domingo, 30 de novembro de 2014

TEMPOS DE ESCOLA

DE COMO VIREI PROFESSOR DE CURSINHO
Um dia, em fevereiro de 66, eu fui ao cinema. Cine Bijou, na Praça Roosevelt. Era um cineminha acanhado, onde assisti a alguns dos filmes mais marcantes da minha vida, como ‘O último tango em Paris’, ‘Laranja mecânica’, ‘A classe operária vai ao paraíso’ e principalmente ‘O grande crime’, para mim o melhor filme de guerra jamais feito. Aliás, o melhor filme jamais feito. Gosto não se discute. O título original é ‘Non uccidere’ (Não matarás), com música de Charles Aznavour. A cena em que um padre é obrigado por um oficial nazista a fuzilar dois rapazes cujo “crime” foi pichar paredes é uma das mais fortes de que me lembro.
Bom, na saída do cinema, eu encontrei o Júlio, que estava entrando para ver a sessão seguinte.  O Júlio Lerner tinha sido, dois anos antes, meu professor de psicologia no Curso Tolosa, que preparava alunos para o vestibular da São Francisco. Mais tarde, ele trabalhou na TV Cultura de São Paulo, como apresentador e repórter.
Ele tinha tanta certeza de que eu ia passar no vestibular, e eu tinha tanto medo de não passar, que nós fizemos uma aposta: se eu passasse, ele iria me depilar inteiro no pátio da Faculdade. Detalhe: o Júlio era aluno da São Francisco. Acho que ele não chegou a se formar, porque um dia, durante uma aula de Direito Romano, o professor flagrou-o adulterando o nome do livro: em vez de ‘Manual de Direito Romano’, de Alexandre Correia, o Júlio alterou o título para ‘Manuel de Direito Romano’. O autor do livro era o pai do professor.
Eu fui aprovado mas o Júlio, generoso, não cobrou a aposta. Teria sido um trote histórico dentro das Arcadas, a velha e sempre nova Academia.
Bom, como eu ia dizendo, na saída do cinema, eu vi o Júlio na fila de entrada e disse, despretenciosamente:
- E aí, Júlio, o Tolosa está precisando de professor de inglês?
E não é que ele respondeu:
- Está. O Toninho vai sair. Liga pra ele
O Toninho era o professor de inglês. No dia seguinte, liguei para o Geraldo Tolosa, professor de português e dono do cursinho. Marcamos uma hora. Ele se lembrava de mim. Entrevistou-me rapidamente e me levou até a porta do curso. Sabe onde era o curso? No Pátio do Colégio, berço da cidade de São Paulo! Com a mão nas minhas costas, ele apontou para a rua Boa Vista e disse:
- Está vendo aquela placa amarela? É uma livraria. Vá lá e veja o que eles têm em estoque. Se você achar um título em inglês com mais ou menos 200 volumes, faça a reserva em meu nome e eu mais tarde passo lá para acertar com eles.
Eu fui. O único livro naquelas condições era ‘Boswell’s Life of Johnson’, a biografia de Samuel Johnson, poeta, lexicógrafo e crítico, escrita por seu secretário e fiel escudeiro James Boswell. É um catatau de mais de 300 páginas, escritas num inglês do século XVIII.
Esse foi o “material didático” que eu usei no meu primeiro ano como professor. Não havia apostilas naquele tempo. Teve de ser o Boswell mesmo.
Eu tinha então 19 anos. Havia duas turmas no período da manhã e uma à noite. Nessa turma à noite eu era o mais jovem. Todos os alunos tinham mais idade do que eu. Quando a aula acabava, eu respirava aliviado, me achando o próprio Shakespeare.
Perdoe-me a empáfia, caro e raro leitor, eu só tinha 19 anos. 
PENSAMENTOS



1.   De um palmeirense envergonhado, indignado e amargurado: O Palmeiras tem de mandar seus jogos num estádio do tamanho do seu futebol: o Canindé.

2.   Presença de espírito: De repente, ele se viu no olho do furacão. Demonstrando muita frieza, esperou até que o furacão piscasse e, aproveitando-se desse cochilo, afastou-se rapidamente.

3.   Ditadura: A ditadura tem lá seus aspectos positivos - se você concordar com ela, é claro. Por exemplo, deve ter sido uma delícia para um alemão ser nazista no tempo de Hitler. Já para um judeu, nem tanto.

