Já não é mais assim? |
Na Alemanha, pouca gente fala
português. O Bubsko, por exemplo, meu neto de quatro anos, não fala. Um ano
atrás, falava. E nós nos entendíamos muito bem. Ele pôs naquela cabecinha linda
que o problema é meu: se eu quiser me comunicar com ele, eu que aprenda a
língua que ele usa no Kindergarten,
no parquinho e, sobretudo, em casa.
A muito custo, consegui que
ele repetisse – por pura gozação, que eu sei – a falar melancia, leite e
menina. Não faço ideia porque ele escolheu essas três palavras, mas foram as
únicas que eu consegui arrancar daquela boquinha de anjo.
Derrotado na minha vã
tentativa de ensinar-lhe a última flor do Lácio, inculta e bela, passei a
interagir com ele na base da entonação, ou seja, pelo jeitão com que ele me
mostrava um bonequinho, eu perguntava idiotamente: “Esse é o Captain Cody?” “Nein,”
ele respondia, e emendava, na língua de Goethe: “Bla bla bla,blaaaa!” Com esse
último ‘bla’ era tônico, eu deduzia qualquer bobagem e seguia daí, dizendo mil
coisas que, muito provavelmente, não tinham a menor relação com o tal
bonequinho. Acho que ele desistiu de mim, concluindo que o vovô é um verrückt irrecuperável,
isto é, doido de pedra.
Bom, comecei a pensar, se não
é assim que se ensina português para um alemãozinho adorável, como é que se
ensina inglês para um brasileiro? Já não é mais do meu jeito? Nada de lista de
verbos irregulares? Diferenças entre Simple Past e Present Perfect? Bobagem. Prepositions?
Vade retro, Satanás!
Fui dar uma espiada nesses
cursos de inglês on-line. Fiquei com a leve impressão de que se trata mais de
uma lista de conselhos de auto-ajuda. Talvez eu esteja enganado.
E os tais teaching aids? Que
fim levou o bom e velho giz? Agora, tremo ao pensar em entrar numa sala de aula,
encarar aquele bando de delinquentes em potencial e, em vez de pousar meus text
books na mesa, começar a aula usando LCD projects, film projectors, TV,
computers, VCD players, multimedia e sei lá o que mais.
As poucas palestras que dei
usando o temível power point só foram possíveis graças à inestimável ajuda do
meu amigo Eduardo, sem o qual eu teria sido obrigado a declinar do convite para
palestrar.
Este é o futuro - parece |
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