terça-feira, 30 de setembro de 2014

TEMPOS DE ESCOLA (CONT.)

DE COMO ENCAREI MEU TERCEIRO ALUNO
Um dia meu irmão, oito anos mais velho que eu, viu um anúncio no jornal. Algo mais ou menos assim: “Precisa-se de universitário para acompanhar os estudos de um aluno de 3ª série.”
- Por que você não telefona para eles?  perguntou meu irmão.
- Porque eu não sou universitário, respondi.
Eu tinha 16 anos e estava no 2º ano do clássico.
-  Mas acho que você dá conta.
Ele então ligou para o número que aparecia no anúncio e conversou com a mãe do menino, fazendo de conta que era eu que estava falando.
No dia seguinte, peguei o ônibus Pinheiros-Anhangabaú e desci na Praça Nações Unidas. O menino morava perto ali. Às duas da tarde em ponto, toquei a campainha e entrei na casa mais bonita que eu já tinha visto na vida. A sala era enorme, coberta de tapetes persas. Garrafas de cristal sobre um aparador. Quadros grandes nas paredes. Uma lareira!
Fui apresentado ao menino. Devia ter uns 13 ou 14 anos, era forte, mais ou menos do meu tamanho. Não me lembro do seu nome.
Três vezes por semana, eu passava mais ou menos umas duas horas com ele, corrigindo as tarefas de casa, explicando os assuntos vistos em aula, aplicando alguns exercícios extras que eu preparava em casa etc. De que matérias? De todas: história, geografia, português, inglês, francês, matemática...
Matemática? Desculpe, matemática, não. Tudo menos matemática.
Esqueci o nome dele, mas três coisas me ficaram na memória.
A primeira: ele tinha um polegar esquisito. Nascia pelo no lugar da impressão digital. Ao soltar um rojão anos antes, o caramuru explodiu na mão dele e foi preciso fazer um enxerto. Tiraram um pedaço de pele da barriga e puseram no lugar do dedo esfrangalhado. Ficou com cara de remendo de calça de festa caipira. “Com o tempo o pelo cai”, ele explicou.
A segunda: ele ganhou do pai uma Enciclopédia Britânica, edição de luxo, capa branca, que ele provavelmente não ia usar porque era fraco de inglês. Eu fiquei inconformado, remoendo minha inveja com pensamentos do tipo ‘pérola para os porcos’. Anos depois, já na Faculdade, acabei comprando uma Britânica também. Igualzinha, capa branca e tudo. E sabem de quem? Do tio da Consuelo Leandro, aquela atriz que fazia a Cremilda, a ricaça esnobe da Praça da Alegria, cujo bordão era ‘meu marido Oscar’.

A terceira: ele passou em todas as matérias, mas ficou de 2ª época em matemática. 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

CONTA OUTRA, VÓ!

1.    Era uma vez um casulo que sonhou que virava uma borboleta – mas ele não acreditava em sonhos.
2.    Era uma vez uma junta de bois que, toda vez que lhes punham a carroça na frente deles, eles iam para o outro lado – e dava certo!
3.    Era uma vez um tatu inglês cujo nome completo era tatu-bola-de-rugby.
4.    Era uma vez um camaleão que nunca mudava de cor. Questão de princípios, dizia ele.
5.    Era uma vez um grilo falante que vivia dizendo besteiras para o Pinóquio.
6.    Era uma vez uma mula sem cabeça que, em compensação, tinha dois rabos.
7.    Era uma vez um centauro que se casou com uma sereia. Eles tiveram uma lua de mel pra lá de complicada.
8.    Era uma vez um leão amestrado que conseguia enfiar a cabeça na boca do domador.
9.    Era uma vez um menino que atirou um pau no gato-to e o gato-to mor-reu-reu-reu. Miau!

10. Era uma vez um chimpanzé que tinha certeza de que o macaco descende do homem. 

domingo, 28 de setembro de 2014

PENSAMENTOS

1. Obsceno: Matou a cobra, mostrou o pau e foi preso por ultraje público ao pudor (art. 233 do Código Penal).

2. Corredor da morte: E como dizia aquele condenado à pena capital: “Antes nunca do que tarde.”

3. Narciso:         Ela: Eu te acho lindo.
Ele: Eu também.

4. Futebol: Existem times cujos jogadores, quando considerados individualmente, não são grande coisa, mas coletivamente são muito piores.

