O banho
Com doze ou
treze anos de idade, mais ou menos, entrei no chuveiro com o pincel de barba e
o aparelho de barbear do meu irmão. Era um aparelho antigo, desses que se abrem
e você põe uma gilete dentro.
Enquanto a água
batia na minha cabeça, sem ter a menor ideia da maluquice que ia fazendo, fui
passando o aparelho nas laterais da cabeça e do rosto, como quem está fazendo a
barba, tirando sem querer tufos de cabelo. Quando me dei conta, o estrago já
estava feito.
Saí da banheira,
olhei-me no espelho e constatei, para meu horror, que um lado da cabeça estava ridiculamente
diferente do outro.
Morto de
vergonha, cobri a cabeça com um boné, peguei dinheiro na bolsa da minha mãe e
corri para a barbearia.
- Que foi isso?
perguntou o Mário barbeiro, mal contendo a gargalhada.
- Corta tudo,
Seu Mário. Pelo amor de Deus. Me deixa careca. E não deixa ninguém me ver
assim.
Devo ter sido um
dos primeiros alunos a frequentar a escola de cabeça raspada. Mas a moda não
pegou. A gozação só parou quando o cabelo cresceu.
Em casa,
silêncio absoluto. Ninguém disse absolutamente nada. Até hoje não sei por quê.
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