4.   Decreto: Fica permanentemente proibido dizer a verdade, quando esta for inconveniente.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

PENSAMENTOS

197.   Evolução: O Pithecanthropus ficou erectus ao tentar apanhar um cacho de bananas no alto de uma bananeira.

31.   Inspiração: Para pintar uma natureza morta, o artista inspirou-se na mata atlântica.

 198.420.   Radical: Era um sujeito tão liberal que defendia a união civil com animais.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

MINISTÉRIOS

1.   O Ministério da Saúde adverte: Só use camisinha quando transar.

2.   O Ministério da Saúde tranquiliza: O vírus HIV não ataca quem já está infectado.

3.   O Ministério da Justiça explica: O estrupo consentido não é crime. É masoquismo.

4.   O Ministério dos Transportes alerta: Se beber, dirija devagar. E a pé.

5.   O Ministério das Cidades resigna-se: Se você achar que sua cidade é uma merda, console-se: você está certo. 


6.   O Ministério da Defesa não vai se pronunciar. Não enche.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

PENSAMENTOS

141.   Estiagem: A longa seca que assola várias regiões do Brasil tem trazido algumas vantagens. A poluição dos rios, córregos e lagoas de São Paulo vem diminuindo a olhos vistos, uma vez que os rios e córregos estão simplesmente desaparecendo.

20.156.   Historinha: Era uma vez um homem que acreditava que no fim do arco-íris havia um pote de ouro. Numa tarde de verão, após um violento pé d’água, surgiu no céu o tão esperado arco-íris. O homem então partiu em busca do tal pote. Ele andou, andou, andou, sempre olhando para o céu. Até que chegou num paredão altíssimo, uma montanha inexpugnável, se me permitem o preciosismo do vernáculo. Ele, coitado, não teve jeito senão desistir.

Moral: Às vezes, a fé remove montanhas, e às vezes as montanhas removem a fé.

16.   Valentia: O valentão no fundo é um covarde. O verdadeiro valente é discreto.

408.   Estranheza: Estranho é o mundo da internet. Eu comunico no facebook que fui sequestrado e várias pessoas avisam que curtiram isso... 
DIÁRIO DE UM SEQUESTRADO

Dia 22, sábado: Por volta do meio dia, os sequestradores me
 liberaram num ponto de táxi. Embarquei, telefonei (eles tinham
me devolvido o celular) para minha mulher e voltei para casa.

Dia 22, à tarde: Horas comunicando o roubo do cartão ao Visa. Em seguida, fomos à delegacia registrar o BO. Levou mais algumas horas. Na saída entramos numa padaria, famintos, pois não havíamos almoçado. Diabético, enchi um prato de doces e mandei bala, com perdão da infeliz metáfora. “Eu mereço,” justifiquei-me.

Dia 23, domingo: Pela manhã, recebi um telefonema de uma pessoa, avisando que o carro tinha sido encontrado e se achava numa delegacia no Morumbi. Fomos até lá de táxi (um nota preta – eu não moro no bairro e domingo é bandeira 2). Em lá chegando, travamos o seguinte diálogo:
- Viemos buscar nosso carro.
- Que carro?
- Um Corolla assim, assado.
- Esse carro não está aqui. Voltem mais tarde.
Voltamos, depois de passar algum tempo na casa de nossa sobrinha, que mora por ali. O carro finalmente chegara. Foi preciso fazer um documento atestando que o carro estava sendo devolvido aos seus legítimos donos. Levou mais tempo que o BO.

Dia 24 (segunda-feira):
a)   Manhã: Serasa, SPC e banco, para fazer o que eles chamam de contestação. Precisei contestar todas as compras feitas com o meu cartão no sábado. Quase trinta pilas.
b)   Tarde: Minha mulher levou o carro à concessionária e eu fui ao cardiologista, para saber se estava tudo bem. Estava, toc, toc, toc.

Dia 25 (terça-feira): de manhã, bem cedo, fui ao Poupa-Tempo, para tirar a 2ª via do RG. Levei os comprimidos que tenho de tomar no almoço, imaginando que iria passar o dia todo lá. Ledo e feliz engano: saí em menos de 15 minutos. Inacreditável! Senti-me na Dinamarca, país que, aliás, não conheço.

