domingo, 29 de julho de 2018

Banheiro


BANHEIRO
Semanas atrás, levei um tombo no banheiro. Bati a cabeça, saiu um pouco de sangue, entortei os óculos e esfolei a perna.
Estava sozinho em casa. A Rose tinha ido ao cabeleireiro e eu achei que dava para me virar sozinho. Não dava.
Fiquei entalado ao lado do vaso e não conseguia sair de lá para alcançar o celular, que estava a quilômetros de distância, no escritório.
Finalmente, arrastando-me feito um animal ferido –aliás, eu era um animal ferido – consegui ligar para ela. Em questão de minutos (o salão fica perto de casa), chegaram. pela ordem, a Rose, o cabeleireiro e o Ivan, zelador do prédio há mais de 30 anos. O ivan é um cara forte, grande e gordo que me ergueu pelos ombros e disse baixinho no meu ouvido, com uma voz que lembra o Mike Tyson: “O senhor vai sair dessa, Doutor. Eu gosto muito do senhor.”
Os olhos dele, parece, ficaram vermelhos de emoção. Os meus também.

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