sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Mário Boia


Mário Boia
Quando eu tinha uns sete ou oito anos, levei um tombo no meio da rua Christóvam Gonçalves, onde morava. Eu devo ter tropeçado numa pedra, e bati com o antebraço na pedra.
Três consequências imediatas:
- um dor fortíssima, uma vez que os ossos se encavalaram, quer dizer, um osso pulou em cima do outro;
- por pura vergonha ou medo do meu pai, não falei nada em casa;
- passei a usar uma camisa de manga comprida.
Mas tava difícil disfarçar. O braço quebrado era o esquerdo, eu sou canhoto e já no dia seguinte eu mal conseguia segurar a colher para tomar a horripilante sopa verde da minha mãe: um caldo de ervilha meio pegajoso com uma gema de ovo no meio. Todo dia no almoço. É mole?
Em frente à minha casa, existiu durante anos a venda do Seu César. Só vendia porcaria: pirulito da Kibon, maria mole, doce de leite, de abóbora, bala etc. Um dia eu cheguei a pedir uma ‘groselha de limão’. Mais tarde, a venda virou uma marcenaria.
Havia um degrauzinho, onde a molecada, todos mais velhos do que eu, se juntava para falar besteira e fumar, o grande barato dos anos 50.
Pois não é que o Mário Boia, que morava perto da casa da Dona Ana, começou, como quem não quer nada, a dizer que quem quebrava o braço antes dos dez anos morria com vinte!
Os outros meninos embarcaram nessa lorota e eu fiquei apavorado. Meu irmão me tirou do sufoco.
- O Boia é uma besta. Não liga pra ele.
Nada como ter um irmão sábio, oito anos mais velho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário