sexta-feira, 1 de julho de 2016

O professor neutro

O professor neutro
Quando ainda professor, sempre senti falta de uma matéria na grade curricular. Uma matéria que poderia chamar-se Vida. Parecia utópico e irreal, - e talvez seja mesmo. Mas esse negócio de “bate o sinal, entra o professor de matemática; bate o sinal, sai o de matemática, entre o de história; bate o sinal, sai o de história, entre o de português” até o fim das aulas, nunca me cheirou bem.

Tinha que haver alguém que levantasse dúvidas no espírito dos alunos, que propusesse temas para debates, assuntos que ultrapassariam os pobres limites das briófitas, dos relative pronouns ou da tabela periódica.

Mas quem seria esse professor? Para começar, essa pessoa nem seria um professor. Afinal, não há como ensinar vida numa sala de aula. Seria talvez mais apropriado chamá-lo de mediador. Ele entraria na sala e, da maneira mais informal, sem fazer a chamada, sem pedir silêncio, sem esperar coisa alguma, começaria a falar sobre, por exemplo, a existência (ou inexistência) de Deus. Ou sobre as vantagens (ou desvantagens) do uso da maconha.

Assunto não faltaria.

Seria necessário que o tal mediador não se envolvesse pessoalmente nos debates. Ele, na qualidade de pessoa mais velha e, portanto, mais experiente do grupo, não poderia tomar partido.

Seria difícil, se não impossível. Não existe essa coisa da neutralidade na sala de aula. A menos que o professor fosse um robô.

Mas haveria uma saída:
- Professor, o certo é acrobata ou acróbata?
- Uns dizem acrobata, outros, acróbata.
- Mas o senhor, como o senhor diz?

- Eu às vezes digo acróbata, às vezes digo acrobata.

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