segunda-feira, 27 de agosto de 2018

O banho


O banho
Com doze ou treze anos de idade, mais ou menos, entrei no chuveiro com o pincel de barba e o aparelho de barbear do meu irmão. Era um aparelho antigo, desses que se abrem e você põe uma gilete dentro.
Enquanto a água batia na minha cabeça, sem ter a menor ideia da maluquice que ia fazendo, fui passando o aparelho nas laterais da cabeça e do rosto, como quem está fazendo a barba, tirando sem querer tufos de cabelo. Quando me dei conta, o estrago já estava feito.
Saí da banheira, olhei-me no espelho e constatei, para meu horror, que um lado da cabeça estava ridiculamente diferente do outro.
Morto de vergonha, cobri a cabeça com um boné, peguei dinheiro na bolsa da minha mãe e corri para a barbearia.
- Que foi isso? perguntou o Mário barbeiro, mal contendo a gargalhada.
- Corta tudo, Seu Mário. Pelo amor de Deus. Me deixa careca. E não deixa ninguém me ver assim.
Devo ter sido um dos primeiros alunos a frequentar a escola de cabeça raspada. Mas a moda não pegou. A gozação só parou quando o cabelo cresceu.
Em casa, silêncio absoluto. Ninguém disse absolutamente nada. Até hoje não sei por quê.

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