segunda-feira, 30 de julho de 2018
domingo, 29 de julho de 2018
Banheiro
BANHEIRO
Semanas atrás, levei um tombo no banheiro. Bati a cabeça, saiu
um pouco de sangue, entortei os óculos e esfolei a perna.
Estava sozinho em casa. A Rose tinha ido ao cabeleireiro e
eu achei que dava para me virar sozinho. Não dava.
Fiquei entalado ao lado do vaso e não conseguia sair de lá
para alcançar o celular, que estava a quilômetros de distância, no escritório.
Finalmente, arrastando-me feito um animal ferido –aliás, eu
era um animal ferido – consegui ligar para ela. Em questão de minutos (o salão
fica perto de casa), chegaram. pela ordem, a Rose, o cabeleireiro e o Ivan,
zelador do prédio há mais de 30 anos. O ivan é um cara forte, grande e gordo
que me ergueu pelos ombros e disse baixinho no meu ouvido, com uma voz que
lembra o Mike Tyson: “O senhor vai sair dessa, Doutor. Eu gosto muito do senhor.”
Os olhos dele, parece, ficaram vermelhos de emoção. Os meus
também.
Mini histórias
Mini histórias
Crianças,
Vou tentar escrever historinhas. Deixarei algumas no blog e
no face, aguardando a sua opinião. Se gostarem, eu sigo em frente. Se não, eu
paro.
FRUTAS
Em frente ao meu prédio, bem no estacionamento de um banco,
funciona uma banquinha de frutas. Eu costumo me abastecer ali.
Quando fiquei doente, precisei de uma cadeira de rodas e uma
cuidadora, que me levava para passear no Parque Mário Covas.
- Me leva até aquele cara. Quero comprar umas frutas.
- É uma mulher, disse ela.
- Não é, não. Eu compro dele há anos. É homem.
- Olha lá os peitos dela!
- Que peitos?
Realmente, a figura, de boné de couro a la Milton
Nascimento, camisa xadrez de manga comprida e coletinho, não tinha cara de
mulher.
Aí a cuidadora, sem atravessar a rua, perguntou:
- Como é seu nome?
- Ivonete, ela respondeu.
MERCADO
Já estou totalmente independente: posso andar sozinho na
rua, tomar banho, enxugar-me etc.
E fui comemorar, ainda um tanto cambaleante, minha recém
liberdade de movimentos. E lá fomos nós, Rose e eu, ao Santa Luzia.
Sendo diabético, preciso consumir produtos do primeiro
andar, todos diet, sugar-free, essas coisas.
Para entrar no elevador, todo cuidado é pouco. Não posso me
dar ao luxo de ficar preso na porta.
A Rose me segura, segura a porta e lá subimos nós. No elevador,
um senhor mais ou menos da nossa idade nos observa, curioso. Em tempo, ela é um
ano mais velha do que eu, mas parece dez mais nova.
O senhor comenta:
- É isso aí. Os mais novos têm de cuidar dos velhinhos.
E foi aí que me dei conta que eu agora era um velhinho.
quinta-feira, 26 de julho de 2018
Britain 16
Britain 16
2. fresher: em algumas universidades, tais como Cambridge, por exemplo, fresher é o nome que se dá ao calouro.
3. fringe benefits::benefícios adicionais, tais como bônus extras, auxílio moradia, automóvel, auxílio paletó etc. A gente conhece esse filme.
4. front bench: fileira da frente na Câmara dos Comuns, onde se sentam os membros mais proeminentes do governo. No lado oposto, ficam os membros da Oposição.
5. Gaelic: língua de origem celta falada por cerca de 87.000 escoceses e irlandeses.
quarta-feira, 25 de julho de 2018
Britain 15
Britain 15
Folk Museum: exibe
objetos domésticos de uso diário, divididos em ambientes decorados e divididos
por décadas: numa rua, há uma fileira de casas, uma de 1910, outra de 1920, uma
terceira de 1930 etc. Um dos mais simpáticos é o de Cardiff, no País de Gales.
