segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Brasília


Brasília
Em 1988, fui convidado pela SellBooks, através de sua CEO Selda Berger, a dar uma palestra na Casa Thomas Jefferson, em Brasília. Para quem não sabe do que se trata, posso dizer que a Casa é um Centro Binacional, sem fins lucrativos, ligado de alguma forma ao governo americano. Seu objetivo é promover o intercâmbio cultural entre brasileiros e americanos através de eventos, cursos, workshops e palestras.
O congresso, se é que se pode chamá-lo assim, duraria uma semana, era destinado não a simples professores de inglês, mas a proprietários, diretores e supervisores de escolas bilíngues de português e inglês. Ou seja, uma plateia altamente qualificada, e dos cinco palestrantes, eu era o único brasileiro.
Quando soube disso fiquei petrificado. E mais petrificado ainda fiquei quando a organizadora do evento pediu-me para trocar de dia com um americano que estava escalado para falar na terça, mas que tinha tido um problema com o voo e só estaria available na quinta.
- O senhor poderia trocar com ele?
- No problem, respondi, apavorado.
Não assisti à palestra da segunda-feira. Alegando uma desculpa qualquer, voltei para o meu quarto de hotel e passei a revisar tudo que havia escrito. Era um texto longo – a palestra tinha que durar entre duas e três horas - em inglês, of course,  
O tema, até onde me lembro, era a insistência em falar inglês em sala de aula, desde o very beginning. Com paciência, com estímulos corretos e com entusiasmo para ensinar, é perfeitamente possível falar inglês com um brasileirinho de dez ou onze anos, que nunca ouviu a língua antes. Aliás, eu continuo acreditando nisso.
No quarto, fiz algo que nunca me ocorreria antes: pedi ajuda à minha mãe, que falecera um mês antes, em setembro. Eu nunca importuno meus mortos, mas dessa vez o caso era sério.
- Me ajuda, mãe, estou com medo.
Não sei se ela ajudou. O fato é que eu dei a palestra, houve os aplausos protocolares de sempre, recebi vários elogios e no coquetel que se seguiu à cerimônia tomei um pilequinho.
Dever cumprido.

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