terça-feira, 19 de julho de 2016

3. O boi e o bicho-preguiça
       O boi andava agitado, irritadiço, mugindo por dá cá uma palha. Aliás, ele detestava palha, alimentando-se principalmente de feno. Não me peçam para explicar a diferença entre os dois. É um assunto chato.

       Uma manhã, o bicho-preguiça, lá do alto de uma embaúba em que passava a maior parte do tempo, percebeu a inquietação do boi e resolveu ajudá-lo, se fosse possível. O preguiça é um animal solitário e introvertido. Ele não se dá com praticamente nenhum outro bicho. Dizem até que ele é mudo. Não é verdade. Está certo que ele não tem a loquacidade de um papagaio, por exemplo, mas ele é, sim, capaz de emitir alguns sons. São ruídos muito baixinhos, praticamente inaudíveis. Quem encostar o ouvido na cara do aígue, como ele é conhecido pelos índios, vai ouvir alguma coisa como aí-aí-aí. Mas quem iria fazer uma coisa estúpida como essa, não é verdade?

       Bem, a preguiça levou o dia inteiro para descer da árvore e aproximar-se do boi. Já era noite quando ele começou a conversar. De início o boi não entendeu nada, mas, curioso, abaixou-se para escutar o que aígue tinha a dizer. E foi aí que ele ouviu um aí-aí-aí lento e constante, que parecia que não terminaria nunca. E foi assim que ele acabou adormecendo.


Moral: Nada como uma conversa fiada para fazer boi dormir.

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