Sérgio Oliveira
O Sérgio estava
um ano à minha frente na São Francisco. Preto, franzino, óculos de fundo de
garrafa, filho de um dos bedéis da Faculdade. O que, porém, chamava a atenção
era a roupa que usava, um conjunto tipo safári, semelhante ao slack que o Jânio também usava.
Resolvemos
viajar para Buenos Aires. O plano inicial era ir com mais duas colegas e
ficarmos hospedados na casa do tio de uma delas. Quando, no entanto, ele soube
que um dos rapazes era negro, ele disse que não poderia hospedar-nos.
As meninas,
claro, desistiram da viagem, mas eu e o Sérgio decidimos ir.
Aconteceu de
tudo na viagem. Fomos de ônibus até Porto Alegre (foi nessa viagem que virei
fumante), dormimos na Casa do Estudante, demos pindura em restaurante, passamos
a tarde num hotel, não pagamos a conta e à noite fomos de avião para Buenos Aires.
Lá fomos acolhidos pelos estudantes da Faculdade de Direito, com quem fizemos
uma grande amizade, especialmente Horácio e Rubén.
Aí resolvemos ir
de trem para Mendoza, que fica na pré-cordilheira e, de lá, viajar de carona
até San Martin de los Andes, na divisa entre Argentina e Chile. Por falta de
documentos, não pudemos entrar no Chile.
Nesse longo
caminho (mais de 1000 quilômetros entre BA e Mendoza, dormimos à beira da
estrada, pero de um milharal, na cadeia, no corpo de bombeiros e até num
acampamento indígena num povoado chamado Las Cuevas. Falamos horas sobre
futebol, eles jurando de pés juntos que tinham “Mais de 50 Pelés, no solamente
uno.”
Chegamos em BA
na carroceria de um caminhão na Terça-feira de carnaval. Tomamos um ônibus para Porto Alegre, comemos uva como janta
(não tínhamos dinheiro sequer para um sanduíche) e finalmente chegamos a São
Paulo – sujos, exaustos, famintos, mas realizados.
Não lembro de
ter encontrado o Sérgio depois de nossa aventura.