domingo, 2 de setembro de 2018

Don Frost


Don Frost
Quando levei um grupo de alunos para fazer um curso de inglês na Inglaterra, fiquei hospedado com um casal de cerca de 60 anos. Na noite em que lhes mostrei uma foto da minha mãe, o Don exclamou:
- Mas é a cara da minha mãe! A partir daí, eles como me adotaram como filho, já que não tiveram ou não quiseram ter seus próprios filhos.
Na Segunda Guerra Mundial, o Don serviu na Marinha e tinha mil histórias para contar. “Quantas vezes você precisou dizer adeus, Don?” Aí ele não respondia.
O inglês dele era perfeito. Você até conseguia ouvir as vírgulas em sua fala, por assim dizer.
Na última vez em que fui visitá-lo, perguntei-lhe de cara como ele estava e a resposta veio fulminante:
- Rotten from head to foot (Podre da cabeça aos pés), que, aliás, é como me sinto agora.
Bem, ele faleceu alguns meses depois. Ao me despedir dele, achei que seus olhos estavam vermelhos. Mas não julguei que fosse por minha causa.
Numa carta, sua esposa Doris comunicou a sua morte. Em resposta, dei-lhe meus mais sinceros pêsames e convidei-a para o casamento da minha filha em Köln, na Alemanha. Ela aceitou o convite!
No ano seguinte, fui ao cemitério, sentei-me num banco embaixo de uma árvore e bati um longo papo com ele. A princípio em inglês, depois em português, pois agora ele podia qualquer língua.
A Doris não quis me acompanhar.

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