5. Humildade: Na minha modesta, porém infalível opinião, vocês estão todos enganados.

6. Ku Klux Klan: Só haverá igualdade racial quando todos forem brancos.

7. Dúvida: O plural de selfie é selfies ou selvies? Eu acho que é idiots.

8. Parto: É claro que ninguém pede para nascer. Se pedisse, você acha que alguém ia querer ser filho da puta?

9. Lesa-pátria: Se o crime de lesa-pátria estivesse consignado no Código Penal, a Vanusa estaria presa até agora por ter cantado o Hino daquele jeito.

10. Exemplo de Lula: Veja o meu caso, Dilma: vão-se os dedos, ficam os anéis.


sábado, 27 de setembro de 2014

No início do ano passei duas semanas em Portugal e Espanha. Entre igrejas, capelas, basílicas e catedrais, visitei 354; conventos, mosteiros e santuários, foram 122. Me embasbaquei com todos. Sem dúvida, a maior obra da Igreja são as igrejas.
Depois dessa viagem eu me converti: agora sou devoto de São Bacalhau, Santa Paella e Nossa Senhora do Vinho Tinto. Comi tanto bacalhau que resolvi escrever a receita que vai abaixo.
BACALHAU À FERNANDO PESSOA
Ingredientes (para 4 pessoas)
500 g de bacalhau
4 colheres de sopa de azeite
½ k de batatas
4 ou 5 cebolas
5 ovos
2 dentes de alho
1 colher de sopa de salsa picada
Azeitonas pretas
Sal e pimenta a gosto

Sopra alto o vento lá fora. Virão para a ceia os amigos que convidei?  O Alberto certamente há de cá estar na hora aprazada. Ele é sempre o primeiro a saudar-me quando nos encontramos no Café A Brasileira.
- Dá-me cá um abraço, ó Poeta! diz ele, com seu jeito simples de camponês de pouco estudo. E emenda para o garçom:
- Ó Joaquim, uma bica, se faz favor.
Alberto é alfacinha, isto é, nasceu em Lisboa mas mora no campo, numa casita que lhe deixaram os pais. Solteiro, mora com uma tia velha, e raramente vem à capital. 
- Para que quero eu ver carros e bondes, ruas e avenidas? Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no universo. Por isso minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer, inclusive Lisboa, se me permitem a ousadia.
- Perdoamos, perdoamos, respondia Ricardo. Mas dize-me cá, ó pegureiro: se não bebes nada além de café – o que é uma ofensa ao conhaque - e nem tiras umas baforadas a um belo charuto, ad qui venisti?
- O nosso doutor está a perguntar, Alberto, por que vens ao café se não bebes nem fumas? explica Álvaro.
- Para tomar café, ora pois!
Ricardo é, de certa maneira, o oposto de Alberto. Nascido no Porto de família abastada, formou-se em medicina em Coimbra, mas jamais exerceu a profissão.
- Disso não poderão jamais acusar-me! dizia ele. De facto, tinha horror a sangue.
Educado num colégio de jesuítas, suas aulas eram todas em latim, o que lhe aguçou o apetite pela poesia clássica. Horácio é o seu poeta preferido e volta e meia ele desanda a declamar trechos do Pastor cum traheret, O matre pulchra filia pulchrior, Carpe diem etc. Pessoalmente, acho seu estilo um tanto purista demais, mas, claro, jamais me atreveria a dizer-lho.
- Segue o teu destino, Alberto, e rega lá as tuas plantas. Ama as tuas rosas, que o resto é a sombra de árvores alheias.
Alberto apenas sorri e provoca:
- No fundo, Álvaro, aspiras ser o que já sou.
Álvaro se exalta. Ele vive exaltado:
- Alberto, meu mui querido campônio, tu é que me conheces de verdade. Sabes que não sou nada e que nunca serei nada. Não posso querer ser nada. Fora isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Álvaro é o mais explosivo dos meus convidados. Diz-se um vanguardista e cosmopolita. Ele lembra muito o Jacinto de Thormes, de A Cidade e as Serras, do nosso imortal Eça. Suas ideias futuristas cheiram a progresso e a civilização. Fuma desbragadamente.
- Olha que o fumo há de fazer-te mal, homem! costuma adverti-lo Ricardo, o nosso esculápio arrependido.
- Ora, ora, Doutor, enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. Eu saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos e de todas as especulações.
- Tu é quem sabes, Álvaro, responde Alberto. Os pulmões são teus.
Bem, é tempo de preparar-lhes o jantar. São sete horas da tarde e os convivas hão de chegar por volta das 8. O que preparar para tão díspares seres? Migas com carne de porco? Alberto por certo aprovaria a escolha, mas e os demais? Ricardo torceria o nariz a este festival de costeletas de porco, toucinho, entrecosto e banha. Carré de borrego à dordonhesa? Além de trabalhoso, vai nos ingredientes pâté de fígado trufado. Eu não tolero pâté, que me desculpem os amigos. Tudo, menos pâté.
Acabei optando pelo prato nacional de nossa terra: o bacalhau. Não há português que não aprecie o bacalhau, com iscas ou sem elas! Resolvi, no entanto, fazê-lo à minha moda, sem sofisticação porém com esmero. Na verdade, já ontem pusera o peixe de molho, em água fria, com a pele virada para cima. Hoje cedo, ainda antes do desjejum, retirei-lhe a pele e as espinhas. Depois, envolvi as lascas num pano e esfreguei-as sobre uma mesa. Deste jeito, o meu bacalhau fica em fios.
Agora é hora de descascar as batatas. Meio quilo há de bastar. Vou lavá-las, é claro, e cortá-las em palha. É para isso que tenho um moinho. A seguir, vou lavar novamente as batatas em várias águas, escorrê-las e enxugá-las num pano. Há que deixá-las bem sequitas.
Vou usar dois – não, três – dentes de alho. É preciso descascá-los e picá-los.
As cebolas, quatro ou cinco, vou cortá-las em rodelas finíssimas, que assim me ensinou minha mãe.
A campainha tocou. Chegaram juntos, vindos do Brasileira. Álvaro com seu inseparável charuto, Ricardo com o Jornal do Comércio dobrado em quatro no bolso do paletó e Alberto, de guarda-chuva.
- Passem, passem. Fiquem à vontade, sirvam-se do que lhes aprouver. O jantar já vai à mesa.
- O que teremos hoje? indagou Álvaro.
- É esperar e ver, é esperar e ver, respondi da cozinha.
Mais alguns minutos e vou levar o azeite ao lume numa frigideira. Quando estiver quente, vou juntar-lhe os dentes de alho e assim que o alho começar a alourar, vou adicionar as batatas, para fritá-las ligeiramente. Com um garfo, vou mexê-las sem parar para que não fiquem coladas umas às outras.
Tiro agora as batatas e, na mesma gordura, alouro as cebolas e, em seguida, o bacalhau, misturando tudo por cinco minutos.
- Cinco minutos mais, grito eu.
 Agora é o momento de introduzir as batatas novamente na frigideira, mexendo e regando com os cinco ovos que já bati e temperei com sal e pimenta. Há que mexer sem parar sobre lume médio – eis o segredo. Assim os ovos ficarão macios – eu espero.
Pronto. Levo o bacalhau à mesa, polvilhado com salsa picada e enfeitado com azeitonas pretas.
- E o vinho? perguntam todos, exceto o Alberto.
- Vou buscar, vou buscar.



