terça-feira, 7 de agosto de 2018

Ruas


RUAS 

Christovam Gonçalves, Bartolomeu Zunega, Belchior Coqueiro, Martim Carrasco e Miguel Isasa. Foi dentro desses limites que passei minha infância, jogando bola, empinando quadrado, jogando pião, bolinha de gude e taco. Devo confessar que eu era péssimo em todas essas modalidades. Mas havia uma em que modestamente me sobressaía: polícia e ladrão. Adorava ser escolhido para ladrão. Conseguia me enfiar por entre as plantas de algum jardim, principalmente o jardim de um predinho de três andares na Bartolomeu Zunega, onde se não me falha a memória, morava o Hércules, menino mimado, dono de uma bola de capotão, que raramente emprestava para a gente.

O Grupo Escolar Alfredo Bresser ficava na esquina da Sumidouro com a Fernão Dias, mas lá já era o início do território proibido, onde morava uma turma enfezada que não estava disposta a dividir o terreno com ninguém. O líder desse pessoal era o Caveira. Dá pra sentir a barra? Caveira.
Isso incluía pegar balão, desde os mais simples, tipo chinesinho, até os grandes, coloridos, confeccionados com esmero e capricho. Em 58, quando o Brasil ganhou a Copa, o balão que soltaram ocupou todo o Largo da Batata, que não era, é claro, tão grande como é hoje.

E havia a Teodoro Sampaio, a principal rua do bairro, com casas comerciais em ambos os lados. Não tenho certeza, mas parece que meu pai chegou a ter uma loja na Teodoro.  A pastelaria na esquina da Cunha Gago, os Correios, na própria Cunha Gago – essas coisas tornavam Pinheiros uma comunidade um tantinho mais humano.

Na Cardeal funcionou durante anos uma sinagoga e na frente do sobrado uma escolinha. Acho que tudo isso desapareceu, e Dona Phella e Dona Sada se encarregaram de incutir o pavor medonho que cercava o jardim de infância daqueles tempos.
Ficaram as ruas e ficou a saudade.

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