domingo, 19 de agosto de 2018

Prof. Karolinsky


Prof. Karolinsky
O Prof Karolinsky foi meu professor de yiddish na Escola Chaim Nachman Bialik, que ficava num sobradão na rua Fradique Coutinho. Foi-me dito que meu pai foi um dos fundadores da escola, mas, quando fui checar essa informação, descobri que o nome dele não consta da ata da fundação da escola. Uma evidente falha da ata, sem dúvida.
Ele e meu pai eram amigos, isso é certo. Tenho comigo algumas fotos antigas, já esmaecidas pelo tempo, com os dois de calção de banho, em Águas de São Pedro.
O Prof Karolinsky era um homem baixo, gordinho e tinha uma peculiaridade: believe it or not, o homem tinha seis dedos numa mão e sete na outra! Não eram propriamente dedos. Diria que eram restos de dedo, tocos de dedo. E com aquelas mãos, ele, de vez em quando, dava uns petelecos na minha cabeça com um livro de capa dura. Não doía.
Foi ele que me preparou para o meu bar mitzva, a cerimônia que insere o jovem judeu como um membro maduro na comunidade judaica. Meu pai morreu quando eu tinha 11 anos e, de acordo com a tradição, eu deveria esperar até os 13 para realizar a cerimônia, mas minha mãe conseguiu antecipar em um ano e aos doze eu me tornei um jovem membro da comunidade judaica.
Nessa ocasião solene, o Professor me ensinou a usar o tefilin –caixinhas pretas com faixas de couro que são colocadas no braço, na altura do coração e também na cabeça. Usei isso uma vez na vida e depois guardei as caixinhas, num caixote e lá ficaram durante décadas, até que as descobri, cheias de poeira. Limpei-as com cuidado e dei-as de presente para um rabino que mora no prédio, para grande espanto da cunhada.
Já adulto, resolvi me casar. Com uma colega da São Francisco. Embora minha mãe adorasse a Rose, ela era contra o casamento, porque era goy, isto é, não judia. E, se não bastasse isso, eu ainda estava disposto a me casar na igreja, o que de fato aconteceu. Igreja Nossa Senhora do Brasil. Minha mãe não foi ao casamento, mas depois eu soube que ela foi. Ficou escondidinha perto da porta de entrada e assistiu a toda a cerimônia, sem se deixar fotografar.
Eu estava num impasse. Não queria aborrecer minha mãe, mas tampouco queria abrir mão dos meus sonhos. Fui procurar o Prof Karolinsky em sua casa, na rua Cunha Gago.
- Você gosta dela?
- Muito.
- Ela gosta de você?
- Acho que sim.
- Então casa.
Casei. Tivemos um casal de filhos. O Daniel me deu dois gêmeos, hoje com 12 anos, e a Tatiana me brindou com três alemães, hoje com 17, 15 e 6 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário