CARNAVAL ALEMÃO
Para começar, o carnaval na Alemanha
não é uma festa nacional. É comemorado apenas em um pequeno número de cidades.
Colônia é uma delas. Essa é a primeira esquisitice dos alemães: se você está em
Colônia, pega um bonde (juro por Deus!) e vai até Bonn, você não vê o menor
vestígio do ‘tríduo momesco’, como a sacanagem generalizada no Brasil costumava
ser chamada. Agora, se você fica em Colônia, o que você vê? Bem, aí começa a
segunda esquisitice: o carnaval lá é oficialmente inaugurado às 11:11 da manhã
do dia 11/11. Me explicaram por quê, mas eu esqueci. A partir dessa data, você
começa a notar a presença de certas pessoas andando fantasiadas na rua. São
pessoas sérias, sisudas, carregando um laptop numa mão e um porrete na outra,
indo para o trabalho vestidas de trogloditas. Ou uma aluna de uniforme, mochila
às costas e uma anteninha na cabeça, à la Chapolin Colorado. Ou ainda uma
senhora de uns setenta anos, com o rosto pintado de palhaço, de mão dada com a
netinha, que ostenta saltitante um belo nariz vermelho postiço. Esse pessoal
sai de casa assim, toma o ônibus ou o metrô, vai para o escritório, o
supermercado ou a escola na maior tranquilidade, sem causar o menor espanto ou
constrangimento. Aliás, os caixas dos mercados e os vendedores das lojas também
vestem fantasias.
Quando chega o carnaval mesmo, aí
acontecem duas coisas:
- a parada. Um desfile que dura horas
e horas. Pessoas fantasiadas de príncipes, soldados, piratas, oncinhas, Bob
Esponja, Peter Pan, Mulher Maravilha, mosqueteiros e girafas, além de carros
alegóricos, dos mais simples aos mais sofisticados. Em ambos os lados das ruas
por onde passa o desfile, as pessoas com seus filhos e netos se enfileiram para
receber as ‘Camele’ - doces, balas e chocolates que os foliões atiram de montão
para o público infantil. Tudo sem patrocínio de nenhum bicheiro, nenhuma marca
comercial, e sem nenhuma ajuda financeira da prefeitura. Eu mesmo participei de
uma parada menor, num subúrbio da cidade. Minha filha, meu genro, meus netos e
minha mulher desfilamos fantasiados de Rei Sol, com perucas e camisolões
amarelos e alaranjados, meu genro empurrando um carrinho de supermercado cheio
de guloseimas – assim eram chamadas essas porcarias que estragam os dentes, e
todos nós gritando ‘Cameeeele’ a plenos pulmões. Foi cansativo, fiquei afônico
por uns dias, mas valeu a pena.
- as festas. Numa determinada noite,
os homens vão a bares, devidamente fantasiados de policiais ingleses, astronautas,
macacos, dedos (sim, polegares imensos que certos urologistas confeccionam) e
ovo frito (não sei explicar isso – só vendo) e passam horas bebendo. Na noite
seguinte, as mulheres fazem a mesma coisa. E há também as festas em que casais
se divertem juntos.
A terceira esquisitice é que o
carnaval não é, para eles, uma ocasião de ‘get lucky’ com algum pierrô ou
odalisca. Não. A curtição se limita a duas coisas: fantasiar-se com o maior
esmero possível e encher a cara até cair. Nessas noites, não se vê um único
carro nas ruas, a não ser táxis. Ninguém dirige pela cidade, uma vez que estão
todos bêbados.
Isso é tudo que eu lembro. Deve haver
mais coisas para contar, mas minha ressaca está demais.
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