quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Existe essa coisa de 'melhor dicionário'? Parte 2

Os burros chamam o dicionário de 'pai dos burros'


Ontem, eu falei dos dicionários online inglês-inglês. Hoje, quero me deter um pouco em dois ou três outros tópicos:

Em primeiro lugar, os dicionários online inglês-português. Também fiz uma pequena pesquisa comparativa, usando a palavra guardrail como ponto de partida. Eis o resultado:

Aulete: barreira ou mureta de proteção us. nas estradas e pistas de competição

Bab.la: corrimão, gradil

Infopedia: grade de proteção

Linguee: balaustrada

Michaelis: cerca de segurança

Portuguese Dictionary: trilho de segurança, corrimão

SensAgent: corrimão, trilho de segurança

À primeira vista, a melhor explicação é a do Aulete. Pelo menos, é o significado com o qual estamos mais familiarizados, uma vez que a palavra já está praticamente incorporada ao nosso léxico, divulgada à exaustão pelas transmissões de corridas de Fórmula 1. Contudo, minha preferência (sempre lembrando que a escolha é muito subjetiva) vai para Linguee, não em virtude da ‘balaustrada’, palavra rara entre nós, mas porque este dicionário oferece um grande número de frases em inglês e suas correspondentes traduções, as quais vão muito além da infeliz balaustrada.
Em segundo lugar, os dicionários de papel. Devo ter uns trinta, no mínimo, mas hoje, quase não faço mais uso deles. Vou direto na internet. Os meus favoritos eram o Cobuild (disparado, o melhor, na minha opinião – depois eu explico), o Oxford, o Cambridge, o BBI e o Webster, nessa ordem. Mais adiante, voltarei ao Webster.

Como justificar esta minha preferência rasgada pelo Cobuild? Permitam-me fazer uma comparação com uma palavra colhida a esmo, comeback, por exemplo:

COLLINS COBUILD ENGLISH DICTIONARY

comeback /’kVmb{k / comebacks

1 If someone such an entertainer or sports personality makes a comeback, they return to their profession  or sport after a period of absence. Sixties singing star Petula Clark is making a comeback.
2 If something makes a comeback, it becomes fashionable again. Tight fitting T-shirts are making a comeback.
3 If you have no comeback when someone has done something wrong to you, there is nothing you can do to have them punished or held responsible, for example because the law or a rule prevents it.

OXFORD Advanced Learner’s Dictionary of current English:
comeback /’kVmb{k / n 1 a return to a former successful position: an ageing pop star trying make/stage a comeback. 2 (infml) a quick reply to a critical remark.

CAMBRIDGE INTERNATIONAL DICTIONARY OF ENGLISH
come.back /’kVmb{k / n [C] a successful attempt to get power, importance or fame again after a period of having lost it. With ten extra years and ten extra kilos on him, the boxer failed to make a comeback.

THE BBI COMBINATORY DICTIONARY OF ENGLISH
comeback n. [‘recovery’ 1. to attempt, try; make a ~ 2. a successful; unsuccessful ~ [‘retort’] 3. a snappy ~

Webster’s New Word Dictionary of the American Language (second college edition):
come.back (kum´bak´) n. [Colloq.] 1. a return to a previous state or position, as of power, success, etc. 2. a witty answer; retort 3. ground for action or complaint; recourse

O Cobuild, como facilmente se vê, vai mais longe, é mais rico. Praticamente todas as explicações se iniciam por if, sempre tentando contextualizar o verbete. Os demais limitam-se a explicar o vocábulo e dar algum exemplo.

A exceção fica para o BBI, que não é propriamente um dicionário, no sentido tradicional da palavra. O que o BBI tem de original é que ele é mais um dicionário de collocations, ou seja, ele fornece combinações de palavras, como, por exemplo, que verbos costumam ser usados com seus respectivos objetos diretos, ou que adjetivos são normalmente usados com certos substantivos: call an alert, hatch a conspiracy, crack a smile; body: an advisory ~; a solid ~; a decomposing ~

Entre os meus inúmeros dicionários, está a edição histórica do Webster’s New International Dictionary, de 1936, que pesa 7.1 quilos (juro, eu pesei), tem 3.350 páginas e contém um erro colossal, que passou anos despercebido e só foi corrigido, com a supressão de uma palavra que não existe, senão em 1947.

Bola fora - quem diria?

Naquela época, os verbetes eram escritos a mão em pequenas fichas de papel. O especialista em química/física escreveu “D or d. cont/density”. O que ele pretendeu foi dizer que a palavra density, em química e física, pode ser abreviada por D ou d. Alguém empastelou o manuscrito, juntou D+or+d e o resultado foi o seguinte:
dord (dôrd) n. Physics & Chem. Density
Quanto aos dicionários inglês-português, ainda fabricados com papel, o universo aqui é bem menor: Antonio Houaiss, Jelin, Landmark, Longman, Michaelis, Porto Editora e Password.  
A modéstia me impede de apontar o mais sério, o mais criterioso, o mais honesto e o quase enciclopédico dicionário bilíngue. Deixo a escolha para vocês.

Sem palavras





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