Na Folha de hoje (19/9/16),
Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de Letras, publica um texto com o
título ‘O bom professor’. Vou também discorrer sobre esse tema, apelando para a
minha cada vez mais fraca memória. São duas coisas:
Primeira coisa: Rilke. Rainer
Maria Rilke escreveu uma pequena obra prima chamada ‘Cartas a um jovem poeta’. Um
rapaz, pretendendo tornar-se escritor, pede conselhos a Rilke. São cinco cartas,
que muito me impressionaram quando as li pela primeira vez. De todas elas,
recordo-me de uma frase que diz mais ou menos o seguinte: pergunte a si mesmo
se você conseguiria ser qualquer outra coisa na vida que não escritor. Se você
responder ‘não’, então siga em frente. Na verdade, o que ele textualmente
escreveu (encontrei na internet) é o seguinte:
"Procure
entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se
estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si
mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a
si mesmo na hora mais tranquila de sua noite: "Sou mesmo forçado a
escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa,
se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples
"sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade.”
Então é isso:
se o camarada se torna professor só porque levou pau no vestibular de direito, medicina,
engenharia ou qualquer outra profissão, esse não é um professor de verdade.
Segunda
coisa: sala dos professores. Quando bate o sinal do intervalo, a sala dos professores
se enche de mestres com uma expressão um tanto difícil de caracterizar: um
misto assim de alívio e irritação. Eles se juntam em torno da mesa do cafezinho
e, com a xícara não mão, se atiram no seu sofá habitual (os mais velhos têm
poltronas cativas). Acendem um cigarro – os que ainda fumam – e passam o intervalo
inteiro falando mal de um ou outro aluno, de uma ou outra classe, ou às vezes
de todos os alunos, dependendo do dia. Reclamam do calor, da dor nos pés, do
salário - enfim, de tudo. Quando o intervalo acaba, levantam-se com um ar
resignado e partem para as próximas aulas do dia.
Mas quando
entram na sala de aula, encaram a turma indócil, respiram fundo e dão o melhor
de si durante aqueles 45 ou 50 minutos. Nenhum aluno, por mais perspicaz que
seja, imaginará que aquele sujeito estava quase maldizendo sua profissão alguns
minutos antes. Esse é o verdadeiro professor.
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