Nesse meio tempo, minha mulher foi ao supermercado para ‘apresentar a conta’ dos danos materiais e morais de que fui vítima. Eles vão examinar o caso, que por sinal termina aqui.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

CONTRATEMPO

Sábado passado tive um pequeno contratempo: fui SEQUESTRADO! Ao descer do carro no estacionamento de um supermercado (não digo o nome por razões que a própria razão desconhece), fui abordado por dois rapazes (notem que eu não me refiro a eles como ‘bandidos’), um deles com um revólver apontado não para minha cabeça, mas para os meus países baixos. Fui empurrado para o banco do passageiro, o ‘piloto’ assumiu a direção e outro, o da arma, sentou-se no banco de trás. Saímos da garagem rapidamente e passamos quase quatro horas juntos. Entramos em vários supermercados e shopping centers. Eu permaneci sentado o tempo todo. O rapaz armado descia do carro, o piloto ficava comigo e depois de dez ou vinte minutos, ele voltava, sempre de mãos vazias. Como eles se comunicavam a todo instante com seu(s) comparsa(s) lá fora, o que eles adquiriam com o meu cartão de banco (mais de 25 mil reais) era distribuído entre eles.
Não fui agredido em nenhum momento. Pelo contrário, perguntavam de tempos em tempos se eu estava me sentindo melhor (no início eu pensei que ia ter um troço, uma vez que sou, entre outras coisas, hipertenso e cardiopata), me ofereciam água, dispondo-se a trazer algum remédio que eu porventura precisasse tomar naquela hora.
Durante as horas que passei com eles, conversamos sobre algumas coisas. Cito duas (não literalmente):
1º diálogo:
- O senhor acredita em Deus?
- Não.  Com tanta injustiça que há no mundo, Deus não pode existir. Veja o meu caso, por exemplo. Eu sou um professor. Eu passei a vida fazendo o bem. Tem muita gente aí que fala inglês graças a mim. Vocês acham justo eu estar nesta situação aqui?
2º diálogo (no banco de trás, o rapaz, entre uma compra e outra) ligou para a casa dele e conversou com a filha):
- Sabe o que eu estava pensando?
- Em quê?
- Na sua filha, que deve ter mais ou menos a mesma idade de um dos meus netos. Você sabe o risco que sua filha corre, né, o risco de crescer sem o pai. Uma criança, sobretudo pequenininha, é tão frágil, tão inocente, tão desprotegida...A gente tem que proteger essa criança, não deixar que ela sofra enquanto for pequena. Depois ela cresce e segue a vida que quiser. Mas enfim, cada um sabe de si.
- É, eu sei.
No fim da história, eles me devolveram minha carteira de documentos (sem o cartão e o RG), o controle do portão do meu prédio, as chaves do meu apartamento e levaram o carro embora. Não levaram meu relógio nem meu dinheiro. Desci junto com um deles (o que estava armado e tem uma filhinha) e fomos juntos até um ponto de táxi ali perto. Como a calçada estava em obras, toda esburacada, ele ofereceu o braço para que eu me apoiasse nele. Eu aceitei. No ponto do táxi, em frente a um supermercado, ele me estendeu a mão e nos despedimos, como dois amigos. Eu entrei no táxi e ele no mercado.
No dia seguinte, o carro foi encontrado, com o tanque cheio e com algum dano, é verdade, mas perto do que podia ter acontecido, saiu barato.
Acreditem, se quiserem. Não guardo nenhuma mágoa dos rapazes. Se encontrasse algum deles na rua, seria capaz de bater um papo com ele, numa boa, "suave", como eles diziam de vez em quando.



PENSAMENTOS

369.   Erro: Errar é humano; perdoar, divino; esquecer, Alzheimer.

21.   Pressa: Os tontos entram de cabeça onde os prudentes não põem os pés.

100257.   Diabo: O diabo não é tão feio quanto pintam. Se você tirar o rabo e os chifres, até que ele fica bem apresentável. 

domingo, 23 de novembro de 2014

CONTA OUTRA, VÓ


1.    Era uma vez um cuco pirado que dava as horas assim: 12:10 cuco! 13:05 cuco! 21:20 cuco...

2.    Era uma vez um bicho-papão que morria de medo de criança.

3.    Era uma vez um macaco que levou uma mordida de um bicho que ele não conhecia.
- Dize-me com quem andas, e te direi quem és.
- Não digo.

