Millôr: mais atual do que nunca |
Millôr Fernandes, o imortal que não vestiu
o fardão da Academia, chegou a escrever, ainda na década de 50, que era contra
a escola. Pena que eu não consigo encontrar esse texto na internet, mas believe me, o homem escreveu isso mesmo.
Para ele, não devia haver salas de aula, nem tampouco professores. Em vez de
salas de aula, bibliotecas; em vez de professores, orientadores. Os alunos não
teriam aula, aquela aula expositiva durante a qual eles tinham de se comportar sentadinhos,
enquanto o professor fazia ou dizia o que sua autoridade lhe permitia.
Eles, uma vez que tivessem aprendido a
ler, escrever e ‘fazer contas’, teriam a liberdade de pesquisar nos livros os
assuntos que lhe interessassem. Notem que, nessa época, não existia o
computador.
Summerhill |
Na década de 1920, Alexander Sutherland
Neill, um educador escocês, fundou Summerhill, uma escolinha no leste da
Inglaterra, que existe até hoje. É a primeira escola verdadeiramente livre na
história da educação, na qual os alunos e os professores decidem, em
assembleias, e através do voto, o que eles querem estudar. Não só o quê, mas
como e quando. É um internato. Eles vivem e estudam lá. Não há divisão de
alunos por faixa etária. É tudo junto e misturado. Os professores não dão aula,
a menos que a maioria decida em contrário. No mais das vezes, os mestres se
limitam a orientar a curiosidade da meninada.
Indagado certa vez se Summerhill já havia
produzido alguma figura de destaque no Reino Unido, A.S. Neill respondeu mais
ou menos o seguinte: “Não, minha escola de maneira geral não forma médicos,
engenheiros, advogados, muito menos políticos. Meus ex-alunos são hoje
mecânicos, eletricistas, marceneiros...” E, depois de uma pausa, completou:
“mas todos felizes.” Isso também aconteceu antes da internet.
Escola da Ponte |
O Professor José Pacheco fundou em
Portugal a Escola da Ponte, que em muito se assemelha a Summerhill. Numa entrevista
publicada na Folha de São Paulo em 6/9/16, ele faz afirmações contundentes, das
quais transcrevo algumas:
1. “Não se aprende nada numa aula. Quando digo
isso, há professores que se levantam indignados e dizem que aprenderam tudo na
aula.”
2. “A escola que está aí, igual à do século
XIX, só produz ignorância e infelicidade.”
3. ‘Será que um médico trabalha com os
recursos e com as fundações teóricas do século XIX? Não. O professor trabalha.”
4. “As novas tecnologias são incontornáveis.
Nós as autorizamos ao limite: a criança trabalha com o celular, o iPhone, o
laptop, tudo. Desde que haja acesso à informação, vamos lá.”
Tudo muito bom, tudo muito bem. Todavia, gostaria,
data venia, de fazer algumas observações. O século XX, que acabou agorinha,
produziu gênios do quilate de Bill Gates, Steve Jobs, Alan Touring (computador),
Carlos Drummond de Andrade, Gabriel
García Márquez, Wilkins, Crick e Watson,
Salvador Dali, the Beatles, Oscar Niemeyer, Charles Chaplin, entre muitos outros.
Todos eles estudaram em escolas caretas, quadradas, chatas.
Para encerrar: eu, que sou um produto do
século passado, também estudei em escolas assim e fui um professor assim. Será
muito deprimente chegar ao fim da vida, constatando que eu não ensinei nada,
meus alunos não aprenderam nada e, portanto, não me devem nada.
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