sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Nobel de Literatura




Bob Dylan
Em 1964, o povo americano, ainda chocado com o assassinato de John F. Kennedy em outubro do ano anterior , tinha agora um novo presidente, Lyndon B. Johnson.

Entra em cartaz Dr. Strangelove, uma comédia noir, dirigida por Stanley Kubrick, que satiriza sem piedade a política da guerra fria.

Betty Friedman publica The Feminine Mystique, livro que marca o início da revolução feminista.

Os Beatles invadem e tomam de assalto os Estados Unidos após um show no programa de Ed Sullivan.

Cassius Clay vence Sonny Liston e é declarado campeão mundial dos pesos pesados. Converte-se ao islamismo e muda de nome: Mohammad Ali. Recusa-se a lutar no Vietnã e é excluído do mundo do boxe por dez anos.

Pela primeira vez, um ator negro, Sidney Poitier, ganha o Oscar de melhor ator por seu desempenho em Lillies of the Field (Uma voz nas sombras, aqui no Brasil).

Os Rolling Stones, ao lançar England’ newest Hit Makers, que vendeu 12 milhões de LPs só na Inglaterra, consolidam a ‘invasão britânica’ nos Estados Unidos.

Em maio, 12 estudantes queimam em praça pública suas fichas de convocação para a guerra no Vietnã. Este gesto marca o início dos protestos contra a guerra.

O presidente Lyndon Johnson assina o Civil Rights Act, proibindo – pelo menos no papel – qualquer tipo de discriminação baseada na raça, religião ou orientação sexual. A luta continua.

Aumenta o número de jovens convocados para a guerra, com autorização do Congresso. Aumentam também os protestos.

A Warren Commission, designada para investigar a morte de Kennedy, declara que Lee Harvey Oswald agiu sozinho. Até hoje não há certeza disso e de tudo o mais que envolve o caso.

Os estudantes da Universidade Berkley na Califórnia iniciam um protesto que dura meses e se espalha por todo o país.

Martin Luther King ganha o Prêmio Nobel da Paz pela sua luta em prol dos direitos civis.

Fora o resto.

Foi no meio disso tudo que Bob Dylan lançou The times, they are achanging.
Come gather 'round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You'll be drenched to the bone
If your time to you
Is worth savin'
Then you better start swimmin'
Or you'll sink like a stone
For the times they are a-changin'

Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won't come again
And don't speak too soon
For the wheel's still in spin
And there's no tellin' who
That it's namin'
For the loser now
Will be later to win
For the times they are a-changin'

Come senators, congressmen
Please heed the call
Don't stand in the doorway
Don't block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There's a battle outside
And it is ragin'
It'll soon shake your windows
And rattle your walls
For the times they are a-changin'

Come mothers and fathers
Throughout the land
And don't criticize
What you can't understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is
Rapidly agin'
Please get out of the new one
If you can't lend your hand
For the times they are a-changin'

The line it is drawn
The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is
Rapidly fadin'
And the first one now
Will later be last
For the times they are a-changin'
Chico

E como estava o Brasil em 1970?
A ditadura ia de vento em popa. Censura, tortura, medo, insegurança, you name it.
José Pepe Mujica, futuro presidente do Uruguai, foi impedido pela polícia federal de entrar em nosso país.
Com a anuência do Congresso, instala-se a censura de livros, jornais e revistas.
Um grupo de esquerda sequestra o cônsul japonês em São Paulo, Nobuo Okuchi, solto dias depois em troca da libertação de cinco presos políticos.
Os Novos Baianos lançam É ferro na boneca, seu primeiro disco, de inspiração tropicalista. Paulinho da Viola entra em campo com Foi um rio que passou na minha vida. Roberto Carlos comparece com Jesus Cristo. Eu Te Amo Meu Brasil, de Dom & Ravel, fez grande sucesso por ocasião da Copa do México.
Merecem também ser citados Rita Lee, com José, Azul da Cor do Mar, de Tim Maia, Bandeira branca, com Dalva de Oliveira, Meu Laiá-Raiá, de Martinho da Vila, e um monte de outros sucessos brasileiros, disputando (e perdendo, é óbvio) espaço para os Beatles, Simon & Garfunkel, Jackson 5, Elvis Presley, Peter, Paul & Mary etc. etc. etc.
O Brasil vence, no México, a Copa do Mundo pela terceira vez e conquista em definitivo a Taça Jules Rimet, aquela que sumiu em 1983.
Em novembro, o povo vai às urnas para eleger senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores. A Arena, partido do governo militar, vence, de cabo a rabo (no bom sentido, claro), como era de se esperar. Faz 233 deputados e 40 senadores; o MDB, o partido de oposição (por assim dizer), 87 deputados e 6 senadores.
Em meio a esse ambiente pesado, Chico Buarque lança Apesar de você. A letra, como sempre, é submetida à censura prévia, que não vê nada de atentatório à segurança nacional. Aquele ‘você’ devia ser só uma namorada. Só que não. O ‘você’ era a ditadura.
Meses depois de lançada, a música é proibida e o censor, que comeu mosca, é devidamente punido na forma da lei.
Apesar de Você
Hoje você é quem manda
 Falou, tá falado
 Não tem discussão
 A minha gente hoje anda
 Falando de lado
 E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
 E inventou de inventar
 Toda a escuridão
 Você que inventou o pecado
 Esqueceu-se de inventar
 O perdão
Apesar de você
 Amanhã há de ser
 Outro dia
 Eu pergunto a você
 Onde vai se esconder
 Da enorme euforia
 Como vai proibir
 Quando o galo insistir
 Em cantar
 Água nova brotando
 E a gente se amando
 Sem parar
Quando chegar o momento
 Esse meu sofrimento
 Vou cobrar com juros, juro
 Todo esse amor reprimido
 Esse grito contido
 Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
 Ora, tenha a fineza
 De desinventar
 Você vai pagar e é dobrado
 Cada lágrima rolada
 Nesse meu penar
Apesar de você
 Amanhã há de ser
 Outro dia
 Inda pago pra ver
 O jardim florescer
 Qual você não queria
 Você vai se amargar
 Vendo o dia raiar
 Sem lhe pedir licença
 E eu vou morrer de rir
 Que esse dia há de vir
 Antes do que você pensa
Apesar de você
 Amanhã há de ser
 Outro dia
 Você vai ter que ver
 A manhã renascer
 E esbanjar poesia
 Como vai se explicar
 Vendo o céu clarear
 De repente, impunemente
 Como vai abafar
 Nosso coro a cantar
 Na sua frente
Apesar de você
 Amanhã há de ser
 Outro dia
 Você vai se dar mal
 Etc. e tal
 Lá lá lá lá laiá
Poeta por poeta, eu sou mais o Chico.




















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