Até hoje o macaco não sabe que bicho o mordeu.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

PENSAMENTOS

167.   Irritação: O Capitão Gancho ficava muito irritado quando ouvia alguém dizer que ‘uma mão lava a outra’.


3006.   Frieza: No Zoológico, ele era muito admirado por seu sangue frio. Também pudera! Ele era o único crocodilo do pedaço.


449.   Estranha sensação: Fui ao jantar de 45 anos de formatura. Não reconheci ninguém ali. Senti-me como um peixe fora do ninho.

22650.   Roma: Roma não foi feita em um dia. Aliás, Chicago, Lisboa e Ribeirão Preto também não. 
TEMPOS DE ESCOLA

A pedidos, mais uma das minhas inesquecíveis (para mim, é claro) histórias dos meus tempos de aluno e professor.

6. DE COMO DEI PINDURA NO EXTERIOR
Em 66 eu fui para a Argentina com o Sérgio. Eu tinha 19 anos e o Sérgio 21 ou 22. Ele era negro, usava óculos fundo de garrafa, de lentes esverdeadas tão grossas que o faziam ficar com cara de sapo. Mas ele compensava sabendo de cor a letra de tudo que era samba, de Noel Rosa a Martinho da Vila.
O que tornava o Sérgio um sujeito singular não era aquela cara de batráquio – no bom sentido, claro – mas sim o slack que ele usava. Não sabem o que é um slack? Procurem na internet uma foto do Jânio Quadros vestido como quem está indo para um safári. Aquilo é um slack.
Pois o Sérgio usava um. E mesmo assim nós embarcamos num ônibus, rumo a Porto Alegre. Estávamos no segundo ano da São Francisco e fazíamos – que Deus me perdoe – parte do Coral da Faculdade. Levávamos na bagagem cartas de recomendação, assinadas pelo presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto e pelo maestro do Coral, com a vã esperança de conseguir uma apresentação do Coral em Buenos Aires. Com tudo pago pelos argentinos, por supuesto.
Chegando em Porto Alegre, fomos para a Casa do Estudante, na rua Riachuelo. Deixamos as malas lá e nos dirigimos – quanta cara de pau! – para o Palácio Piratini, sede do governo estadual, para tentar descolar um hotel de graça. Fomo atendidos por um oficial fardado, chefe do cerimonial, que olhou rapidamente nossas ‘credenciais’ e nos despachou sem cerimônia:
- Bah! Vocês estão pensando o quê, che?
Saímos de lá e resolvemos dar um pindura no almoço, ainda que estivéssemos em fevereiro e não em agosto. Não entenderam? Calma que eu explico. Todo ano, no dia 11 de agosto, os alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, para comemorar o início dos cursos jurídicos no Brasil, em 1827, se acham no direito de entrar num restaurante, comer e beber do bom e do melhor e não pagar, dizendo para o garçom pendurar a conta. Isso de vez em quando acaba mal, com quebra-quebra, polícia e o diabo.
Pois bem. Eu e o Sérgio entramos em uma churrascaria, pedimos um espeto gaúcho “daqueles”, vinho de Bento Gonçalves e quando nos sentimos satisfeitos, chamamos o garçom e pedimos uma laranjada. No que ele voltou para o fundo do restaurante, nós saímos correndo, dobrando a cada esquina para despistar. Com os bofes de fora, acabamos dando no Rio Guaíba.
Maravilha, mas e as cartas de apresentação? Tínhamos deixado os envelopes, com nossos nomes, RG etc. em cima da mesa. O que fazer? Eram mais ou menos duas horas da tarde e nosso ônibus para Montevideo saía às dez da noite.
O jeito era voltar para a Casa do Estudante, que, aliás, não ficava longe da churrascaria, e tentar pagar a conta lá mesmo. Tínhamos certeza de que eles já estariam nos esperando.
Para nossa surpresa, não havia ninguém. Nem polícia, nem gerente, nem garçom, nada. Pegamos nossas malas e rumamos para a Rodoviária. Deixamos as malas lá, mas tiramos uma muda de roupa cada um e nos registramos, com nomes falsos, num hotelzinho qualquer nos arredores da estação.
Lá tomamos banho, fizemos uma tremenda bagunça no quarto e saímos, dizendo ao porteiro que íamos buscar o resto da nossa bagagem.
Entramos num cinema, vimos um filme horroroso com Victor Mature e lá pelas nove da noite fomos para a Rodoviária.
Em Montevideo, também demos um pindura. Foi na última noite e já tínhamos fechado a conta do hotel. Saímos para jantar, comemos, bebemos e fugimos. Só que o garçom e o dono do restaurante vieram atrás de nós. Nos escondemos no jardim de uma casa e ficamos agachados lá por horas, com um maldito cachorro que não parava de latir no quintal. Um frio danado. Quando finalmente saímos, não tínhamos para onde ir. Ficamos perambulando pela cidade, entrando em saguões de hotel para fugir do frio, esperando o dia clarear. No avião (foi a primeira vez que andei de avião) que nos levou até Buenos Aires chovia dentro. Juro! Caíam umas gotinhas mais do que suspeitas.
Em Buenos Aires, fizemos amizade com alguns estudantes de direito de lá. Falamos sobre o pindura e eles, que não conheciam essa nossa nada edificante tradição, ficaram encantados com a ideia. Resolvemos dar um pindura num restaurante de esquina, com mesinhas na calçada. Comemos dúzias de empanadas e tomamos vinho.
- Quando o farol estiver prestes a fechar, a gente sai correndo em ziguezague, comprende?
Eu e o Horácio fomos para um lado, o Sérgio e o Rubén para o outro.
- É agora, vamos! Saí correndo, dobrei uma esquina, dobrei mais uma e perdi o Horácio de vista. O combinado era se encontrar mais tarde no Politeama, um café na Corrientes, reduto dos estudantes de direito da Capital.
Mais ou menos uma hora depois eu cheguei. O Sérgio, o Rubén e mais alguns rapazes me receberam efusivamente.
- Y Horacio? perguntaram todos.
Meia hora mais tarde chegou o Horácio. Estava pálido, sem óculos e sem um anel. Acontece que ele tinha um problema na perna e não podia correr muito. Para não estragar a brincadeira, não disse nada. Foi agarrado na primeira esquina. Como não tivesse dinheiro suficiente para pagar a conta, tomaram-lhe o anel e os óculos.
- Por Diós, Horácio, por qué no dijiste nada?