sexta-feira, 26 de setembro de 2014

HOMENAGEM AO MALUF

1. O Millôr morreu: Maluf, Sarney, Jader et caterva, não.

2. Abrão Lincon: “...e que o governo dos Sarneys, pelos Renans, para os Malufs, nunca desapareça do Brasil.”

3. Ditado: Antes só do que acompanhado de Maluf, Collor, Lula, Dilma, Renan, Sarney, Jader, Bolsonaro, Valdemar da Costa Neto, Valdomiro Diniz, Gilberto Kassab, Ciro Gomes, Eduardo Azevedo, Marco Feliciano, Robson Marinho, Ricardo Teixeira, Pizzolato, Cachoeira, Duda Mendonça, Garotinho, Rosinha, Benedita, Paulinho da Força, Demóstenes Torres, Eike Batista, Michel Temer, Marcos Valério, Genoíno, João Paulo Cunha e Zé Dirceu, Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef etc. etc. etc.

4. Sartre, segundo Maluf: O inferno é não poder passar as férias em Paris.

5. Catilinária: “Quo usque tandem, Maluf, abutere patientia nostra?”

6. Piadinha: Maluf, Collor, Lula, Renan, Arruda, Jáder e Sarney foram condenados à morte por apedrejamento.  Quando a turba ignara estava prestes a executar a sentença, Deus apiedou-se dos condenados e resolveu intervir.
- Esperai, disse Ele, postando-se entre a multidão sedenta de sangue e os pobres condenados. - Atire a primeira pedra quem nunca matou um javali a estilingadas.
Dito isso, o Senhor afastou-se um pouco e ficou observando o espetáculo.

