sábado, 17 de dezembro de 2016

Break a leg


O mundo do teatro está cercado de superstições. ‘Macbeth’, de Shakespeare, por exemplo, tem a fama de maldita. A cada montagem, acontecem acidentes, um holofote cai na cabeça de um maquinista, uma atriz tem um ataque cardíaco, o teatro pega fogo etc. Dá azar pronunciar o nome Macbeth fora da peça. Os atores, produtores, diretores e toda a equipe só se referem à tragédia como ‘a peça escocesa’.

Dizem que o Theatre Royal em Bath (não me perguntem por que o teatro se chama Theatre Royal  e não Royal Theatre – eu perguntei para uma inglesa e ela não soube me responder) é mal assombrado. Alguns expectadores juram de pé junto que já viram o fantasma de uma antiga atriz, conhecida popularmente como Lady Grey.

Uma norma que é seguida à risca na Inglaterra é nunca desejar boa sorte aos atores dizendo ‘good luck’. Em vez de ‘good luck’, deve-se dizer ‘break a leg’, de origem obscura. Existem várias hipóteses para explicar a razão de tal superstição, mas isso não vem ao caso. Se quiserem, deem uma espiada em https://en.wikipedia.org/wiki/Break_a_leg.


Na França, os atores também são supersticiosos. Lá, pelas mesmas inexplicáveis razões, ninguém lhes deseja ‘bonne chance’. O correto, se é que se pode dizer isso, é ‘merde’, que dispensa tradução.

No Brasil seguimos a tradição francesa.


Pois bem. O annus horribilis de 2016 está terminando, as festas se aproximam e eu quero me dirigir a todos os membros dos três poderes da República, sem nenhuma distinção, da maneira mais democrática possível. Vocês não são atores, cantores, músicos ou bailarinos. Vocês são tudo, menos artistas. Por isso, eu desejo de coração que, sem exceção, todos vocês break a leg, no sentido literal da frase, e que 2017 lhes traga montanhas de merde. 

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