Fortnum and Mason:
Uma das lojas de alimentos mais refinadas de Londres, famosa por suas exóticas
comidas. Serve a família real e fica em Piccadilly.
four-letter word:
palavrão. A maior parte de tais termos chulos tem origem germânica e contem
quase sempre quatro letras.
fourth state:
quarto poder, isto é, a mídia, capaz de exercer forte influência sobre os
demais poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
Foyle’s: a maior
livraria de Londres. Fica na Charing Cross Road.
terça-feira, 24 de julho de 2018
Britain 14
Britain 14
Eton: uma das
mais tradicionais escolas particulares da Inglaterra. Fica em Windsor, é só
para meninos das classes mais aristocráticas do país. Vários Primeiros
Ministros lá estudaram, como por exemplo,
Robert Walpole, John
Stuart e, mais recentemente, David Cameron.
Financial Times:
jornal de qualidade e muito influente. Cobre, é claro, a economia interna e
externa do país. Meu aluno australiano trabalha aí.
fish and chips:
comida típica inglesa, consistindo de solha ou bacalhau frito e servido com
batatas fritas. Acompanha sal e vinagre.
fiver: termo
coloquial para designar uma nota de 5 libras.
Fleet Street: rua
do centro de Londres que concentra um bom número dos jornais britânicos.
segunda-feira, 23 de julho de 2018
13. Britain
13. Britain
Elizabethan: Estilo de arquitetura em que muitas mansões
foram construídas na segunda metade do século XVI durante o reinado da Rainha
Elizabeth I. Tal estilo caractereiza-se por grandes janelas quadradas, torres
neoclássicas e sofisticad trabalho em gesso no teto dos cômodos, bem como o uso
abundante de painéis de carvalho.
Embankment: rua que corre ao longo da zona norte do
Tâmisa, embelezada pelos Embankment Gardens, Embankment Gardens, um oásis de
tranquilidade bem no coração de Londres.
English breakfast: ovos, bacon ou linguiça, torrada, café ou chá, torrada,
manteiga e geleia.
English Civil War: guerra entre os
Cavaliers (que apoiavam o Rei Charles I) e os Roundheads (que defendiam a
primazia do Parlamento), em meados do século XVI. O Rei foi derrotado e teve
então início do Commomwealth.
Eros: estátua de um
arqueiro alado sobre uma fonte, localizada no centro do Piccadilly Circus em
Londres. Parta muitos, é a estátua de Cupido.
xvi
sábado, 21 de julho de 2018
Conserte o seu inglês
Conserte o seu inglês
Quando se lança um livro, não é incomum classificá-lo como 'baseado em fatos reais', 'fruto da experiencia pessoal' ou algum outro clichê banal.
Bem, o 'Concerte o seu Inglês não foge à regra: é mesmo um livro baseado na experiência centenária (brincadeirinha) de dois professores da velha guarda (e bota velha nisso). Para se ter uma ideia, quando entrei para o Porto Seguro em 1974, ainda no belo prédio da Praça Roosevelt, um dos livros de inglês adotados era do Amadeu Marques. Mais jurássico não dá, né?
Fizemos um livrinho leve e despretencioso - ele no Rio, eu em São Paulo -, que se presta a ajudar quem lida com a língua de Shakespeare a safar-se das infinitas pegadinhas de que ela está repleta.
O livro foi lançado durante o 16o. encontro do Braz-Tesol, a associação que reúne professores de inglês de todo o Brasil, em Caxias do Sul, RS.
Quem tiver interesse (e, sinceramente, torcemos para que haja muuito interesse) é só mandar um pedido por email para a Editora Allya Language Solutions, de Caxias do Sul, aos cuidados da Lisiane ou da Luciana, e elas enviam pelo correio. O emai é luciana@allyals.com.br ou lisiane@allya.ls.com.br.
Desde já, agradecemos antecipadamente o apoio e a confiança no nosso taco.
Quando se lança um livro, não é incomum classificá-lo como 'baseado em fatos reais', 'fruto da experiencia pessoal' ou algum outro clichê banal.