7. De uma vez por todas: Esse Maluf que a Interpol está procurando é outro.

8. Maluf: Por mais que se tente fazer piada com o Maluf, ninguém consegue superá-lo. Existe frase mais engraçada do que a que ele próprio disse? “Sou a ficha mais limpa de São Paulo.”


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

PENSAMENTOS SOBRE A MORTE
1.   Fim: A morte não é o fim de tudo. Ainda tem a certidão de óbito, o velório, as flores...

1.   Alerta: Cuidado! Viver dá câncer.

1.   Vida: A vida é um mal necessário.

1.   Mortos: Por menos que visitemos o cemitério, nunca abandonamos nossos mortos.

1.   Solução final: Para pôr fim a todas as guerras, só há um jeito: dar cabo do ser humano.

1.   Morte: A morte é terrível. Mas tem lá suas compensações.

1.   Pensando bem: Até que não foi tão mal. Pra ser sincero, não me arrependo de ter nascido. 

1.   Contra argumentos não há fatos: Eu me recuso a acreditar que sou mortal.

1.   Morte: O que se perde quando se morre? Em alguns casos, nada.

1.   Fossa: Quando penso que daqui a 5 bilhões de anos o sol vai esfriar e a vida na Terra vai se extinguir, me dá um desânimo...Acho que eu nem vou trabalhar hoje.

1.   Apreço: Não prezo muito minha vida, não. Acho que há coisas mais importantes. 

1.   Paradoxo: É impossível morrer afogado no Mar Morto.

1.   Ponto de vista: Do ponto de vista estritamente pessoal, a minha morte marca também o fim da vida na Terra.
1.   
PENSAMENTOS SOBRE A MORTE
1.   Fim: A morte não é o fim de tudo. Ainda tem a certidão de óbito, o velório, as flores...

1.   Alerta: Cuidado! Viver dá câncer.

1.   Vida: A vida é um mal necessário.

1.   Mortos: Por menos que visitemos o cemitério, nunca abandonamos nossos mortos.

1.   Solução final: Para pôr fim a todas as guerras, só há um jeito: dar cabo do ser humano.

1.   Morte: A morte é terrível. Mas tem lá suas compensações.

1.   Pensando bem: Até que não foi tão mal. Pra ser sincero, não me arrependo de ter nascido. 

1.   Contra argumentos não há fatos: Eu me recuso a acreditar que sou mortal.

1.   Morte: O que se perde quando se morre? Em alguns casos, nada.

1.   Fossa: Quando penso que daqui a 5 bilhões de anos o sol vai esfriar e a vida na Terra vai se extinguir, me dá um desânimo...Acho que eu nem vou trabalhar hoje.

1.   Apreço: Não prezo muito minha vida, não. Acho que há coisas mais importantes. 

1.   Paradoxo: É impossível morrer afogado no Mar Morto.

1.   Ponto de vista: Do ponto de vista estritamente pessoal, a minha morte marca também o fim da vida na Terra.
1.   

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O homem está no hospital. Quimioterapia. Seis ciclos de três dias internados em hospital
Primeiro dia de internação.
- Sr. Israel, este medicamento provoca uma ardência aqui no braço. Está sentindo?
- Não.
- E agora?
- Nada.
- Nem aqui?
- Não. (Ele quase pede desculpas.)

Segundo dia.
- Bom dia, sr. Israel. Passou bem a noite?
- Passei.
- Não teve enjoo, tontura, nada?
- Não.
- Está urinando bem?
- Sim.
- O intestino está funcionando?
- Como um relógio.
- E as fezes?
- Quase uma obra-prima. (Modéstia à parte.)

Terceiro dia.
- É natural sentir um certo cansaço depois do 'cloreto de tripiclopina'. O senhor se sente cansado?
- Não.
- Nem um pouquinho?
- Um pouquinho. (É preciso ceder em alguma coisa...),

- Acho que eu vou lhe dar alta.
PENSAMENTOS

1.   Bom gosto: Já reparou? Toda pessoa de bom gosto tem um gosto semelhante ao da gente.
1.   Bíblia: E como dizia aquele padre pedófilo: “Vinde a mim as criancinhas: Mateus, 19, 13-15”
1.   Surpresa: Só depois que li o jornal é que descobri que vi um filme ótimo ontem.
1.   Escravos de Jó: Sei não, mas esse negócio de ‘tira, põe, deixa ficar’ me sugere outra coisa.


