosse possível. O preguiça é um animal solitário e
introvertido. Ele não se dá com praticamente nenhum outro bicho. Dizem até que
ele é mudo. Não é verdade. Está certo que ele não tem a loquacidade de um
papagaio, por exemplo, mas ele é, sim, capaz de emitir alguns sons. São ruídos
muito baixinhos, praticamente inaudíveis. Quem encostar o ouvido na cara do aígue,
como ele é conhecido pelos índios, vai ouvir alguma coisa como aí-aí-aí. Mas
quem iria fazer uma coisa estúpida como essa, não é verdade?
Bem, a preguiça levou o dia inteiro para
descer da árvore e aproximar-se do boi. Já era noite quando ele começou a
conversar. De início o boi não entendeu nada, mas, curioso, abaixou-se para
escutar o que aígue tinha a dizer. E foi aí que ele ouviu um aí-aí-aí lento e
constante, que parecia que não terminaria nunca. E foi assim que ele acabou
adormecendo.
Moral:
Nada como uma conversa fiada para fazer boi dormir.
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