Bem, o 'Concerte o seu Inglês não foge à regra: é mesmo um livro baseado na experiência centenária (brincadeirinha) de dois professores da velha guarda (e bota velha nisso). Para se ter uma ideia, quando entrei para o Porto Seguro em 1974, ainda no belo prédio da Praça Roosevelt, um dos livros de inglês adotados era do Amadeu Marques. Mais jurássico não dá, né?
Fizemos um livrinho leve e despretencioso - ele no Rio, eu em São Paulo -, que se presta a ajudar quem lida com a língua de Shakespeare a safar-se das infinitas pegadinhas de que ela está repleta.
O livro foi lançado durante o 16o. encontro do Braz-Tesol, a associação que reúne professores de inglês de todo o Brasil, em Caxias do Sul, RS.
Quem tiver interesse (e, sinceramente, torcemos para que haja muuito interesse) é só mandar um pedido por email para a Editora Allya Language Solutions, de Caxias do Sul, aos cuidados da Lisiane ou da Luciana, e elas enviam pelo correio. O emai é luciana@allyals.com.br ou lisiane@allya.ls.com.br.
Desde já, agradecemos antecipadamente o apoio e a confiança no nosso taco.
segunda-feira, 16 de julho de 2018
Var pros quintos dos infernos
2. Decretar
praticamente quem será o campeão da Copa através de uma cabininha foi, para
mim, um verdadeiro anti-clímax. Fiquei tão decepcionado que fui até a cozinha e só voltei
quando o resultado era 4 a 1. Pra mim, esse VAR estragou tudo. Prefiro os erros
de arbitragem, quando os gols (ou não) acontecem diante de todo o mundo e cada um decide, conforme suas preferências, se a bola entrou ou não, se foi pênalti ou não etc.
domingo, 15 de julho de 2018
Corrupção
Corrupção
Por que
ninguém ousa chamar de corrupto um sujeito condenado por corrupção em segunda
instância?
Eu
preciso aparecer
Se alguém
cronometrasse o tempo que certos/as entrevistadores/as gastam para formular
suas ‘perguntas’ ao entrevistado, verificaria facilmente que eles/elas falam
muito mais.
Imagem é
tudo (ou quase)
Não
aguento de curiosidade para saber com que penteado a Piada da Copa vai entrar
em campo no reinício dos campeonatos europeus.
Às
baratas?
Erram os
que pensam que o Brasil está entregue às
baratas. Não está. Segundo
reportagem exibida ontem (13/07/18) na Band News, o Brasil está na verdade
entregue aos escorpiões. Mais de 125.000 casos de picadas só este ano.
sábado, 14 de julho de 2018
A estátua da Justiça
A estátua
da Justiça
A estátua
da Justiça, todo mundo sabe, é “uma
mulher com os olhos vendados e espada; os olhos vendados representam a
imparcialidade da justiça e a espada representa a força, a coragem, a ordem e a
regra necessárias para impor o direito.” (Wikipedia).
Era o que eu achava. Não acho
mais. Descobri, tardiamente, que o Poder Judiciário, longe de ser cego, enxerga
bem pra caramba. E mais. Ele tem lado. Esse negócio de imparcialidade é mais um
daqueles papos furados usados para engabelar a ‘plebe ignara’, eu incluído.
Bottom line: o juiz (ponho juiz entre aspas?) que não gosta do Lula, condenado
em 2ª.
instância por corrupção, decide contra ele. Se gostar, decide a favor.
Resultado: em matéria de segurança jurídica, a gente só ganha da Venezuela.
Placar apertado.
sexta-feira, 13 de julho de 2018
De volta à nossa realidade
Com o fim da Copa, em que o Brasil, um dos favoritos, não
ficou nem entre os quatro primeiros (ó opróbrio!), volto os olhos para o país.
A Copa exerce um fascínio tal que é como, durantes algumas semanas, a gente
estivesse em transe, suspenso pelas arrancadas deste jogador, pelos tombos
daquele outro, pelo gol contra, pelos empurrões etc.
Porém agora, já mais calmo, verifico que o país voltou à
normalidade. Ótimo.
O Lula continua em cana, ainda que tenha se livrado de uma
das trocentas acusações que pesam sobre ele.