terça-feira, 23 de setembro de 2014

TEMPOS DE ESCOLA 
DE COMO EU NÃO VIREI PROFESSOR DE MATEMÁTICA
- Sabe a Tânia?
- Que Tânia?
- A filha da frangueira.
- Sei. Quique tem ela?
- Tá precisando de aula de matemática.
- Eu não sei matemática.
Este diálogo aconteceu quando eu tinha 15 anos. Minha irmã, que dava aula particulares de inglês, português e taquigrafia, uma vez que ela era, de profissão, secretária bilíngue, queria me empurrar a Tânia, filha da frangueira. A frangueira era uma mulher que tinha um galinheiro no fundo da casa e vendia ovos e frangos para os vizinhos. Minha mãe era freguesa. Até hoje eu não gosto de frango, graças a uma receita única da minha mãe: pega-se uma frango vivo, torce-se o pescoço do infeliz, ferve-se o bicho e retiram-se as penas, procurando não vomitar com o cheiro. Essa é a primeira parte do prato.
Em seguida, esquarteja-se o cadáver em várias partes, joga-se tudo dentro de uma panela com água fervente, adicionam-se batatas e tempero a gosto, et voilà! está pronto um franguinho intragável.
Mas eu divirjo.
- A Tânia usa o mesmo livro que você usou, aquele do Osvaldo Sangiorgi. Você conhece toda a matéria.
Cabe ressaltar que eu na época estava cursando o clássico. Antigamente, quando a gente terminava a 4ª série do ginásio, isto é, a 8ª série do Ensino Fundamental de hoje, havia apenas duas opções: científico, para quem pretendia ser médico ou engenheiro, ou clássico, para quem queria ser advogado. E só. O mundo era bem mais simples.
Eu queria ser advogado. Não havia matemática no clássico. Até hoje eu mal sei a tabuada. Quase repeti de ano na 2ª série por causa do maldito teorema de Pitágoras.
O fato é que, de tanto insistir, eu concordei em ensinar matemática para a Tânia.
Duas vezes por semana, ela vinha até a minha casa, me entregava o dinheiro da aula, que eu enfiava no bolso sem contar – de vergonha – e lá ia eu tentando enfiar algumas fórmulas na cabeça da menina.
O livro continha uma grande número de exercícios, vários dos quais eu toda aula pedia que ela fizesse em casa. As respostas estavam no final do livro.
Um dia, ela chegou, me pagou e disse que não tinha conseguido resolver os 5 exercícios que eu lhe passara como lição de casa. O resultado não batia, ela explicou.
- Qual exercício? perguntei eu. Este aqui? Este aqui é assim: você pega esse número aqui, multiplica, divide, faz isso e faz aquilo e o resultado é este aqui.
Só que a resposta não coincidia com a resposta do fim do livro.
- Péra aí, vou fazer de novo.
Soma, multiplica, tira a raiz quadrada e tal, e pimba! A resposta não bateu de novo.
- Deve ser erro de impressão do livro. Acontece. Deixa eu fazer o próximo.
Mais uma vez eu não acertei o resultado. Tentei, tentei, tentei e não consegui fazer nenhum exercício.
Nisso, a ‘aula’ terminou. Eu havia passado sessenta minutos tentando resolver os exercícios da lição de casa.
Levantei-me da cadeira e, com toda a dignidade possível, enfiei a mão no bolso e devolvi o dinheiro à garota.

Foi a última vez que eu vi a Tânia.
PENSAMENTOS

1.     Brasília: O camarada se elege e parte logo para Brasília, de mala e cuia. A mala eu imagino para o que é, mas o que eu não entendo é a cuia.

2.   Montesquieu: A base do Estado Brasileiro se fundamenta no Três Poderes: Poder Mentir, Poder Roubar e Poder Tirar Um Sarro Com A Nossa Cara.

3.   Palmeiras: É Friporco?


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

PENSAMENTOS
1.   Limite: Qual o limite da grossura? A julgar pelos comentários do Faustão nas Vídeo-Cacetadas, não há limite.
2.   Respeito: Lá em Brasília não tem esse negócio de “ladrão que rouba ladrão”, não. Eles se conhecem.

3.   Apagão: A luz no fim do túnel será desligada por duas horas todos os dias até o próximo período das chuvas.

domingo, 21 de setembro de 2014

PENSAMENTOS
Democracia: Claro que sou um democrata. Todos têm o direito de concordar comigo.
Suprema ironia: A presidente da Petrobras se chama Graça.
Justiça: Todo político deveria ser apedrejado em praça pública. Perdão, todos não. Só os desonestos.
Racismo: “Cada macaco no seu galho” é uma frase que pode dar cadeia hoje em dia.

Mau humor: Diante da avalanche de más notícias, recomenda-se que a presidente não seja fotografada nem de frente, nem de lado, mas sim de longe.

