sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O que você ia ser quando crescesse


Que tal?

Antigamente, era fácil responder essa pergunta. Os meninos respondiam bombeiro, astronauta e piloto. As meninas, médica de crianças, professora e bailarina. Depois de crescidos, eles e elas se tornavam advogados, engenheiros, médicos e administradores de empresa. Havia bem poucas opções – tanto nos sonhos da criançada, como no mundo real do mercado de trabalho.

Eu, por exemplo, aos 13 anos, anunciei em casa que ia ser advogado. E, realmente, me formei em Direito, ando sempre com a carteira da OAB no bolso, caso eu precise (se é que vocês me entendem), mas graças a Têmis, a deusa da Justiça na mitologia grega, nunca exerci a advocacia.
Têmis, deusa da justiça

Hoje, a coisa está bem mais complicada. “Quando eu crescer eu quero ser gerente de infraestrutura, ou coordenador de plataformas mobile e web; talvez controller ou gerente de tesouraria com foco em operações estruturadas, o que é uma boa, parece. Mas também tem as ciências moleculares, a bioenergia sucro-alcooleira e a gestão de políticas públicas, que também me atraem bastante. Que você acha, papai? Que você acha, mamãe?”

A resposta mais fácil – e não necessariamente a melhor – é: seja o que eu já sou. Você vem trabalhar comigo e mais tarde herda o meu consultório, o meu escritório, a minha firma.

Outra resposta fácil também é: cê que sabe, filho/a, o que você decidir papai e mamãe vão te apoiar, o que é uma maneira simpática de dizer: não faço a menor ideia.

E por quê? Porque há informação demais no mundo de hoje. O bombardeio é intenso e ininterrupto. É impossível manter-se a par dos milhões de notícias que nos chegam a cada segundo.
‘Kerry anuncia acordo para trégua na Síria.’ Você sabe quem é Kerry? E o que está acontecendo na Síria? Aliás, onde fica a Síria? E as eleições nos Estados Unidos, você tem acompanhado? Do Trump você já ouviu falar, mas e os outros?  Einstein estava certo quanto âs ondas gravitacionais. Que coisa, hein? Alckmin afirma que ‘quem for culpado será punido’. Mas do que raios ele está falando? ‘Juros sobem em janeiro pelo 16º mês consecutivo.’ Assim, onde é que nós vamos parar? Na imprensa internacional, o cardápio de momento é: ‘Richard Dawkins has stroke, forcing cancellation of Australia and New Zealand tour.’ Você já leu Richard Dawkins? Não? Recomendo ‘Deus, um delírio’. É ótimo. ‘Putin is a bigger threat to Europe’s existence than Isis,’ says George Soros.’ Pô, acho que esse Soros (quem é esse cara, mesmo) está exagerando. And so on and so forth.

Aos pais cabe apenas (e não é pouco) prestar atenção nos filhos, bater papo com eles e tentar vislumbrar, da maneira mais sutil possível, que habilidades e/ou competências eles parecem ter. Nada de forçar a barra. Uma coisa, porém, é certa: seja lá qual for a escolha futura, o jovem vai ter que saber – na marra, como se dizia no meu tempo – falar inglês e lidar com computador.

Lembro sempre o que me contou um amigo: depois de observar o filho apanhar da bola e não conseguir fazer mais que duas ou três ‘embaixadas’, pôs a mão na cabeça do menino e disse: “Estuda, filho, estuda, porque futebol não é sua praia.”

  




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