Horácio sorriu e não respondeu. Fizemos uma vaquinha para juntar o dinheiro da conta e prometemos ir com ele ao restaurante no dia seguinte. Eu e o Sérgo não fomos.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

PENSAMENTOS



   462*. Esperteza: Vem cá, se a raposa é tão esperta como dizem, por que será que ela jamais consegue escapar dos lordes na Inglaterra?

   920. Religião: Custo a crer.


12. Paciência: O Palmeiras correndo risco de ser rebaixado para a Série B e as pessoas preocupadas com a Petrobras? Tenham a santa paciência!

   1397. Das duas, uma: Como está difícil formar uma equipe de ministros ao mesmo tempo competentes e íntegros, o governo terá de ‘flexibilizar’ os critérios e optar por um dos dois.

   804. Advogado: Os implicados no escândalo da Petrobras estão tentando contratar o advogado do Pizzolato.

*De hoje em diante, vou colocar qualquer número nos meus 'pensamentos'. Acho que ninguém vai reparar.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

PENSAMENTOS

iDiálogo de surdos:

- Σ 'αγαπώ. Μην βλέπετε αυτό?
- Não sei do que você está falando. Isso pra mim é grego.

   Lula e Maluf: O antônimo que virou sinônimo.

   Proteção: Para bem proteger uma propriedade, convém ter dois cães de guarda: um que ladra e não morde e o vice-versa.



   Petismo à la Jânio Quadros: Já fui petista. Sê-lo-ia ainda não fossem eles tão canalhas. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