TEMPOS DE ESCOLA
DE COMO DEI MINHA PRIMEIRA AULA
Éramos seis. Eu sei, esse é o título de um romance de Maria José Dupré, mas não é do livro que eu quero falar. Éramos seis: Zezé, Nenê, Wilsinho, Sérgio, João e eu. Seis meninos que jogavam bola com bola de meia no meio da rua, corriam atrás de balão, rodavam pião, empinavam quadrado, essas coisas que se tornaram tão obsoletas quanto máquina de escrever e telefone de discar.
Quando ficamos um pouquinho mais velhos, coisa aí de 14, 15 anos, resolvemos – eu digo ‘resolvemos’, mas na verdade eu mesmo não resolvia nada. Por ser o mais novo da turma, eu fazia o que os outros cinco decidiam – pôr um anúncio no jornal do bairro, A Gazeta de Pinheiros:

AULAS PARTICULARES
Português, Inglês, Matemática, Física, Química e Piano.
Telefone tal, horário comercial
O único interessado foi uma senhora alemã, cujo filho estava indo mal em inglês. O garoto estava no que hoje é a 6ª série do ensino fundamental, 2ª série do ginásio naquele tempo. Estudava no Colégio Estadual Fernão Dias, na Pedroso de Morais.
O Helinho tinha 12 anos e eu, 14. Fazia um ano já que eu estudava inglês no Yázigi. O livro que ele usava era o mesmo que eu tinha usado. Acho que era o único que existia naquela época. Deve ser difícil encontrar alguém que não tenha usado no ginásio o livro do João Fonseca na década de 60.
As aulas começaram e tudo ia bem até que chegamos a uma lição que apresentava as frutas:
peach (pera), apple (maçã), grapes (uvas), strawberry (morango)...Aí entrou areia. Eu pronunciei strawbérry, com acento no bé. O Helinho estranhou. Strawbérry? Não é stráwberry, com acento no stró?
Era. Para não dar o braço a torcer, eu firmei posição:
- Stróbery é em inglês americano; strobéry é inglês britânico. Eu falo strobéri.
Não colou. A partir daí, volta e meia o Helinho me checava:
- É lémon ou límon? Nectarín ou nectaráin?
De qualquer forma, o menino passou de ano e eu ganhei um broche da mãe dele. Era uma folha de árvore, uma folhinha de verdade, banhada a ouro. Feito por ela própria. Eu dei o broche para a minha mãe.

sábado, 20 de setembro de 2014

PENSAMENTOS
1.   Esperança: Eu boto fé no futuro do Brasil: no presente, nem pensar.
2.   Crescimento: Para crescer, o Brasil precisa, principalmente, de tudo.
3.   Oficial: O nome é República Federativa do Brasil, mas pode chamar de Cabe-Recurso.
4.   Paradeiro: Hoje já se sabe onde Judas perdeu as botas. Foi em Brasília. Mas ele não perdeu. Roubaram.
5.   Sacrifício inútil: O cara renunciou para não manchar a imagem da Câmara. Bobagem. Não dá para sujar de merda um chiqueiro.
6.   Gangorra: O PIB parece que está numa gangorra: ora lá embaixo, ora mais embaixo ainda.
7.   Democracia: Claro que sou um democrata. Todos têm o direito de concordar comigo.
8.   Democracia: Claro que sou um democrata. Todos têm o direito de concordar comigo.
9.   Slogan: Brasil, fique longe de mim.
10.               Impunidade: Com essas leis e com esses juízes, não sei por quê a polícia perde tempo em prender bandido.
11.               Democracia: Nos países democráticos, as eleições promovem uma alternância no poder. No Brasil, no máximo há uma reintegração de posse.
12.               Estatística: Somando-se as chuvas do norte com a seca do sudeste, até que os índices pluviométricos estão mais ou menos na média.
13.               Estiagem: Já nem lembro mais quando foi a última vez que eu precisei tirar o cavalinho da chuva.
14.               Latim: Em Roma a máxima era dura lex sed lex; no Brasil, a lex não é dura, e se é dura não dura.
15.               Campanha em Brasília: Mantenha a cidade limpa. Mate um político.
16.               Constatação: Com o país literalmente caindo aos pedaços, para quê alguém vai querer ser presidente?

17.               Eutanásia: Sou totalmente a favor da eutanásia para políticos terminais.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Shakespeare mal traduzido
William Shakespeare (1564-1616)
1.    All’s well that ends well. (Tudo está bem quando bem termina.)
Ainda bem que acabou.

