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Bob Dylan |
Em 1964, o povo americano,
ainda chocado com o assassinato de John F. Kennedy em outubro do ano anterior ,
tinha agora um novo presidente, Lyndon B. Johnson.
Entra em cartaz Dr. Strangelove,
uma comédia noir, dirigida por
Stanley Kubrick, que satiriza sem piedade a política da guerra fria.
Betty Friedman publica The
Feminine Mystique, livro que marca o início da revolução feminista.
Os Beatles invadem e tomam de
assalto os Estados Unidos após um show no programa de Ed Sullivan.
Cassius Clay vence Sonny
Liston e é declarado campeão mundial dos pesos pesados. Converte-se ao
islamismo e muda de nome: Mohammad Ali. Recusa-se a lutar no Vietnã e é
excluído do mundo do boxe por dez anos.
Pela primeira vez, um ator
negro, Sidney Poitier, ganha o Oscar de melhor ator por seu desempenho em Lillies of the Field (Uma voz nas sombras, aqui no Brasil).
Os Rolling Stones, ao lançar England’ newest Hit Makers, que vendeu
12 milhões de LPs só na Inglaterra, consolidam a ‘invasão britânica’ nos
Estados Unidos.
Em maio, 12 estudantes queimam
em praça pública suas fichas de convocação para a guerra no Vietnã. Este gesto
marca o início dos protestos contra a guerra.
O presidente Lyndon Johnson
assina o Civil Rights Act, proibindo
– pelo menos no papel – qualquer tipo de discriminação baseada na raça,
religião ou orientação sexual. A luta continua.
Aumenta o número de jovens
convocados para a guerra, com autorização do Congresso. Aumentam também os
protestos.
A Warren Commission, designada
para investigar a morte de Kennedy, declara que Lee Harvey Oswald agiu sozinho.
Até hoje não há certeza disso e de tudo o mais que envolve o caso.
Os estudantes da Universidade
Berkley na Califórnia iniciam um protesto que dura meses e se espalha por todo
o país.
Martin Luther King ganha o
Prêmio Nobel da Paz pela sua luta em prol dos direitos civis.
Fora o resto.
Foi no meio disso tudo que Bob
Dylan lançou The times, they are
achanging.
Come gather 'round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You'll be drenched to the bone
If your time to you
Is worth savin'
Then you better start swimmin'
Or you'll sink like a stone
For the times they are a-changin'
Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won't come again
And don't speak too soon
For the wheel's still in spin
And there's no tellin' who
That it's namin'
For the loser now
Will be later to win
For the times they are a-changin'
Come senators, congressmen
Please heed the call
Don't stand in the doorway
Don't block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There's a battle outside
And it is ragin'
It'll soon shake your windows
And rattle your walls
For the times they are a-changin'
Come mothers and fathers
Throughout the land
And don't criticize
What you can't understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is
Rapidly agin'
Please get out of the new one
If you can't lend your hand
For the times they are a-changin'
The line it is drawn
The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is
Rapidly fadin'
And the first one now
Will later be last
For the times they are a-changin'
Chico |
E como estava o Brasil em 1970?
A ditadura ia de vento em
popa. Censura, tortura, medo, insegurança, you
name it.
José Pepe Mujica, futuro
presidente do Uruguai, foi impedido pela polícia federal de entrar em nosso
país.
Com a anuência do Congresso,
instala-se a censura de livros, jornais e revistas.
Um grupo de esquerda sequestra
o cônsul japonês em São Paulo, Nobuo Okuchi, solto dias depois em troca da
libertação de cinco presos políticos.
Os Novos Baianos lançam É ferro na boneca, seu primeiro disco,
de inspiração tropicalista. Paulinho da Viola entra em campo com Foi um rio que passou na minha vida.
Roberto Carlos comparece com Jesus Cristo.
Eu Te Amo Meu Brasil, de
Dom & Ravel, fez grande sucesso por ocasião da Copa do México.
Merecem também ser citados Rita Lee,
com José, Azul da Cor do Mar, de Tim Maia, Bandeira branca, com Dalva de Oliveira, Meu Laiá-Raiá, de Martinho da Vila, e um monte de outros sucessos
brasileiros, disputando (e perdendo, é óbvio) espaço para os Beatles, Simon
& Garfunkel, Jackson 5, Elvis Presley, Peter, Paul & Mary etc. etc.
etc.
O Brasil vence, no México, a
Copa do Mundo pela terceira vez e conquista em definitivo a Taça Jules Rimet, aquela
que sumiu em 1983.
Em novembro, o povo vai às
urnas para eleger senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e
vereadores. A Arena, partido do governo militar, vence, de cabo a rabo (no bom
sentido, claro), como era de se esperar. Faz 233 deputados e 40 senadores; o MDB,
o partido de oposição (por assim dizer), 87 deputados e 6 senadores.
Em meio a esse ambiente pesado, Chico
Buarque lança Apesar de você. A letra,
como sempre, é submetida à censura prévia, que não vê nada de atentatório à
segurança nacional. Aquele ‘você’ devia ser só uma namorada. Só que não. O ‘você’
era a ditadura.
Meses depois de lançada, a música é
proibida e o censor, que comeu mosca, é devidamente punido na forma da lei.
Apesar de Você
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Lá lá lá lá laiá
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Lá lá lá lá laiá
Poeta por poeta, eu sou mais o Chico.
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