TEMPOS DE ESCOLA

17. DE COMO MINHA MÃE ME ENSINOU O ABECEDÁRIO (OU PARTE DELE)
Minha mãe era russa. Meu pai também. Eu nunca duvidei disso. E por que duvidaria? Acontece que, quando ela morreu, eu, meu irmão e minha irmã tivemos que pegar os documentos dela, que ficavam guardados numa escrivaninha trancada a sete chaves. Eu nunca tinha visto esses documentos. Entre fotos antigas de gente que nenhum de nós três conhecia, estava o passaporte com o qual Fryda Bojarska, seu nome de solteira, tinha entrado no Brasil em 1934. Polonesa!
Como era possível isso? Grodno, a cidade natal dela, fica bem perto da fronteira entre a Bielorrússia e a Polônia. A cada guerra a fronteira mudava de lugar e ora a cidade pertencia a um país ou outro. Hoje, ela faz parte da Bielorrússia.
Parece que minha tinha muito orgulho de sua nacionalidade. Eu digo ‘parece’, porque minha mãe quase nunca falava sobre seu passado e é por isso que eu sei tão pouco sobre sua vida.
- Mãe, eu reclamava, a senhora nunca conta nada sobre seus pais, seus irmãos...
- Não olha pra trás, dizia ela. Olha pra frente, olha pros seus filhos, não pros seus avós.
Uma vez ela disse que ‘sabia falar russo sem nenhum sotaque.’
- É claro, eu respondi. A senhora é russa.
Ela apenas sorriu e não disse mais nada.
De qualquer forma, russa, bielorrussa ou polonesa, minha mãe nunca aprendeu a falar português direito. Um dia, ela disse:
- Pega o caderninho de telefone e liga para o encanador. Tem um vazamento no tanque.
Eu peguei o caderninho e fui, é claro, olhar na letra E. O telefone do encanador não estava lá. Olhei então a letra I, de “incanador”. Nada.
- Mãe, não achei o telefone. Será que a senhora não pôs o número na letra do nome dele? Como ele se chama?
- É o seu Constantino. Lembra dele? Ele morou na nossa rua durante muitos anos.  
Olhei o caderninho de novo. Na letra C, não aparecia o seu Constantino.
- Mãe, não sei onde a senhora anotou o número do encanador.
- Me dá o caderno.
Ela folheou rapidamente o caderninho e me mostrou.
- Tá aqui, ó, bem no começo da página.

Eu olhei. E estava mesmo. No comecinho da página K. Kanador.
PENSAMENTOS

1.   Esperança: A Presidente reconheceu que em 2015 o país enfrentará enormes desafios econômicos, em decorrência da herança maldita deixada pelo governo anterior, mas acredita que o povo brasileiro, unido, saberá pagar o pato.

2.   Escândalo: Diante das revelações estarrecedoras a respeito da Petrobras, não interessa o que a Dilma vai dizer, mas sim o que o João Santana vai mandá-la dizer.


3.   Galileu: A Dilma não sabia. O Lula não sabia. A Graça não sabia. O Mantega não sabia. Ninguém sabia. Eppur si muove.

sábado, 15 de novembro de 2014

CONTA OUTRA, VÓ

1.    Era uma vez um orangotango argentino que sabia a letra de Adiós Muchachos inteirinha.

2.    Era uma vez uma pomba da paz que levou um tiro bem no meio da testa, se é que pomba tem testa. Aquela tinha.


3.    Era uma vez uma baleia chamada Moby Dick. Não sei o que aconteceu com ela porque não li o livro.
PENSAMENTOS

1 Lema: Venha para Brasília, terra da oportunidade. E lembre-se: a oportunidade faz o ladrão.

   Muita calma nessa hora: Se bebeu, dirigiu, atropelou e matou, calma! Não se desespere: uma multinha vagabunda resolve o problema e não precisa nem molhar a mão do guarda.

   Diálogo conjugal:

- Afinal, você é um homem ou um rato? ela perguntou, furiosa.

- Homem, ele respondeu, balançando o rabinho.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