A Eletrobrás não anda.
No Rio o Prefeito segue firme e forte, cada vez mais
religioso.
O chefe da Polícia
Civil do Rio é acusado de crime contra a Lei de Licitações.
Habeas Corpus no plantão foi ‘chicana canhestra e acintosa’, segundo
procurador do caso Lula.
Bolsonaro topa pacto com qualquer um, com exceção do diabo. É o que ele
diz.
O futuro das contas públicas periga ir pro brejo, devido à votação de projetos do Congresso
Nacional que aumentam as despesas e concedem isenções a um monte de setores.
Bolsa e dólar não
param de subir. É bom? É ruim? Cês veem aí.
Planos de saúde ou
extorsão? Escolham.
Ninguém segura o PCC.
Economia, saúde,
transporte, educação, segurança: no comment.
Já que está tudo bem,
posso retornar, sem susto, às minhas incursões ao Reino Unido. Vamos lá.
East
End uma extensa área
industrial, localizada, é óbvio, na zona leste de Londres, famosa por suas
docas e, antigamente, por sua pobreza. Jack , o Estripador, atuava nessa área.
Easter
Monday
feriado (bank holiday) que se segue ao Domingo de Páscoa. Data que marca o
início da invasão a Londres dos turistas para as férias de verão.
Economist importante e influente revista
semanal de economia. Tem grande credibilidade e é considerada uma publicação
conservadora.
Edinburgh capital da Escócia, famosa,
entre outras coisas, por seus belos edifícios e monumentos, pelo Castelo e pela
Princes Street, considerada a avenida mais bonita do Reino Unido, com as lojas
de um lado e o parque do outro.
eisteddfod (pronúncia aproximada: aistédfad)
festival de literatura, dança e música
realizado anualmente no País de Gales. Dura oito dias e é falado inteiramente
em galês. Não dá para entender nada mas é muito legal.
quinta-feira, 12 de julho de 2018
Fim da Copa
Fim da Copa
Pronto, mais dois ‘joguinhos’ e a Copa já era. Podemos
desligar a tevê e voltar nossas atenções a este desgraçado país. Não se indigne,
amável leitor, com este inusitado adjetivo, tão impatrioticamente aplicado à
nossa Pátria. Mas vem cá, com esse governo, com esse Congresso e com esse STF,
que outra palavra para descrever o Brasil?
Daqui para frente, só se ouvirá cada vez mais falar das
eleições. Santa ingenuidade! Pensar que elas serão capazes de ‘passar o Brasil
a limpo’, que das urnas sairá ‘o país que eu quero’, que as urnas finalmente
produzirão um mísero político honesto. Como se essa figura imaginária existisse.
Um triângulo quadrado, um círculo oval – é isso que eles são.
‘Vote com consciência, com responsabilidade’ - foi o que sempre me disseram. E é isso que
sempre procurei fazer. Acreditei que sempre escolhi os melhores candidatos,
aqueles realmente comprometidos com os destinos do país. Dos muitos em que
votei desde os 18 anos, vários foram eleitos e também, claro, vários perderam.
Mas, passados todos esses anos, a corrupção continua, perdura e se eterniza. E
nada vai mudar isso. Pode ser que haja alguns candidatos honestos. Mas uma vez
eleitos, começa a bandalheira, o uso de leis indecentes para se proteger e se
locupletar.
Quanto a nós, ficamos a ver navios. Ou a Copa
terça-feira, 10 de julho de 2018
Adendo e indagações
ADENDO
Faltou fazer uma referência a Euclydes da
Cunha, que em seu Os Sertões declarou que o
sertanejo é antes de tudo um forte. Não consta que ele tenha incluído
jogador de penteados pra lá de exóticos em sua descrição.
INDAGAÇÕES
1.
Os meninos presos na caverna na Tailândia:
Certo. E o Neymar?
2.
13 milhões de desempregados: E daí? E o Neymar?
3.
12 milhões de analfabetos, ou seja, que não
sabem ler o que está escrito na nossa bandeira: Tudo bem. Mas...e o Neymar?
4.
Lula sai da cadeia ou fica? Não sei. O Neymar?
