O pica-pau
Em seu leito de morte, um homem
aguardava serenamente o desfecho inevitável. Não tinha medo da morte. Aprendera
a não crer em nada – nem em Deus, muito menos em vida no Além.
De olhos fechados, ficou esperando.
De repente, ouviu um toc-toc-toc. no jardim. Ergueu-se com dificuldade da cama
e olhou pela janela.
Era um pica-pau enorme, olhando
fixamente para ele. O homem entendeu. Era chegada sua hora. Só teve tempo de
escrever (ele era francês): ‘Cherchez le pica-pau.’
A família está inconsolável.
O testamento
‘Oh!’ exclamaram todos quando o
advogado abriu o testamento. O falecido tinha deixado tudo para o seu fiel motorista,
que o servira por mais de trinta anos.
‘Mas...mas não possível!’ disse a
irmã, ‘o seu Almeida morreu há seis anos!’
‘Temos de anular esse testamento’, esbravejou
um primo distante.
‘Acontece o seguinte, senhores’
interrompeu o advogado. ‘O Almeida era espírita, como vocês sabem. Ele
acreditava que os mortos haveriam de voltar à vida, de alguma forma. Por isso,
ele...’
‘De jeito nenhum!’
‘É um absurdo!’
‘Velho caduco!’
Num canto da sala, um gato
acompanhava, silencioso, toda aquela balbúrdia. Após um instante de hesitação,
balançou a cauda e retirou-se.
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