2.    Frailty, thy name is woman! (Fragilidade, teu nome é mulher!)
Fragilidade, isso lá é nome de mulher?

3.    Something is rotten in the state of Denmark. (Há algo de podre no reino da Dinamarca.)
Tem alguma coisa fedendo na Dinamarca.

4. To be or not to be – that is the question. (Ser ou não ser, eis a questão.)
Ser ou não ser - tanto faz.

5. Et tu, Brute? (Até você, Brutus?)
Quem tá aí? É você, Bruto?

6. What’s in a name? That which we call a rose by any other name would smell as sweet. (O que há num nome? A flor que chamamos de rosa teria o mesmo doce aroma ainda que lhe déssemos um outro nome.)
O que é um nome? Nada. Se a rosa tivesse outro nome, ela teria o mesmo cheiro, mas com outro nome.

7. All the world’s a stage, and all the men and women merely players. (O mundo todo é um palco, e homens e mulheres não passam de atores.)
Todo mundo subiu ao palco – homens e mulheres, menos os jogadores.

8. There are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy. (Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha tua filosofia.)
Horácio, você não faz ideia das coisas que acontecem na terra e no céu.

9. Love is blind, and lovers cannot see the pretty follies that themselves commit. (O amor é cego, e os amantes não veem as loucuras que fazem.)
Mas o amor é cego, e só quem ama enxerga as besteiras que os amantes fazem.

10. - What do you read, my lord? (O que o senhor está lendo?)
- Words, words, words.(Palavras, palavras, palavras.)
- O que estás a ler, meu senhor?
- Só palavras e mais palavras. Não estou entendendo nada.

11. Friends, Romans, countrymen, lend me your ears. (Amigos, romanos, concidadãos, ouçam-me.)
Amigos, romanos, concidadãos, emprestem-me suas orelhas.)

12. Life is a tale told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing. (A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, mas sem nenhum significado.)
A vida de um idiota é uma história barulhenta e cheia de ódio, e mais: não faz o menor sentido.

13. Though this be madness, yet there is method in it. (Embora pareça loucura, existe um certo método nisso.)
Parece um método maluco – e é!


14. The rest is silence. (O resto é silêncio.)
O resto? Ssshhh. Silêncio!

15. Beware the ides of March. (Cuidado com o dia 15 de março.)
Cuidado com as idas e vindas de março.

16. For mine own part, it was Greek to me. (Para mim aquilo era grego.)
Me deram um presente de grego.

17. The devil can cite Scripture for his purpose. (O diabo pode citar as Escrituras se isso lhe convém.)
O diabo cita as Escrituras de propósito.

18. A pound of that same merchant’s flesh is thine. (É tua uma libra da carne deste mercador.)
Este comerciante lhe deve meio quilo de carne.

19. Brevity is the soul of wit. (A concisão é a alma do talento.)
A brevidade é a alma do negócio.

20. When sorrows come, they come not single spies, but in battalions! (Quando as desgraças vêm, elas não vêm sozinhas, mas aos montes!)
Os espiões nunca agem sozinhos, mas sempre em batalhões.

21. Why, then the world’s mine oyster, which I with sword will open. (Ora, então o mundo é minha ostra, e eu vou abri-la com minha espada.)
Por que então o mundo é minha ostra, se eu posso abri-la com minha espada?

22. Comparisons are odorous. (As comparações são odiosas.)
As comparações não me cheiram bem.

23.Neither a borrower nor a lender be. (Não peça nada emprestado, nem empreste nada a ninguém.)
Nunca faça um empréstimo sem um fiador.

24. The first thing we do, let’s kill all the lawyers. (A primeira coisa a fazer é matar todos os advogados.)
A primeira coisa que nós fizemos foi matar todos os advogados.

25. The miserable have no other medicine but only hope. (Os infelizes não contam com nada senão a esperança.)
A única esperança dos miseráveis é a medicina.

26. We few, we happy few, we band of brothers. (Sim, somos poucos, mas felizes, porque somos um bando de irmãos.)
Existem poucas bandas de irmãos tão felizes como nós.

27. - Fish live in the sea like men live on land: the great ones eat up the little ones. (Os peixes vivem no mar do mesmo jeito que os homens na terra: os grandes engolem os pequenos.)
Os peixes vivem no mar do mesmo jeito que os homens na terra: os poderosos comem os peixes grandes e os pobres os pequenos.

28. Farewell...pride, pomp, and circumstance! (Adeus...orgulho, pompa e circunstância!)
Adeus...A pompa é o orgulho da circunstância!