5.
Corrupção em escala industrial, de cabo a rabo,
de alto a baixo, apodrecendo o país inteiro: Lá isso é, mas e o Neymar?
6.
Eleições à vista: E daí? Cadê o Neymar?
7.
Os três poderes (Executivo, Legislativo e
Judiciário) mais sujos que pau de galinheiro: Tudo bem, Já o Neymar...
8.
Planos de saúde, cada vez mais caros:
Quiquitem? Eu quero saber do Neymar.
9.
Inflação: Não percebi. E também não sei onde se
meteu o Neymar.
10.
Paulinho volta para a China dois dias após a eliminação do
Brasil: Mas quem quer saber do Paulinho? Eu quero saber do Neymar.
segunda-feira, 9 de julho de 2018
Neymar e a literatura
NEYMAR E A LITERATURA
O desempenho do nosso mais famoso craque despertou em mim
antigas recordações literárias, que passo a compartilhar com vocês.
Em primeiríssimo lugar, como não poderia deixar de ser,
Fernando Pessoa, que dispensa apresentações:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
O poeta, Neymar, o
poeta...
Em segundo lugar, Graciliano Ramos. Autor de várias
obras primas, tais como Vidas Secas,
Angústia, São Bernardo, Insônia, entre outros livros imortais, Graciliano
escreveu esta crônica, publicada pela primeira vez em "o Índio",
em Palmeira dos Índios (AL), em 1921, com o pseudônimo de J. Calisto, da qual
reproduzo alguns trechos:
Pensa-se em
introduzir o futebol, nesta terra. É uma lembrança que, certamente, será bem
recebida pelo público, que, de ordinário, adora as novidades. Vai ser, por
algum tempo, a mania, a maluqueira, a ideia fixa de muita gente. Com exceção
talvez de um ou outro tísico, completamente impossibilitado de aplicar o mais
insignificante pontapé a uma bola de borracha, vai haver por aí uma excitação,
um furor dos demônios, um entusiasmo de fogo de palha capaz de durar bem um
mês.
Pois quê! A cultura física é coisa
que está entre nós inteiramente descurada. Somos, em geral, franzinos,
mirrados, fraquinhos, de uma pobreza de músculos lastimável.
A parte de nosso organismo que mais
se desenvolve é a orelha, graças aos puxões maternos, mas não está provado que
isto seja um desenvolvimento de utilidade. Para que serve ser a gente orelhuda?
O burro também possui consideráveis apêndices auriculares, o que não impede que
o considerem, injustamente, o mais estúpido dos bichos. Fisicamente falando,
somos uma verdadeira miséria. Moles, bambos, murchos, tristes - uma lástima!
Pálpebras caídas, beiços caídos, braços caídos, um caimento generalizado que
faz de nós um ser desengonçado, bisonho, indolente, com ar de quem repete,
desenxabido e encolhido, a frase pulha que se tornou popular: "Me
deixa..." Precisamos fortalecer a carne, que a inação tornou flácida, os
nervos, que excitantes estragaram, os ossos que o mercúrio escangalhou.
Consolidar o cérebro é bom, embora
isto seja um órgão a que, de ordinário, não temos necessidade de recorrer.
Consolidar o muque é ótimo. Convencer um adversário com argumentos de
substância não é mau. Poder convencê-lo com um grosso punho cerrado diante do
nariz, cabeludo e ameaçador, é magnífico. (...)
Mas por que o futebol?
Não seria, porventura, melhor
exercitar-se a mocidade em jogos nacionais, sem mescla de estrangeirismo, o
murro, o cacete, a faca de ponta, por exemplo? Não é que me repugne a
introdução de coisas exóticas entre nós. Mas gosto de indagar se elas serão
assimiláveis ou não.
Ora, parece-nos que o futebol não
se adapta a estas boas paragens do cangaço. É roupa de empréstimo, que não nos
serve.
Para que um costume intruso possa
estabelecer-se definitivamente em um país é necessário, não só que se harmonize
com a índole do povo que o vai receber, mas que o lugar a ocupar não esteja
tomado por outro mais antigo, de cunho indígena. É preciso, pois, que vá
preencher uma lacuna, como diz o chavão.