TEMPOS DE ESCOLA

DE COMO OS ALUNOS MORRERAM DE VERGONHA

Durante uns dez ou doze anos eu tive a sorte e o privilégio de, no mês de julho, levar grupos de alunos para fazer um curso de férias na Inglaterra. Numa dessas vezes, logo no primeiro dia de aula, eu conduzi os meninos até a escola e antes que as aulas começassem, uma professora inglesa me apresentou, numa salinha atrás do banheiro, a outra professora. Era uma brasileira.
- Não pode, - disse eu. Como eu vou justificar para os pais desses alunos que eles pagaram uma viagem cara para os seus filhos estudarem inglês com uma professora brasileira? Para quê vir para cá, então? Além disso, os alunos vão perceber o sotaque.
- Acho que não, - disse a moça. Eu já estou aqui há onze anos, casei-me com um inglês e tenho dois filhos que nasceram aqui. Em casa a gente só fala inglês.
- Desculpe, Patrícia, mas dá para perceber um leve sotaque, que a gente nunca perde. Minha mãe morou no Brasil durante cinquenta anos e até o fim da vida falava maçá em vez de maçã. E tem mais: não me leve a mal, você não tem cara de inglesa. Seu cabelo é moreno, sua pele é...
- Como nós vamos fazer? – perguntou a inglesa. Não há outro professor disponível.
- Só se a gente disser que ela é, digamos, russa, ou búlgara. Isso explicaria o sotaque, o cabelo etc.
- Combinado.
Os alunos foram então avisados que teriam aulas com a Helen, inglesa de Bristol, e a ‘Olenka’, russa de São Petersburgo.
Aí as aulas começaram.
Acontece que os alunos não foram com a cara da russa. E começaram a fazer piadinhas com a professora.
- Olha a sandália dela. Em que feira será que ela comprou isso?
- Mas ela não lava o cabelo?
- Quem teria coragem de usar uma saia dessas? Que horror!
E a todos os insultos a ‘Olenka’ respondia com um sorriso, sem jamais se trair e tratando todo mundo da maneira mais educada possível.
Eu ainda tentava controlar a situação, dizendo aos alunos para não falar português em aula. Além de ser contraproducente, era uma falta de educação, pois as professoras não entendiam português. Mas qual o quê! Os meninos, principalmente as meninas, não davam trégua à pobre ‘Olenka’. As piadinhas continuavam as mesmas, mas as gargalhadas iam aumentando a cada dia.
Aí chegou o fim do curso. Eu programei – tal como fazia todo ano – uma festa de despedida. Fiz uma reserva para trinta e poucas pessoas numa pizzaria e lá fomos nós. No fim das pizzas, eu me levantei e fiz um pequeno discurso, agradecendo as professoras. Em seguida, a Helen também se levantou e deu os parabéns aos alunos pelo progresso que tinham feito nas aulas.
Chegou a vez da ‘Olenka’. Bem calmamente, ela começou a falar - em inglês, obviamente – agradecendo aos alunos pelo seu comportamento durante as aulas e pela participação nas atividades e, sem fazer nenhuma pausa, emendou o discurso falando em português fluente e terminando com:
- E olha aqui, gente, eu me chamo Patrícia, não Olenka.
Os alunos todos se voltaram para mim, apavorados.
- Você sabia? Você sabia?
Uma gordinha estava desesperada. Ela era uma das mais cruéis nos comentários.
- Sabia, respondi com um sorriso sádico.
- Pô, professor, sacanagem.
- Lembra quantas vezes eu disse para vocês não falarem português em aula?
Aí aos poucos os alunos lentamente foram se levantando e formando uma fila diante da Patrícia. Todos pedindo desculpas, “não leve a mal, ein, fessora”, “foi sem querer, Olenka, quer dizer, Patrícia, juro”

Grande ‘Olenka’!
TEMPOS DE ESCOLA

DE COMO A CLASSE SE REVOLTOU E EU AJUDEI
Quando eu estava no 3º ano do Clássico, minha classe se revoltou contra o professor de História.  Na primeira sabatina que fiz dois anos antes,  – a gente chamava a prova de sabatina – eu tirei 4,0. Era a primeira vez que eu tirava uma nota vermelha. Daquele dia em diante, eu jurei que nunca mais aquele professor ia me dar uma nota baixa. Aí eu comecei a anotar tudo, absolutamente tudo, que o homem dizia em aula. Ele não adotava nenhum livro, e aula era totalmente expositiva: ele falava o tempo todo e a gente se limitava a ouvir. A ouvir e, no meu caso, anotar. Meus colegas diziam que se ele espirrasse, haveria um atchim nos meus cadernos. Além disso, comprei os dois volumes da História da Civilização Ocidental, de Edward Burns, e para as sabatinas, eu estudava comparando o que o cara dizia com o que o livro registrava.
Pois bem. No 3º colegial, a classe se rebelou.
Eu e alguns amigos passamos horas decidindo o que dizer ao diretor. Depois de muita discussão, chegamos a um resumo indestrutível:
1.    1. ele não sabia História. Tínhamos provas, todas registradas, com data, nos meus cadernos. Era só confrontar o que ele tinha dito em aula com os livros do Burns;
2.   2.  ele cometia erros crassos de Português, coisas como “houveram ocasiões em que...”, “ele disse para mim fazer...” Estava tudo nos meus cadernos.
3.    3. ele não tinha didática. Humilhava os alunos, de vez em quando. Exemplo: pediu para uma aluna escrever o nome do Papa Pio XII na lousa e ela errou. Escreveu Eugenio Paceli. com um L só. Fazendo ironia, ele foi até o quadro-negro e corrigiu, escrevendo Eugenio Pacceli, com dois Cs e um L Está errado também: o certo é Eugenio Pacelli.  
O diretor foi até a nossa sala durante uma aula de História. Vários alunos se manifestaram, na cara do professor, apresentando cada um seus argumentos. Se vocês pudessem ver a expressão do homem... Pálido, lívido, morto.
A coisa estava indo bem para o nosso lado. O diretor nos ouvia e acho até que assentia levemente com a cabeça. Mas aí o Avallone, esse mesmo Roberto Avallone que hoje é comentarista esportivo, falou mais ou menos seguinte:
- E tem mais: o nível das aulas dele é tão baixo que se pode comparar com os livros do Joaquim Silva.
Nisso, o diretor avançou até a carteira do Avallone (nós pensamos que ele ia dar um tapa na cara do rapaz), apontou o dedo trêmulo para ele e berrou, literalmente berrou:
- Deite-se quando falar o nome de Joaquim Silva!
O diretor se chamava Ariovaldo Silva e era o filho de Joaquim Silva, o autor de um dos mais populares livros de História do Brasil nos anos 40 e 50.

