quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Martha


Martha
Uma curtinha. Em seu romance The Sound and the Fury. William Falkner introduz um personagem de uns trinta anos de idade, mas retardado. Seu cérebro não tem mais que sete.
Toda manhã, um empregado da fazenda onde mora a família o coloca numa carroça para dar uma volta pela cidade. O percurso é sempre o mesmo: eles entram pelo fim da Main Street e saem pelo começo.
Só que um dia eles inverteram o caminho, e Ben começou a chorar, porque não conseguia identificar a rua.
Eu sou assim. Não tenho o menor senso de direção. Posso andar na mesma rua centenas de vezes, mas, invertendo a mão, sou capaz de jurar que nunca vi aquela rua.
A Martha devia jogar no meu time. Eu, com sete ou oito anos de idade, vinha voltando da escola. Calças curtas, pulovinho xadrez sem manga e uma horrorosa mala de couro que me enchia de vergonha.
Eis que avisto, parada na esquina da Baltazar Carrasco com Christovam Gonçalves (a rua onde eu morava), uma japonesinha da mesma idade que eu. E mais: ela era irmã do meu amigo Sotchan, em cuja casa passei alguns dos melhores momentos da minha infância.
Aproximei-me dela e vi que ela estava chorando.
- Que foi, Martha? Você está perdida?
Ela não respondeu, mas aumentou o choro.
- Vem comigo. Eu te levo até sua casa. Nós estamos bem, pertinho.
Peguei sua mão, bem de leve, e acompanhei-a até o portão, onde Duque, um dinamarquês enorme, veio dar-lhe as boas vindas.
Pronto. A Martha estava salva.

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