29. Men of few words are the best men. (Os homens de poucas palavras são os melhores.)
Não tenho palavras para definir os melhores homens.

30. Mine honour is my life; both grow in one. (Minha honra é minha vida. Elas formam uma coisa só.)
Uma coisa é a minha honra, outra coisa é a minha vida.

31. My salad days, when I was green in judgment. (Meus verdes anos, quando me faltava experiência)
Quando penso na minha dieta de salada, fico verde só de lembrar.

32. A horse! A horse! My kingdom for a horse! (Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!)
Cadê meu cavalo? Cadê meu cavalo? Não troco meu cavalo pelo meu reino!

33. How beauteous mankind is! O brave new world! (Que maravilha é a a espécie humana! Que belo mundo novo!)
Que beleza é a humanidade! Eta mundo bravo!

34. Bell, book, and candle shall not drive me back. (Nem sino, nem livro, nem vela hão de me deter.)
Eu não vou voltar para pegar o sino, o livro e a vela.)

35. Life is as tedious as a twice-told tale. (A vida é tão aborrecida como uma história contada duas vezes.)
Você já contou a história da sua vida duas vezes. Chega!

36. Lear: So young and so untender? (Rei Lear: Tão jovem e já tão cruel?)
Cordelia: So young, my lord, and true. (Cordélia: Tão jovem, meu pai, e tão sincera.)
Rei Lear: Tão moça e já tão antipática?
Cordélia: Sou moça, sim senhor, é verdade.

37. Cowards die many times before their deaths: the valiant never taste of death but once. (Os covardes morrem muitas vezes antes de morrer; os valentes só provam o gosto da morte uma vez.)
Os covardes morrem a toda hora; os valentes só uma vez ou outra.

38. Now is the winter of our discontent made glorious summer by this sun of York.  (O inverno da nossa desesperança agora foi transformado num glorioso verão por este sol de York)
Agora que o inverno pôs fim ao nosso descontentamento, o sol de York tornará este verão glorioso.

39. If music be the food of love, play on. (Se a música é o alimento do amor, toque mais.)
Se a música se alimenta do amor, continue tocando.

40. He that dies pays all debts. (Quem morre quita todos as dívidas.)
Pague suas dívidas antes de morrer.

41. 1st witch: When shall we three meet again? In thunder, ligtning, or in rain? (Primeira bruxa: Quanto será nosso próximo encontro? Debaixo de chuva, de raio ou de trovão?
Primeira bruxa: Quando nós três nos encontrarmos de novo, será que vai estar chovendo, com raios e trovões?

42. How sharper than a serpent’s tooth it is to have a thankless child. (Mais afiada do que a presa da serpente é a ingratidão de um filho.)
As presas de uma víbora são muito mais afiadas do que os dentes de um filho ingrato.

43. O, beware, my lord, of jealousy; It is the green-eyed monster which doth mock the meat if feeds on. (Tome cuidado com a inveja, meu senhor; ela é o monstro de olhos verdes que brinca com a carne de que se alimenta.)
Cuidado com o ciúme do meu patrão. Ele é um monstro de olhos verdes que caçoa da carne mas se alimenta dela.

44. To be honest, as this world goes, is to be one man picked out of ten thousand. (No mundo de hoje, você acha um homem honesto em cada dez mil.)
Para ser honesto, só um homem foi escolhido no meio de dez mil.

45. It is a wise father that knows his own child. (Sábio é o pai que conhece seu próprio filho.)
O pai esperto sabe se o filho é dele.

46. Some are born great, some achieve greatness, and some have greatness thrust upon them. (Uns já nascem grandes, outros lutam para alcançar a grandeza e outros ainda simplesmente se tornam grandes quase que por acaso.)
Alguns nascem grandes, outros crescem com o tempo e outros ainda aumentam de tamanho por impulso.

 47. The apparel oft proclaims the man. (A roupa muitas vezes revela o homem.)
Quase sempre dá para ver a roupa do homem.

48. We are such stuff as dreams are made on. (Nós somos do tecido de que são feitos os sonhos.)
Quem sabe dos nossos sonhos somos nós que os sonhamos.

49. Some rise by sin, and some by virtue fall. (Alguns elevam-se pelo pecado, outros caem pela virtude.
Quando o pecado entra por uma porta, a virtude sai por outra.

50. There was never a philosopher that could endure a toothache patiently. (Nunca houve um filósofo que conseguisse suportar pacientemente uma dor de dente.)
Nenhum filósofo suporta ver alguém com dor de dente.