Chega de joelhos!
Agradeço a todos que me
confortaram na dolorida experiência por que passei. Já está tudo bem, com
exceção de um ‘galo’ na patela, que não me deixa subir ou descer escadas, o que
acabei de constatar meia hora atrás. Ou seja, na descida, dependendo das
circunstâncias, nem todo santo ajuda.
Mas chega de joelho. Hoje vou
falar de braços.
Em meados do século passado,
eu fazia Letras Anglo-Germânicas na USP. Entre os muitos livros que a temível
Mrs. Stevens, professora de Literatura Inglesa, nos fez ler, alguns dos quais
eu não li, havia um em particular, uma peça de Bernard Shaw chamada ‘Arms and
the Man’.
Este título se origina dos
primeiros versos da Eneida, de Virgílio (‘Arma virumque cano’ – ‘Canto as armas
e os homens’) e também dos Lusíadas, de Camões [“As armas e os barões
assinalados...” (‘barões’ aqui quer dizer ‘varões’, homens.)]. Anos mais tarde,
eu até acabei montando essa mesma peça no Colégio. Mas isso são outros
quinhentos.
Trata-se de uma comédia
romântica. A ação se passa durante uma guerra entre a Sérvia e a Bulgária em
1885. E a Mrs. Stevens resolveu dar uma provinha sem aviso prévio, uma coisa
simples, uma redação. Tema: Justify the
title of the play.
Como não tinha lido a peça, eu
mal sabia do que se tratava. Só que nem me passou pela cabeça entregar a prova
em branco. Se fizesse isso, I would get
into her black book forever. Era um tempo em que os estudantes respeitavam
e, sobretudo, temiam os professores. Não sei se vocês pegaram esse tempo.
Bom, resolvi encarar a prova.
Escrevi uma longa arenga, enchendo linguiça a mais não poder.
E não para parecer diferente,
mas por ser burro, cretino e estúpido, entendi que o arms do título queria dizer ‘braços’ e não ‘armas’. Páginas e
páginas discorrendo sobre os braços da guerra, os braços dos soldados que
morriam em combate, os braços das filhas, noivas e esposas que nunca mais
envolveriam seus entes queridos quando a carnificina acabasse etc. etc. Em
resumo, um monte de asneiras.
Believe
it or not, tirei 7,0. Mrs. Stevens se surpreendeu com a
originalidade da minha interpretação.
Sorry,
Mrs. Stevens.
Ela era um número mesmo! Pena que nunca tive aula com ela. Pelo menos ela valorizou tua criatividade! hahaha
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