Temos esportes em quantidade. Para
que metermos o bedelho em coisas estrangeiras? O futebol não pega, tenham a
certeza.
Reabilitem
os esportes regionais que aí estão abandonados: o porrete, o cachação, a queda
de braço, a corrida a pé, tão útil a um cidadão que se dedica ao arriscado
ofício de furtar galinhas, a pega de bois, o salto, a cavalhada e, melhor que
tudo, a rasteira.
A rasteira! Este, sim, é o esporte
nacional por excelência!
Todos nós vivemos mais ou menos a
atirar rasteira uns nos outros. Logo na aula primária habituamo-nos a apelar
para as pernas quando nos falta a confiança no cérebro - e a rasteira nos
salva.
Cultivem a rasteira, amigos!
Graciliano errou no acessório, mas no essencial, foi tiro e queda.
Nesta Copa, perdemos não porque nos faltaram sorte, talento ou estratégias
táticas. Faltou-nos força física. Somos moleirões, fracotes e...cai-cai.
Em terceiro lugar, Carlo Collodi, autor de As Aventuras de Pinóquio, um romance escrito em Florença no ano de 1881 e publicado
dois anos depois com ilustrações de Enrico Mazzanti. Como todo mundo
sabe, o nariz de Pinóquio cresce toda vez que ele conta uma mentira. Se a
farsa, o exagero. as caras e bocas produzissem o mesmo efeito em Neymar, ele
tropeçaria não nas pernas adversárias, mas no narigão descomunal, do tamanho de
suas encenações.
domingo, 8 de julho de 2018
NOTÍCIAS FRESCAS DA COPA
NOTÍCIAS FRESCAS DA COPA
Devido a circunstâncias alheias à minha vontade, tenho
assistido a todos – repito – todos os jogos da Copa e já dá para tirar algumas
conclusões:
- a globalização pôs fim ao futebol regional: jogam nos mais
diferentes campeonatos jogadores de tudo quanto é canto: é japonês na Alemanha,
é turco na Inglaterra, é brasileiro na Rússia e assim vai. Desta forma, o futebol
vai ficando cada dia mais parecido com todo mundo. Uma geleia chata e
homogênea, com os técnicos adotando táticas, esquemas e estratégias muito
semelhantes.
- os jogadores, em sua grande maioria, jogam igual: é sempre
a eterna variação do velho 4-2-4.
- são todos fortes, velozes, com um preparo físico de fazer
inveja a qualquer maratonista. Por isso, jogadores técnicos, talentosos e de
grande habilidade, mas franzinos, estão desaparecendo, dando lugar a grandões
altos, que passam por cima de atletas considerados ‘normais’, que cabeceiam
mais alto e chegam antes nas bolas, passando por cima de qualquer um que ouse
atravessar seu caminho. Em tempo, se estão pensando que eu apoio jogador
cai-cai e chorão, enganam-se: eu também odeio o Neymar.
- os abutres das mesas redondas, aqueles desocupados que
aproveitam a Copa para faturar algum extra, falam um português de botequim, comportam-se
às vezes como alguém sentado à mesa com um copo na mão, exprimem ideias
surradas, usam e abusam dos eternos chavões e se mostram absolutamente
incapazes de fornecer a mais remota possibilidade de alguma sugestão inovadora:
as duas grandes novidades da Copa, o árbitro de vídeo e a quarta substituição
na prorrogação, foram introduzidas sem que ninguém entre os ‘especialistas’ alguma
vez desse algum palpite aproveitável.
- todo país desclassificado deixa um rastro de tristeza
muito grande entre os torcedores. mas aqui é diferente: no mundo todo, as
pessoas esperam que seu time vá à final. No Brasil, não. A gente não espera, a
gente tem certeza de que vamos ganhar e, por isso, a frustração é maior.
Consideramos quase uma heresia alguma seleção ser melhor do que a nossa. Mas é
assim mesmo. Nós ganhamos cinco Copas, mas perdemos muito mais.
- Last but not least: torci para a Bélgica.
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