Don Frost
Quando levei um
grupo de alunos para fazer um curso de inglês na Inglaterra, fiquei hospedado com
um casal de cerca de 60 anos. Na noite em que lhes mostrei uma foto da minha
mãe, o Don exclamou:
- Mas é a cara
da minha mãe! A partir daí, eles como
me adotaram como filho, já que não tiveram ou não quiseram ter seus próprios
filhos.
Na Segunda
Guerra Mundial, o Don serviu na Marinha e tinha mil histórias para contar. “Quantas
vezes você precisou dizer adeus, Don?” Aí ele não respondia.
O inglês dele
era perfeito. Você até conseguia ouvir as vírgulas em sua fala, por assim
dizer.
Na última vez em
que fui visitá-lo, perguntei-lhe de cara como ele estava e a resposta veio
fulminante:
- Rotten from head to foot (Podre da
cabeça aos pés), que, aliás, é como me sinto agora.
Bem, ele faleceu
alguns meses depois. Ao me despedir dele, achei que seus olhos estavam
vermelhos. Mas não julguei que fosse por minha causa.
Numa carta, sua
esposa Doris comunicou a sua morte. Em resposta, dei-lhe meus mais sinceros
pêsames e convidei-a para o casamento da minha filha em Köln, na Alemanha. Ela
aceitou o convite!
No ano seguinte,
fui ao cemitério, sentei-me num banco embaixo de uma árvore e bati um longo
papo com ele. A princípio em inglês, depois em português, pois agora ele podia
qualquer língua.
A Doris não quis
me acompanhar.
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