O sinal bateu, o diretor e o professor se retiraram, conversando baixinho. Nós ficamos com cara de besta, sem saber direito o que tinha acontecido. Mas uma coisa é certa: daquele dia até o fim do ano, ninguém mais tirou nota baixa nas sabatinas.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

PENSAMENTOS

    277. Conto do vigário: Fechadas as urnas, contados os votos, são anunciados os aumentos da taxa básica de juros, da gasolina, do desmatamento na Amazônia e do índice de pobreza. O governo já pode cantar: “Enganei um bobo, na casca do ovo”

 278. Justiça: A Justiça brasileira faz todo o possível para que não haja justiça neste país.


     279. Amor à primeira vista: Assim que a viu, ficou achadamente apaixonado.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

CONTA OUTRA, VÓ

41.    Era uma vez um mamute que fez quimioterapia e perdeu todos os pelos. Hoje ele é chamado de elefante, mas não gosta.

42.    Era uma vez uma ostra que foi aconselhada a fazer terapia de grupo. Ela era muito fechada.


43.    Era uma vez uma cegonha que não entregava bebês. Claro que não. Você ainda acredita nisso?

domingo, 9 de novembro de 2014

CONTA OUTRA, VÓ

37.    Era uma vez um mico-leão-prateado que não existe mais. Era o último de uma espécie em extinção.

38.    Era uma vez um Gato de Chinelos de Dedo, primo pobre do Gato de Botas.

39.    Era uma vez um rato que roeu a roupa do Rei de Roma. Quando o rei reparou no rombo do seu roupão, rugiu de raiva, enquanto todos os romanos riam. “Riso, vá lá”, rosnou ele. “O que eu não tolero é aliteração.”


40.    Era uma vez um suíno da raça Yorkshire que, apesar disso, era um verdadeiro espírito de porco. 

sábado, 8 de novembro de 2014

PENSAMENTOS

 275.   Tipos: Sete são os tipos de ministros: vagabundos, incompetentes, corruptos, vagabundos-incompetentes, incompetentes-corruptos, vagabundos-corruptos e tudo junto e misturado.

1  276. Maria Antonieta, pouco antes de ser guilhotinada: “Mas só porque eu falei para eles comerem brioche?”

1  277. Caymmi: “É doce morrer no mar”, cantavam os passageiros do Titanic, “nas ondas verdes do mar.”

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

PENSAMENTOS 

272. A justiça é cega: Os constantes erros no linchamento de inocentes vão acabar desprestigiando completamente o instituto da justiça pelas próprias mãos.

     273. Walt Disney: “A bruxa anda solta”, disse Branca de Neve a Zangado, depois do oitavo espirro do anãozinho enfezado. “Peguei do Atchim”, ele explicou.

1  274. Egito: Dizem que a Pirâmide de Queops tem cerca de 3 milhões de blocos de pedras, cada um pesando entre 2 e 60 toneladas cada, e foi construída há 5.000 anos num período aproximado de 20 anos. Isso é humanamente impossível. Donde se conclui que essa pirâmide não existe. As outras duas, pode ser.